domingo, 11 de novembro de 2012

Brilhe a vossa luz! Evangelização e mídia

O verbo “brilhar”, com a ambiguidade que ele comporta, é um dos mais significativos termos da cultura contemporânea. De forma literal, brilhar significa fazer com que a luz estimule nossos sentidos. A luz intensa realça as cores. Um shopping é projetado com luz amarela ou branca intensa, a fim de estimular a visão e suscitar o desejo de consumo. É uma luz que não conhece diferença de intensidade. Seja dia ou noite, no shopping há sempre muita luz. De forma metafórica, “brilhar” significa ter sucesso, destacar-se dos outros, de forma a se tornar até uma celebridade. Ora, a Internet e as redes sociais tem servido para fazer as pessoas brilharem. Um clip original se espalha rapidamente, e milhões de pessoas o assistem. Há gente que coleciona “amigos” no facebook ou no orkut, sem nenhum critério, simplesmente pelo desejo de ser visto ou lembrado. Este não é o critério de Jesus.

Jesus diz que seus seguidores devem fazer ecoar a boa notícia do Evangelho, a começar das atitudes e ações que fazem a diferença (as boas obras). Brilhar não significa voltar os holofotes para si, mas direcionar a luz, para que as pessoas vejam. Não consiste em “mostrar-se”, e sim em apontar para algo e Alguém que é a razão de ser da nossa existência. Aqui reside a diferença fundamental entre a “visibilidade midiática” e a “visibilidade profética”. No primeiro caso, o indivíduo ou a instituição aparece porque deseja “aparecer”. A mensagem consiste em anunciar a si mesmo, a sua marca, a sua logo. E para ganhar projeção desta forma, é necessário moldar o discurso e a prática, de forma que se tornem atraentes, desejáveis, consumíveis. Infelizmente, algumas manifestações de massa das Igrejas cristãs estão revestidas dessa intencionalidade medíocre e egóica. “Olhem para mim. Eu estou aqui!”. A visibilidade somente midiática visa conquistar espaço, deixar sua marca. Mas, para que? A serviço de qual projeto de humanidade?

A visibilidade profética, por sua vez, está focada no sinal que aponta para a mensagem. Basta percorrer as figuras bíblicas de profetas como Isaías, Jeremias, Oséias e Ezequiel. Eles usam símbolos fortes. Deixam-se ver pela multidão. Falam a alta voz. Brilham! Mas o brilho não é para si, e sim para a causa que defendem. Reúnem muitas pessoas, mas também são causa de contradição, pois o conteúdo da mensagem profética não se reduz a apaziguar as consciências. Ao mesmo tempo, e com diferente intensidade, anunciam e denunciam, questionam e consolam, desinstalam e suscitam esperança.
Em continuidade com os profetas, assim também fez Jesus. Ele é causa de contradição, que ergue e derruba. A luz que manifesta e revela o que as aparências escondem (Lc 1,34-35). As palavras e os gestos de Jesus iluminam a existência humana, desvelando seu lado luminoso e sua face tenebrosa. Deus enviou o seu Filho ao mundo não para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo. O julgamento é este: a luz veio ao mundo... Quem pratica o mal tem ódio da luz, para que as suas obras não sejam desmascaradas. Mas quem age segundo a verdade, se aproxima da luz, para que se manifeste que suas obras são feitas em Deus (Jo 3,19-21). O povo reconhece Jesus como um profeta extraordinário, que fala em nome de Deus, com gestos e palavras: Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar seu povo (Lc 7,16).

A participação de cristãos e de pastorais nas redes sociais (e em outros espaços da internet) pode contribuir para que esta luz de Jesus, que brilha nos seus seguidores, favoreça uma grande corrente do Bem. Efetivamente nos sentimos conectados, sintonizados. Ali se expressam desejos, esperanças, experiências significativas. Ganham visibilidade gestos pessoais e coletivos, palavras e imagens que agregam valor. Por vezes, em forma de denúncia. Outros momentos, recheados de bom humor, de encanto, de beleza. Ecoam, ressoam e se difundem.

Portanto, deve-se utilizar os espaços midiáticos possíveis, para que a mensagem do Evangelho ecoe nas pessoas, nos grupos e na sociedade. E como as redes sociais tem se mostrado uma poderosa ferramenta de comunicação, elas são bem vindas. Condição irrenunciável: manter o foco na causa e na mensagem de Jesus, em gestos e palavras libertadoras, evitando o estrelismo das pessoas ou das instituições.

Fonte: parte do artigo de Afonso Murad “Ecoar a palavra e ressoar os gestos. Leitura teológica a propósito das redes sociais” no livro Redes Digitais. Tecendo relações, construindo comunidades, exercendo cidadania. Curso de Verão – Ano XXVI. Paulus – CESEEP, pag. 90-91.