quarta-feira, 8 de abril de 2020

Cristo sai na Semana Santa de outro jeito


Nos países de tradição católica, especialmente na América Latina, a Semana Santa está marcada por muitas manifestações públicas, de natureza devocional e litúrgica. Procissões e celebrações nas ruas e praças reúnem multidões. Mas no cenário atual, isso não é possível, pois colocaria em risco a vida de muitas pessoas. Acertadamente, a Igreja propôs orações nas casas e celebrações pela mídia (Televisão e  Internet). Houve quem se contrapôs a essa orientação, argumentando que “Jesus não sairia mais às ruas” e que seria reduzido o caráter público da evangelização. Em resposta a tal posição, a arquidiocese de Lima, no Perú, publicou um vídeo em que mostra a face de Jesus presente em todas as pessoas que estão se dedicando aos outros, nesse momento histórico (https://youtu.be/IaexENtVnX4). Eis o poema, em uma tradução livre.
Que história é essa, que Cristo este ano não sai, se ele está vestido de branco, azul ou verde, nos hospitais? Quem disse que o nazareno não pode fazer penitência se estão todos atendendo os doentes no Pronto Socorro?
E não haverá a Via Sacra, com Jesus que cai três vezes?  Olhe para nossos médicos, que caem rendidos, exaustos, como humildes cireneus ajudando Jesus em cada passo. E todos os profissionais de saúde, lado a lado, sem descanso.
Como Jesus passou pela terra, nossos heróis do caminhão passam as noites acordados
para abastecer mercados de bairro, farmácias e lojas ... Policiais patrulham ruas desertas e não estão com suas famílias, mas cuidando das nossas. 
E longe das cidades, Jesus Cristo está curvado sobre os sulcos da terra, cultiva plantas e pastoreia o gado.
Ninguém diga que o Senhor não está presente nas ruas, quando nas igrejas solitárias os sacerdotes celebram a missa diariamente.
Jesus sairá este ano, desde que haja uma voz, mesmo à distância,
animando quem está isolado em casa.
Ninguém diga que Deus não está em seu caminho, quando tantas vidas
se oferecem aos outros e demostram amor e solidariedade.
Com os olhos cansados, com bom humor, sem falhar, Cristo também está presente em qualquer supermercado, repondo prateleiras e atendendo no caixa.
Jesus entra em um caminhão pintado, recolhe nosso lixo e sai sem ser notado.
Quando vejo tanta gente que perdeu seus familiares, sinto que saiu também às ruas Nossa Senhora da piedade, a Maria das dores que sustenta seu filho morto no colo.
Talvez não haja procissões com imagens esculpidas, mas veja, Cristo sai ao encontro de sua vida, em mil rostos ocultos, sem vela e nem sinos.
Embora não haja procissões, você sentirá o cheiro do incenso que as pessoas generosas colocam com suas ações.
O amor salta sobre os muros, o coração não está fechado. Será uma "Semana Santa" mais do que nunca, é verdade. Quem disse que Cristo não saiu este ano? Amém.

O silêncio de Deus diante de tamanho sofrimento da humanidade talvez nos ensine a ter menos certezas e mais esperanças. Cultivar o olhar para descobrir a presença e a ausência de Jesus na nossa realidade. Exercitar criativamente várias formas de praticar o amor, o afeto e a solidariedade. Rever nossos paradigmas e modelos de vida, que na linguagem religiosa se chama “conversão”. Essa é a oportunidade ímpar de crescimento, para cuidarmos uns dos outros e de nossa Casa Comum.