segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

As cores das flores

Partilho com você esta descoberta: um vídeo de 4 minutos, que tenho utilizado em diversos momentos para suscitar reflexão com educadores e agentes de evangelização. Hoje, foi em torno do tema "Gestão e Espiritualidade".
Tão importante quanto participar da emoção do vídeo é ampliar o nosso leque de leitura sobre a realidade e as possibilidades humanas de abrir caminhos inusitados.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Saúde pública e ecologia

Partilho com você os eslaides da apresentação que fiz para educadores, em torno do tema da Campanha da Fraternidade deste ano, relacionado com a ecologia.






quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Gestão profissional e qualidade das relações

Este artigo guarda os traços originais de uma conferência temática, com ampla participação do público. Mantivemos algo de seu estilo informal, inclusive utilizando a primeira pessoa do plural (“nós”), mas aprimoramos os dados. Nosso tema é ‘Gestão e Relações Profissionais’. Inicialmente, vamos definir essas duas realidades e relacioná-las com a escola. No correr do seu desenvolvimento, mostraremos seus pontos de contato. Evitamos o uso do termo “profissionalismo”, pois para alguns autores o sufixo “ismo” denota um desvio ou polarização problemática. Substituiu-se por “senso profissional” ou “perspectiva profissional”.


De forma geral, podemos conceituar gestão como: “Competência para trabalhar com dados e informações, coordenar processos e liderar pessoas, em vista de resultados, a fim de realizar com eficácia a missão de uma Instituição ou grupo organizado”. O tema da gestão se tornou importante na sociedade contemporânea porque hoje se valorizam os resultados, em qualquer âmbito da existência, seja pessoal, coletiva ou institucional. Gestão visa resultados, sobretudo em organizações profissionais. Ora, o que caracteriza uma instituição profissional?

1. Prestação de serviços e perspectiva profissional
Há uma mentalidade comum em instituições religiosas e educacionais, segunda a qual a perspectiva “profissional” seria algo frio e desumano. Ora, tal idéia é uma meia verdade. O que caracteriza uma instituição profissional não é o fato de ela ser inflexível com as pessoas ou visar somente lucro. As empresas comerciais, aquelas que mais desenvolveram o senso de organização, são apenas um tipo de organização profissional da sociedade. Instituições educacionais públicas ou privadas, hospitais, ONGs (Organizações não Governamentais), associações populares, cooperativas, empreendimentos de socioeconomia solidária e instituições religiosas necessitam também de senso profissional, embora em distintos graus.
Muitas instituições de religiosos(as), como as escolas católicas, são também prestadoras de serviços e estão no mercado. Embora pela legislação de alguns países, sejam classificadas como “filantrópicas” e gozem de certos benefícios fiscais, não escapam de uma relação comercial básica. Ou seja, vendem um serviço. Uma escola privada presta serviços educativos, um hospital privado oferece serviços na área da saúde. Ambos precisam de resultados superavitários, para assegurar sua continuidade. Não visam lucro, mas necessitam se profissionalizar para garantir o equilíbrio econômico-financeiro, visando novos investimentos em pessoas, tecnologia e patrimônio.

Uma escola privada apresenta características comuns a qualquer prestadora de serviços: assume um posicionamento no mercado, tem fornecedores e clientes (ou público alvo), necessita de uma equipe qualificada de gestores e colaboradores e enfrenta o desafio dos concorrentes. Para realizar sua finalidade, contrata uma série de profissionais e contrai obrigações trabalhistas e sociais com eles.
Felizmente, várias instituições religiosas destinam uma parte significativa de pessoas e de recursos para atender também aos empobrecidos. Para isso, servem-se de um percentual de seu resultado econômico, ou ainda estabelecem parcerias. Mesmo nestes casos, embora possam contar com voluntários generosos, necessitam também de profissionais competentes no seu quadro permanente. Na sociedade atual, a crescente profissionalização das instituições é um fenômeno irreversível, ao mesmo tempo em que cresce a experiência do voluntariado. Também de voluntários se exige hoje mais do que boa vontade. Eles têm que desenvolver várias aptidões básicas para o trabalho que desempenham.

2. O que é uma instituição profissional
Dentre as muitas características de uma instituição profissional destacamos aqui as seguintes: pensamento estratégico, resultados complexos, qualidade e foco, qualificação. Vejamos brevemente cada uma.
a) Pensamento estratégico. O exercício do pensamento estratégico comporta um longo caminho, que se inicia com a definição consensual a respeito da missão da instituição, dos valores que a regem e do que ela deseja conquistar num prazo determinado (visão de futuro). A seguir, estabelecem-se as estratégias e a iniciativas que farão a mediação entre o sonho e a realização. Por fim, nomeiam-se as pessoas responsáveis e definem-se os indicadores para avaliação. Mas este caminho da elaborar um plano estratégico pode também ser meramente funcional, se faltar a conexão com a realidade. Conheço vários planos “pseudo-estratégicos” bem formulados, bonitos, bem formatados, mas pouco ousados. Não é um instrumento para a luta aguerrida, e sim um belo enfeite de estande. Sabemos que “estratégia” é um termo proveniente da arte da guerra. Um plano estratégico é arrojado, criativo. Desperta as pessoas para moverem-se e buscarem resultados efetivos.

Ser estratégico postula uma ampla visão de sociedade, para compreender onde a instituição está inserida e como responde ou não às oportunidades e ameaças do cenário atual, em relação aos seus destinatários e à sua missão. Quando a estratégia começa a ser esmiuçada, vem com ela o gerenciamento, a liderança nos processos e o monitoramento. Contrapõe-se à visão estratégica:
- o imediatismo (agir pensando somente em curto prazo),
- a anarquia (não ter princípios de ação),
- a reatividade (reage-se diante dos problemas, em vez de se antecipar a eles),
- a simples repetição de práticas.

No caso de uma escola católica, a visão estratégica se torna com o tempo uma habilidade básica desenvolvida por todos seus membros: gestores, professores e demais profissionais. É mais do que um plano. Constantemente, a escola faz leituras de cenário, pesquisa, procura compreender o que está acontecendo com o núcleo familiar, as crianças e os adolescentes. Está atenta às mudanças culturais, às novas linguagens, às tendências de “design”, às ondas de religiosidade. Tudo isso se desenvolve em vista de educar e evangelizar de forma contemporânea.
Estratégia numa escola católica vai bem além de belas palavras e de reuniões. Não se limita ao planejamento pedagógico da escola ou à definição de seu quadro de missão. É uma forma de estar permanentemente conectado(a) com o mundo e procurar responder a ele pela educação. Viver o presente intensamente, antecipando-se ao futuro. Arriscar, testar, pensar sobre a prática, aprender dos acertos e erros. Neste sentido, ser estratégico é estar numa constante luta para assegurar o melhor para a educação e os educandos. Mas, sem neurose...

b) Resultados complexos. As organizações complexas buscam resultados múltiplos, que estão relacionados ao tipo de iniciativa que as caracteriza, seu foco e os destinatários (ou interlocutores, ou clientes, se for o caso). Em uma escola católica, bons resultados significam uma série de conquistas para o aluno, tais como: desenvolvimento de competências cognitivas estruturantes, apropriação e reelaboração de conhecimentos, vivência e explicitação de valores, aprender a conviver com os outros, bons resultados no ENEM, entrada na Universidade, etc.

A escola católica é uma instituição complexa não somente porque é difícil de lidar. Complexidade aqui não é sinônimo de dificuldade. A escola caracteriza-se como complexa porque apresenta muitas facetas diferentes, por vezes em conflito, mas interdependentes. Nenhuma delas, sozinha, definem-na completamente. A escola católica é simultaneamente: instituição educacional, espaço de evangelização, laboratório de cidadania planetária e negócio.
- Enquanto Instituição educacional, propicia a apropriação e a reelaboração do conhecimento, produz e dissemina cultura, socializa as novas gerações, vive e explicita valores e prepara para a entrada para o ensino superior.
- Como espaço de evangelização, forma lideranças de cristãos, que atuarão na comunidade eclesial e na sociedade. A escola católica, mesmo que assuma a perspectiva plural do ensino religioso, deve oferecer ocasiões e suscitar processos (não somente eventos isolados) para que estudantes e educadores conheçam e experimentem a fé cristã, com uma maneira atraente e bela de ser-com-os-outros-no-mundo (parafraseando o filósofo alemão Heidegger) a partir da pessoa e da mensagem de Jesus.
- Ao se colocar como formadora de cidadãos, a escola assume sua responsabilidade em colaborar efetivamente para desenvolver nas novas gerações uma visão humanista, socialmente includente e ecologicamente sustentável.
- Enquanto negócio, presta serviços educacionais para determinada clientela e garante sua continuidade com os resultados econômicos aferidos desta operação.
Compreender a Escola Católica na perspectiva da complexidade é dar conta de desenvolver, de forma simultânea e interdependente, estas dimensões acima citadas: instituição educacional, espaço de evangelização, oficina de cidadania e negócio. Trata-se de muitos ângulos de uma mesma face.

c) Qualidade e foco. Cada vez mais as pessoas exigem produtos e serviços de qualidade. E a forma personalizada de fazê-los está se tornando um grande diferencial nas organizações. Qualidade em educação significa, entre outras coisas, avançar sempre mais, fazer conexões crescentes das experiências vitais dos alunos com os dados, as informações e os conceitos; aumentar a capacidade comunicativa oral e escrita, desenvolver a análise e a síntese, conviver em grupo em espírito de colaboração, desenvolver atitudes de consumo consciente, etc.... Basta partipar de congressos e simpósios em educação, percorrer os PCNs, ler os projetos político-pedagógicos das instituições, refletir sobre os documentos dos Institutos religiosos, e daí se retiram elementos que podem balizar os indicadores de qualidade na educação.
A qualidade também está relacionada com o foco. Uma organização profissional existe para oferecer um benefício, reconhecido como tal pelo seu público-alvo (ou interlocutor, ou cliente), através de um produto ou de um serviço. Quando isso não acontece, o senso profissional dá lugar ao corporativismo. Ou seja, vêem-se somente os interesses de pessoas e grupos e se lutam por eles. Este tem sido, em todo mundo, o grande problema das organizações governamentais e de algumas ONGS. Neste caso, políticos, funcionários públicos e de organizações não estão com o foco voltado para a população, mas para si próprios. Ora, o corporativismo é a perversão da finalidade da instituição. Somente o foco no público-alvo, em suas necessidades e demandas, põe nos trilhos uma instituição. A escola, como qualquer outra instituição, deve continuamente corrigir as tendências desviantes de corporativismo de seus profissionais, sejam professores ou gestores.

Outro problema comum em instituições religiosas, que impede a busca de qualidade, é autoritarismo dos gestores e o correspondente servilismo dos colaboradores. Numa lógica perversa, onde reina a mediocridade, as pessoas “fazem de conta” que trabalham bem, visando agradar a autoridade. Mascaram resultados, cultivam a aparência, não assumem os erros e fracassos e transportam a responsabilidade para outros.
Poderíamos dizer que na escola, o foco não está tanto em dominar conhecimentos, e sim na relação do aprendiz com o saber, mediatizado pelo professor(a), num ambiente comunitário (e não somente gregário) com seus colegas. Almeja-se que eles aprendam a conhecer, a ser e a conviver. Para isso, às vezes é necessário até por limites às pretensões descabidas dos pais ou outros familiares, que desejam interferir na escola para fazer valer interesses distantes do foco da aprendizagem e do aprendiz.

d) Formação das pessoas. Com as exigências crescentes na sociedade, as instituições necessitam de pessoas que sejam cada vez mais competentes naquilo que realizam. Dependendo do tipo de atividade, há profissionais generalistas e especialistas. O perfil desejado depende sobretudo da missão da organização e do seu posicionamento na sociedade. ONGs ambientalistas, por exemplo, buscarão profissionais que compreendam de forma articulada e crítica o que está acontecendo no nosso planeta e mobilizem pessoas em vista do mundo ecologicamente sustentável. O mesmo acontece com a escola. O perfil dos profissionais deve estar alinhado com sua proposta pedagógico-pastoral, com a visão estratégica. Somente com profissionais qualificados se alcançam resultados satisfatórios.

A qualificação não é algo definitivo e acabado. Como já sinalizamos, o bom profissional está conectado com o mundo; seu olhar está voltado sobretudo ao seu público-alvo, no sentido de compreendê-lo mais e melhor, nos cambiantes cenários culturais. Ele(a) busca se atualizar com leituras, cursos e estimulantes experiências de vida. A instituição também deve investir no profissional, oferecendo-lhe oportunidades de aprimorar seus conhecimentos, ter acesso às novas tecnologias, novos métodos e processos eficazes. Mais ainda, a organização como um todo está em processo de aprendizagem. Reedita práticas e reelabora conhecimentos, a partir de conquistas próprias e dos outros. Ela se torna uma “comunidade aprendente”, que é a base dos processos de inovação. Este princípio, tão difundido nas empresas que estão em destaque no mercado, vale muito mais para a escola. É preciso transformar muitas “comunidades escolares”, com seu vícios e anacronismos pedagógicos, em comunidades aprendentes.
Ao avaliar uma atividade ou um processo, uma instituição profissional reconhece o mérito das pessoas que alcançam os resultados almejados e as recompensa por isso. Em contrapartida, adverte e por vezes pune aqueles que não cumpriram seus compromissos, nem alcançaram resultados satisfatórios. No caso da escola, isso deveria valer para todos: os aluno(a), os professores(as) e os gestores, pois a educação não é um produto que se vende, mas sim um processo que se constrói com muitos protagonistas.

3. Gestão profissional da mudança
No meu livro “Gestão e Espiritualidade” (Paulinas, 2009, 3ed), apresentei alguns pilares da gestão profissional, sobretudo no capítulo 1. Destaco aqui um deles, que me parece fundamental para as instituições de ensino católicas, dentro do tema que estamos abordando. Trata-se de uma forma profissional e estratégica de realizar a gestão da mudança. Tomo a liberdade de transcrever alguns parágrafos aqui.

Segundo Peter Drucker, qualquer instituição tradicional é concebida para a continuidade. Assim acontece com a escola. Mas, em períodos de rápidas mudanças estruturais, os únicos que sobrevivem são os líderes de mudanças. Uma política de mudança contempla três aspectos: abandonar o ontem, promover um aperfeiçoamento organizado e explorar o sucesso.
O primeiro aspecto significa liberar recursos, deixando de comprometê-los com a manutenção daquilo que não mais contribui para o desempenho da organização, nem produz resultado. Quando um serviço ou processo velho e declinante está levando a negligenciar o novo, ele deve ser abandonado. Por que as organizações religiosas têm tanta dificuldade em abandonar aquilo que dá mostras de decadência ou já perdeu grande parte de seu sentido original? Drucker argumenta que “Elas têm a tendência de considerar tudo aquilo que fazem como justo, ético e a serviço de uma causa”. Então, são mais resistentes à mudança.

O abandono assume distintas formas. Pode-se até continuar a fazer o mesmo, de maneira diferente. Tão importante quanto abandonar é saber agir sobre o abandono. O líder da mudança deve perguntar a respeito de cada serviço ou processo: “Se fôssemos entrar nisso agora, sabendo o que sabemos, faríamos o que estamos fazendo agora?” O que abandonar e como efetivá-lo precisam ser praticados de forma sistemática. Já o aperfeiçoamento organizado envolve produtos e serviços, processos de produção, “marketing”, assistência técnica, treinamento e desenvolvimento de pessoal e uso de informações. O aperfeiçoamento contínuo leva a mudanças fundamentais, pois cria as condições para perceber e abraçar o novo.
Exploração do sucesso significa dar ênfase às conquistas e às oportunidades e não ficar mergulhado em problemas. E também alocar as pessoas mais capazes nos lugares de melhores possibilidades. Trata-se de valorizar os próprios sucessos e construir sobre eles. Dar passos pequenos e consistentes, um após o outro, sobre as realizações e projetos bem sucedidos. Esse procedimento conduz, cedo ou tarde, a uma inovação genuína.

A política de mudança proposta por Drucker vale para a escola católica. O passo mais difícil para as instituições tradicionais consiste em “abandonar o ontem”. Alguns colégios confessionais hoje são inviáveis, por diversos motivos. Há cidades do interior, onde já não há um público que requer esse tipo escola e esteja disposta a pagar por ela. Existem também escolas de capital que estão localizadas em local inadequado, longe de sua clientela potencial. Mas, por força da inércia, por amor à tradição, por apego ao patrimônio tangível, não se abandona o ontem. Então, os recursos financeiros e as energias são canalizados para aquilo que está no caminho da morte. Algumas organizações irão morrer junto com suas obras agonizantes se não abandonarem o ontem. O mesmo se diz dos seus métodos pedagógicos e da própria concepção de ensinar e aprender. Manter a todo o custo o ontem, em nome de uma tradição que dá segurança, é caminhar lentamente para a morte. O antídoto é a política articulada de mudança. Nela, o ontem também tem lugar, mas não exclusivamente.

4. Amadorismo e senso profissional
O senso profissional pode estar a serviço de causas maravilhosas ou de objetivos questionáveis. Muitas empresas, ditas comerciais ou de mercado, utilizam o profissionalismo somente para visar o lucro e concentrar a riqueza em poucas mãos. Costumam estabelecer metas demasiadamente exigentes, regidas pela lei selvagem da concorrência de mercado. Isso leva seus profissionais ao estresse e à doença, por não alcançar o que se estabeleceu.
O senso profissional não é ruim. Ele marca uma conquista da humanidade no campo do trabalho. Significa a superação do amadorismo. E as instituições religiosas estão infestadas deste mal. Amadorismo significa conduzir uma organização sem metas claras e desafios a alcançar, simplesmente repetindo, ano após o ano, o que se fez no passado. Amadorismo consiste em contratar e manter pessoas na organização considerando somente suas presumíveis “boas intenções” e não levando em conta seu histórico profissional, o perfil desejado e uma análise de suas possíveis competências. Amadorismo é manter pessoas por anos a fio, sem avaliação de desempenho com critérios claros. Ignorar os resultados que elas demonstram efetivamente. Uma organização amadorista encara o fracasso e as crises como tragédia ou com passividade. Não reflete sobre o fato e nem aprende com ele. Evita identificar os responsáveis pelos erros cometidos, especialmente quando são pessoas próximas ao círculo do poder.

Em instituições religiosas amadoras, as necessárias mudanças podem sempre esperar um pouco mais, pois paciência se confunde com complacência. Medo e falta de ousadia são batizados como prudência. O corporativismo se desenvolve facilmente. Seus funcionários, especialmente as chefias, tendem a trabalhar de garantir a estabilidade no emprego, e não com o foco nos seus interlocutores, destinatários ou clientes. O corporativismo se reveste do manto hipócrita de pietismo. Funcionários incompetentes, que apresentam péssimos resultados, assumem a face de “católicos piedosos” e devotos do fundador(a), pois sabem que isso agrada aos religiosos.
Nas décadas de 70 e 80 muitos institutos deixaram parte significativa de suas “obras”, como escolas e hospitais, para se voltar aos pobres. Conscientemente abandonaram espaços conquistados em vista de uma opção mais radical, no bom sentido. E tal opção possibilitou o desenvolvimento de milhares de lideranças populares leigas, que atualmente atuam na Igreja e na sociedade. Hoje, um outro contingente de religiosos fecha suas instituições, não por opção heróica, mas sim devido ao envelhecimento dos quadros, redução numérica e pouco senso profissional.

A título de conclusão: senso profissional e carisma
Qual a contribuição dos consagrados, se querem manter algumas de suas iniciativas formais, por acreditar que elas expressam o carisma? Em primeiro lugar, superar o amadorismo e seu discurso ideológico e perverso, o que está levando as instituições à morte lenta e gradual. A gestão profissional é necessária para garantir a continuidade das organizações. Ela fundamenta a relação honesta e transparente com os colaboradores leigos. Mas por si só é insuficiente. Algumas instituições religiosas podem ter sucesso e serem infiéis ao Espírito. Não é qualquer proposta de gestão profissional que se coaduna com os carismas congregacionais.

A experiência do seguimento de Jesus, traduzida em espiritualidade encarnada e visão lúcida da realidade, postula “algo mais”. Como já mostramos acima, a instituição contempla resultados múltiplos e simultâneos. A escola católica visa evangelizar, educar, satisfazer seus destinatários, formar cidadãos, manter equilíbrio econômico-financeiro, ter uma boa imagem e contribuir efetivamente para uma sociedade sustentável e solidário. Além disso, a fé cristã leva-a a desabsolutizar os conceitos de sucesso, fama, imagem e eficácia. Deve-se fazer o melhor, mas com a consciência e a humildade de que “se não é Senhor que constrói a casa, é inútil o trabalho dos construtores e pedreiros” (Sl 127,1).
Uma instituição religiosa de prestação de serviços muitas vezes é jogada no circo romano do mercado competitivo, onde se degladiam feras vorazes. Mesmo que ela tenha que estar na luta, não fará do sucesso sua razão de ser. Nem utilizará todos os artifícios para vencer a concorrência. Se o “o tesouro e seu coração” estiverem no sucesso, no poder e no dinheiro, ela perderá a fidelidade ao evangelho. Será uma empresa a mais no mercado, mesmo que veicule uma marca religiosa.

Acreditamos que as relações profissionais são fundamentais numa escola católica. Elas criam as condições para desenvolver o pensamento estratégico, melhorar a qualidade de ensino, superar rotinas e estimular a inovação. Ao mesmo tempo, sustentamos que as relações profissionais num espaço confessional deve ser marcada por um diferencial, que provém de sua identidade cristã e do carisma congregacional. Este traço original não se confunde com amadorismo. Trata-se de uma “mais”, que se origina dos nossos valores, da nossa forma de considerar a existência e o trabalho, a partir da figura de Jesus. O senso profissional não é negado, e sim transfigurado.

Afonso Murad.