Veja como os estudantes universitários de
teologia do ISTA relacionaram o vídeo de Chimamanda (O perigo de uma história
única) com o tema das novas correntes teológicas.
(1) A grande questão
levantada pela escritora nigeriana Chimamanda é em relação ao perigo de uma
história única. Ilustra-a a partir da ideia pré-concebida no mundo Ocidental em
relação à “África”. Ela narra um fato de seus primeiros escritos, ainda na sua
infância, que eram baseados na literatura europeia a qual costumava ler e por
deveras vezes perguntava para si mesma se as pessoas como ela não poderiam
também estar nos livros, pois a sua vida em nada se comparava ao protótipo
britânico que ela reproduzia em seus textos. De maneira análoga, deve-se
perguntar: será que a teologia produzida não é nada mais que uma reprodução de
um modelo único criado no mundo europeu? Será que ela fala da vida das pessoas
que a escreve? Qual lugar ocupam os povos tradicionais, negros, mulheres,
pobres (...) nessa teologia? Neste sentido, as novas correntes teológicas e as
teologias contextuais tem servido para mais próximo à vida dessas pessoas que
muitas vezes só ocuparam os lugares periféricos (Lucas Alves Fernandes).
(2) Ao associarmos
essas novas correntes teológicas com a palestra da Adichie Chimamanda
obviamente somos levados a pensar que não existe uma única realidade ou uma
única forma de contar os fatos. E quem sem sobra de dúvidas, há uma necessidade
de cada um escrever a sua história, aqui no caso uma teologia a partir de sua
realidade, e não fazer uma imitação simplesmente de outra experiência realizada
por outro ou um povo, por isso é importante aqui falar de uma subjetividade,
palavra muito usada no mundo pós-moderno. Ao refletirmos sobre essa pluralidade
do mundo e a subjetividade do homem, somos obrigados a pensarmos também que não
há uma forma única de pensar e falar sobre o mistério. Por isso tornasse
importante falar de uma realidade que vá ao encontro pessoal. A apropriação de
um fato ou contar a história (teologia) a partir da experiência, seja ela
pessoal ou de um grupo, é um fato inegável nesse mundo plural (Edgar de Melo).
(3) Chimamanda
resgatou não somente a sua historia, mas também a historia da continente
africano. “É impossível falar sobre a história única sem falar do poder”. Claro
que a África, é um continente cheio de catástrofes. A complexidade do que ela
fala é impressionante. Detalhes tão pequenos que nem nós damos conta do impacto
que causa em sua visão geral. A valorização da historia da África deve começar
pelos próprios africanos. Chimamanda foi uma mulher muito inteligente que tinha
visão mais além de ver a sua própria realidade de que podia mudar não só
permanecer na mesma historia mas também conhecer uma outra historia. Ela vai,
além disso, a lição que ficou é que nós não devemos ter uma única versão de uma
historia, precisamos ser curiosos e buscar outros pontos de vista.
A Tecnociência
tornou-se horizonte de compreensão do ser humano em relação ao mundo e a si
próprio. Não apenas nossos estilos de vida, nosso modo de trabalhar e viver,
são condicionados pela técnica, mas também nossa identidade mais profunda.
Testemunhamos ainda o fenômeno da “mercantilização da vida” produzido pelo
mercado que vai se impondo como único cenário de nossa trama civilizacional
atual. A teologia contribua de maneira responsável ao diálogo acerca das
questões que nos ocupam nesse início de século XXI. Daí a oportunidade de se
elaborar uma teologia que seja, para todos os efeitos, intercultural: um
discurso em que o intercultural é assumido como perspectiva e método e não apenas
como objeto de estudo. (Sui D. Gomes Ossenai)
(4) O vídeo de
Chimamanda, escritora nigeriana, fornece um grande aporte para a reflexão sobre
a produção não só literária mais também cientifica e por que não, teológica,
nos denominados países de terceiro mundo. Podemos considerar isso ao relacionar
a definição de “história única” que, segundo a autora, condiciona a grande
maioria das pessoas a estereótipos que reduzem a história de um povo, um país
ou continente a meras generalizações. O grande perigo dessa história única é
sempre transmitir a ideologia da classe dominante, ocasionando uma relação de
superioridade a outras ideologias ou formas de pensar. No campo teológico isso
aconteceu por muitos períodos da história.
A teologia clássica
que transmitiu a ideologia dominante centro-europeia por muito tempo reduziu
todas as construções teológicas a uma histórica única, em que cada teólogo
deveria construir seu pensamento de acordo com as definições e parâmetros
utilizados no Velho Mundo. Contudo, assim como Chimamanda, muitos teólogos
latino-americanos, africanos e asiáticos perceberam que não possuíam uma
identificação com aquilo que produziam e até mesmo acreditavam. Perceberam que
tais escritos estavam fora do contexto em que viviam.
Chimamanda relatou que
começou a escrever, ainda criança, e suas histórias apresentavam elementos das
histórias anglo-americanas que lia, e percebeu que as mesmas não se identificam
com a sua realidade social, geográfica e até mesmo econômica. Eram costumes
diferentes. Este mesmo processo aconteceu com as correntes teológicas pós
Vaticano II que, ao buscar uma produção a partir do contexto que estavam
inseridos e sobretudo, que fosse interpretada por tal realidade, originaram as
teologias contextuais. Hoje tais teologias ainda sofrem resistência de muitos
que, alimentados com uma única história que produz estereótipos, mas continuam
a revelar quão importante é a capacidade de encontrar na cultura, nos contextos
de cada povo, os elementos que constituem a acolhida da revelação de Deus em
Jesus em tal povo, país ou continente. Assim, como os apóstolos em Pentecostes
que movidos pelo Espírito foram impelidos a motivar outros a vivenciarem tal
experiencia da revelação, e também Chimamanda que com seus romances motivou
pessoas como a carteira da Nigéria que ousou aventurar-se como possível autora
de uma trilogia em reposta a inquietações como leitora, essa deve ser um dos
principais frutos das teologias contextuais, pois motivam pessoas a produzirem
uma reflexão teológica a partir de seus contextos ao perceberem que sua
realidade também é plausível de interpretação da revelação de um Deus que
caminha com seu povo, na sua cultura (Caio Filipe de Lima Pereira).
(5) Chimamanda ao
falar sobre o perigo de uma realidade ser apresentada a partir de uma única
história, mostra que este modelo cria estereótipos e uma compreensão limitada
da realidade, não abrangente, não integrada. Relata que quando criança gostava
muito de ler, no entanto tinha mais acesso a literatura britânica e americana.
Além disso, também gostava de escrever, mas seus escritos traziam elementos que
eram presentes em suas leituras, ou seja, de outro contexto, que pouco
correspondia a sua identidade nigeriana. Em determinado momento se surpreende
com a literatura de autores africanos ao descobri tais produções. Indo estudar
nos Estados Unidos vê que muitos americanos tinham criado estereótipos do
continente africano, falavam do mesmo como um único país e de modo negativo. A
compreensão destes era de que lá apenas havia dor, sofrimento e dependência dos
países desenvolvidos. Essa descrição contada por autores estrangeiros
ocidentais, que não tem uma compreensão abrangente da realidade e cultura
africana, inferioriza a mesma e conquista o pensar dos leitores.
O seu discurso nos
ajuda a refletir também o modo de fazer teologia atualmente e a pensar sobre a
importância que estamos dando as produções que se propõem em apresentar tipos
de teologia comprometidas com nossa realidade de Igreja latinoamericana e
brasileira. Ainda que haja uma pluralidade de enfoques teológicos nas Igrejas
Cristãs, que se propõem em situar a reflexão a partir de realidades concretas,
foram-se criando estereótipos em relação a elas. Libânio e Murad (2014),
presentam que há uma falta de incentivo no contato com estas produções, por
outro lado os clássicos ganham maior destaque no ambiente acadêmico. No
entanto, ainda que sejam importantes, o mundo de hoje apresenta novos desafios
e estes também não devem ser ignorados. Por isso, reflexões dentro de
perspectivas como a da teologia feminista, teologia negra e ameríndia com um
enfoque étnico, a ecoteologia, a teologia das religiões com enfoque
macroecumênico e as teologias continentais, entre outras, são expressões de que
à Igreja são apresentados novos desafios e que podem adotar como instrumentos
de reflexão produções dentro de áreas como essas, que dificilmente teriam
espaço em abordagens mais tradicionais ou vista por outros, com um olhar de
fora para dentro. É necessário que reflitamos acerca de nossa própria realidade
(José Flávio Cassiano dos Santos).
(6) Diante da reflexão em aula referente às
novas correntes teológicas e do vídeo “O perigo da história única” de
Chimamanda, nova reflexão e atitude pessoal podem ser criadas. A própria
maneira com que nos dispomos ante algo novo, desconhecido. Podemos ser aquela
pessoa que ignora, a que rejeita, que se move por piedade ou que acolhe como
nova possibilidade. Esta novidade pode ser em qualquer tema, ou em relação a
qualquer objeto, inclusive da teologia e seus novos movimentos. Falemos das
novas correntes teológicas, que por serem contextualizadas em grupos
minoritários e emergentes, trazem olhares de diferentes pontos de vista e
suscitam novas perguntas para a Teologia. Esta que se considerou “perene” por
muito tempo, hoje se vê movimentada por novos agentes de outros grupos,
especialidades e ideologias. Os passos que se percebe de diálogo com estas
novidades, principalmente com o Papa Francisco, são muito significativos,
apesar de que ainda não conseguiu dar os passos necessários para a conversão
dos estereótipos em valorização das outras Histórias. Estes novos contextos,
longe de diminuir a Teologia e o caminho que ela fez na História, são para a
atualidade, uma possibilidade de fraternidade com as outras culturas e
reflexões. Uma maneira de renovar-se e se atualizar em nosso tempo, sem perder
suas raízes, propor e acolher a alteridade, romper paradigmas e deixar de ser
uma ditadora das verdades e certezas reconhecendo-se como peregrina rumo ao Pai
(Luiz Carlos Lima).
(7) Seria Deus imagem
do simplismo? Ao decorrer da história humana, distintos movimento e grupos se
esforçaram para definir relatos únicos e empobrecidos. Empobrecidos não por ser
com pouca profundidade, mas por romper com a ação Criativa de Deus. Em sua
palestra para a TED, “O perigo de uma história única”, Chimamanda Ngozi Adichie
relata sua construção enquanto pessoa. No decorrer da fala ela ressalta seu
interesse desde muito nova pela literatura e por não possuir acesso aos livros
do país de origem, Nigéria, ela se atinha aos britânicos em especial. Com o
interesse por ler surge também o por escrever, o que tornou um desafio já que
em suas histórias ela criava personagens brancas, loiras e que viviam em locais
com neve, experiências bem distintas da sua realidade. Aos 19 anos quando se
mudou para os Estados Unidos da América, para estudar numa universidade.
Chimamanda sofreu outro “golpe” ao deparar com a colega de quarto que
acreditava que ela nunca tinha visto um fogão, que, além disso, pensava que a
jovem era submetida na Nigéria em situações que não correspondiam as que ela
realmente possuía juntamente com seus familiares. Outro dado equivocado que a
companheira de quarto apresentou está na generalização enquanto África, isto é,
a crença que fosse somente um país e todos com a mesma situação econômica e
social. Chimamanda reconhece que também ela até certo momento assumiu o
discurso único quando ouvia e falava sobre o México.
Na teologia, o
movimento se fez semelhante por muito tempo. Acontece que as narrativas da
experiência e estudos sobre essa experiência sempre se deu de forma
eurocêntrica para os católicos, e estadunidense para os protestantes. Como uma
espécie de colonialização do pensar e do crer, a teologia vinda de outras
realidades rompe com a universalidade do agir de Deus e impõe modelos prontos
que devem ser encaixados em todas as realidades? A diferença presente quando
tratamos de teologia é que as personagens loiras de Chimamanda se tornam
discursos e métodos que não falam a realidade, não tocam no agir do povo, e
exclui aqueles que não são capazes de adentrar na dinâmica colonialista. Desta
forma, Libanio e Murad (2014) apresentam a necessidade de romper com esse
modelo. Sabe-se que o modelo clássico ganhou e ainda ganha muito espaço nos
ambientes acadêmicos, mas urge a necessidade de se falar de uma teologia mais
abrangente, uma teologia negra, uma teologia feminista, uma teologia queer e ou
gay, entre tantas outras as quais a sociedade demanda. Reduzir o teologizar a
uma única forma é empobrecer a compreensão de Deus (Wagner Eduardo de Assis
Pinto)
(8) Após assistir a
Palestra de Chimamanda, percebemos que têm semelhanças entre a palestra dela e
as Novas correntes de teológicas e as teologias contextuais. Primeiro, ela fala
que uma única historia faz que se cria preconceitos ou uma única visão sobre
uma realidade que as vezes não é justa ou verdadeira. Chamou a nossa atenção
sobre a única teologia hegemônica que recebemos, essa única teologia pode nos
mostrar uma única face do cristianismo e talvez isso pode esconder para alguns
povos a beleza da fé crista.
Segundo ela aponta que
os livros que ela lia ou estudava falavam de coisas estrangeiras que não têm
nada com a realidade dela. Isso faz que ela não pudesse se identificar com as
personagens e a historia contada, como conseqüência não significava nada para
ela. As Novas correntes teológicas ou teologias contextuais buscam refletir
desde a realidade na luz da palavra para que o povo possa se identificar nas
reflexões, as ações da igreja de forma local. Buscando libertar o povo de uma
teologia que não significa nada na realidade daquele povo (Kossi Pierre Batcho Kadote).
(9) Tanto como uma
única história como a Teologia contextual não podem ser vistas como verdades
únicas, cada uma tem sua versão de acordo com seu contexto cultural e
religioso, para que se tenha uma visão mais profunda e clara sobre como sua
história que não é única existe toda uma vivência. A Teologia tem mudanças na
sua história em relação de como enxergamos o outro, que a progressão da
humanidade leva a caminhos que por vezes são incompreensíveis, sem que o
mistério salvífico de Deus tenha um contexto diferente, e este olhar é
necessário para que a redenção aconteça a todos os povos como realização da
promessa de benção a todos sem exceção. A história de um povo e sua cultura
devem ser vistos da mesma forma a história muda com o passar dos anos, porém,
sua essência é a mesma, existem vários contextos mas, o essencial do povo é um
só, é imutável. (Marilis Marchezini Pinto).
(10) A Teologia é a
reflexão sistemática da hermenêutica que se faz da fé e da Revelação Divina
dirigida a todos os seres humanos. Nesse caso, a teologia possui uma dimensão
universal e particular. A universalidade da teologia está no fato de que o seu
fundamento se baseia numa única revelação divina na qual todas pessoas são convidadas
a conhecer e experimentar. A particularidade da teologia reside em demonstrar
que é a sua produção acadêmica e prática estão situadas dentro de um
determinado contexto sócio-cultural. Ela é uma produção de homens individuas.
Isso significa que o ser humano analisa os dados da fé e da experiência
Transcendental com base nas características da sua cultura. Além disso, cada
grupo tem uma forma própria de celebrar a manifestação do Sagrado e de
concebe-lo na realidade. É por isso que é necessária que a Teologia seja
contextual para que a mensagem divina atinja a todos os povos e culturas.
A contextualização da
Teologia é um processo que consiste levar em consideração o modo de vida das
pessoas, a cultura, a linguagem e a realidade social. No entanto, no período
moderno, a Teologia não valorizava os aspectos culturais dos povos. Houve uma
dominação teológica de um determinado povo que queria impor uma única forma de
conceber Deus. Eles acreditavam que eram os detentores da verdade e que os
outros povos estavam errados. O resultado disso foi a imposição de ideologias e
de uma maneira de viver a fé. Com isso, a mensagem divina não foi traduzida
para um determinado povo e este teve a sua dignidade ferida.
Neste aspecto, podemos
perceber que a palestra de Chimamanda sobre o perigo de uma única história tem
uma semelhança com a questão das teologias contextuais. Na palestra Chimamanda
retrata o contexto de uma imposição cultural que viveu desde a sua infância. Ao
ler somente os livros britânicos e norte-americanos, ela começou a desenvolver
certos livros que relatam histórias que não condiz com a sua realidade social
do povo nigeriano. Ela não se via como uma Nigeriana. Esse fato mostra quando
há as concepções dominantes negam a alteridade da pessoa fazendo refletir uma
cultura que não condiz com a sua realidade social
Quando ocorre a
contextualização da teologia consegue-se perceber que certas categorias de
linguagens usadas por um tipo especifico de teologia não servem para transmitir
o sentido da fé a um determinado povo. Sendo assim teologia precisa se inserir
e encarnar na realidade do povo sem imposição, mas como sendo uma proposta. Com
isso, a teologia contribui para que ocorra o surgimento de comunidades com
características próprias e identidade. A comunidade não precisa mais refletir
uma única forma de celebrar. Nesse caso ela passa ter uma visibilidade. Na
palestra dada por Chimamanda, há um momento em que ela relata que as pessoas
pensavam que o continente Africano era um país cujas pessoas são iguais e inferiores
aos outros povos. Ela mostra com isso que quando se conta uma única história
corre-se o risco de criar estereótipos de pessoas (Robson Henriques Vieira
Arruda)
(12) A sociedade pós
moderna apresenta inúmeros enfoques que convidam a Teologia a trilhar novos
caminhos, respondendo assim as necessidades de seu tempo. Chimamanda, nigeriana
que cresceu com mentalidade europeia porque a única literatura que lhe fora
apresentada era a americana, tornou-se uma ‘contadora de história’. Chimamanda
diz: “Sempre sentir que é impossível relacionar-me adequadamente com um lugar
ou uma pessoa, sem me relacionar com toda a história desse lugar ou dessa
pessoa”, nos leva a reflexão em torno do “perigo da história Única” ou seja,
aponta caminhos para que a teologia reveja as formas de pensamento e
principalmente o significado do conceito de cultura – trata-se de uma teologia
contextualizada.
A Teologia necessita
estar em diálogo com os diferentes contextos sociais e culturais, pois
permanecer com a visão de uma “cultura dominante” pode tornar “um povo como uma
coisa, como somente uma coisa, repetidamente, e será o que eles se tornarão”.
Para que as sementes do Verbo possam dar frutos em diversos terrenos, é
necessário conhecê-lo, respeitá-lo e saber o tempo certo de semear, pois a
semente é única e cada terreno possui suas características próprias.
Por fim a palestra e
as teologias contextuais mostram o perigo que ocorre quando se tem apenas uma
versão dos fatos. Uma única forma de teologia e uma única História revelam um
papel de dominação ideológica dos seus interlocutores e desprezo por um modo de
vida. Dessa forma, a teologia não cumpre o seu papel de ajudar as pessoas a
olharem a realidade com a ótica da fé, para assim perceber os apelos de Deus.
Por esta razão, as pessoas não são capazes de se sensibilizar com os
sofrimentos dos outros A palestra sobre o perigo de uma única História e as
novas correntes teológicas refletem a importância de se contextualizar e olhar
mais para a realidade social para perceber que tal povo possui uma identidade,
uma cultural e um modo de conceber o mundo. Ambas têm um caráter libertador que
ajudam a perceber que pluralidade não é um obstáculo, mas um campo que pode
enriquecer tanto a teologias como as demais áreas do saber no processo de humanização
(Célio e Lucas André).
(13) Em tempos de uma
sociedade plural, aceitar uma única história sobre determinado lugar ou pessoa
seria negarmos ou perdemos a possibilidade de adentrar no paraíso. É
parafraseando a escritora africana Chimamanda, em sua palestra sobre o perigo
de uma única história, que podemos descobrir a riqueza das novas correntes
teológicas e contextuais que emergem na contemporaneidade.
É factível perceber
como é fácil adotarmos narrativas estereotipadas de certos fatos, lugares e
pessoas. Além disso, é apossando dessas únicas narrativas que negamos o belo
“paraíso”, passível de ser adentrado, e acabamos caindo numa atitude
colonizadora, de preconceitos que não nos permite conhecer as riquezas desse
novo terreno. Da mesma maneira, pode-se ocorrer no âmbito teológico quando
adotamos uma única corrente teológica como verdadeira, em outra palavras quando
consideramos universal uma única narrativa. Entretanto, os princípios
teológicos nos recordam que a mesma deve ser encarnada, brotada do chão de cada
realidade vivida. É apenas seguindo esses critérios que a teologia consegue
“[...] interpretar a atual complexidade da existência humana” (LIBANIO; MURAD,
2014) do nosso tempo. Por conseguinte, a teologia tem duas dimensões essenciais
no seu labor teológico que é a universalização quantitativa e a universalização
qualitativa.
A universalização
quantitativa é a teologia que diz respeito a dimensão geográfica e populacional
que ela atinge, já a qualitativa é aquela que se remete a vários povos, de
diferentes lugares e culturas, é alimento universal da fé. De certo, tanto uma
como a outra são importantes para a produção de uma teologia significativa, mas
pode também nos levar a cometer dois equívocos. Toda teologia nasce de uma
realidade cultural e isso é necessário, porém o erro é quando se elege ou
cristaliza a mesma como universal, a única e verdadeira. Como exemplo, podemos
pensar na teologia produzida por Tomás de Aquino na Idade Média, universal nas
duas dimensões, que foi tomada como a teologia perennis. No entanto, a maneira
da escritora, Chimamanda que cristalizou uma narrativa de África como lugar
pobre, de guerras sem sentido e outras tantas ideias pejorativas que impedem-na
de conhecer a riqueza da mesma, ocorre também na teologia, ou seja, essa
atitude cerceia a pesquisa e impossibilita o enriquecimento e a criatividade
para nascer novas teologias.
Dessa maneira, podemos
compreender a importância das novas correntes teológicas e textuais que emergem
na contemporaneidade. É importante para que não cometamos os mesmos erros do
passado ou para que fujamos das ideologias dominantes que acreditam em
etnocentrismo e outras tantas visões opressoras que existem. Assim, podemos
dizer que as novas correntes teológicas e contextuais são os novos ventos do
Espírito dando respostas aos desafios do nosso tempo (Vitor Vinicios da Silva)
(14) O perigo de uma
única história como ponto de partida para esta reflexiva análise da teologia
enquanto lugar de possibilidade, partilha e experiência de um povo nos mostra
que quando uma história é compartilhada apenas de um lado torna-se escassa, pois
o perigo consiste em apresentar apenas uma versão da história, quando na
verdade existem várias dimensões que podem ser vistas de ângulos diferentes.
Através das diferentes formas de pensamentos, a teologia em suas variedades de
leitura teológica, busca uma fusão de horizontes onde se possa ter não somente
uma teologia que seja uma única e universal, mas sobretudo, teologias que
dialogam entre si com as diversas formas de experiências culturais existentes
em cada contexto plural.
Quando se tem a
possibilidade de dialogar com o diferente e desconhecido se permite abrir
vários horizontes, que em sua infinitude mostra o quanto uma história pode ter
varias formas de ser contada, cada corrente teológica é uma seta que aponta
para uma nova descoberta e cada teologia contextual nos permite entrar na
história de cada tempo, colocando em evidência aquilo de mais natural e
particular que existe em cada uma dela, sua cultura, sua origem e sobretudo, a
história de um povo, e quando vista de ângulos diferentes, desta-se não só
aquilo de ruim, mas, muito mais aquilo que há de bom, de positivo, não se pode
rejeitar a possibilidade existencial de várias histórias como não existe, só
uma única história (José Renato Martins da Costa)