Nos países de tradição
católica, especialmente na América Latina, a Semana Santa está marcada por
muitas manifestações públicas, de natureza devocional e litúrgica. Procissões e
celebrações nas ruas e praças reúnem multidões. Mas no cenário atual, isso não
é possível, pois colocaria em risco a vida de muitas pessoas. Acertadamente, a
Igreja propôs orações nas casas e celebrações pela mídia (Televisão e Internet). Houve quem se contrapôs a essa orientação,
argumentando que “Jesus não sairia mais às ruas” e que seria reduzido o caráter
público da evangelização. Em resposta a tal posição, a arquidiocese de Lima, no
Perú, publicou um vídeo em que mostra a face de Jesus presente em todas as
pessoas que estão se dedicando aos outros, nesse momento histórico (https://youtu.be/IaexENtVnX4). Eis o poema, em uma tradução livre.
Que
história é essa, que Cristo este ano não sai, se ele está vestido de branco,
azul ou verde, nos hospitais? Quem disse que o nazareno não pode fazer
penitência se estão todos atendendo os doentes no Pronto Socorro?
E não
haverá a Via Sacra, com Jesus que cai três vezes? Olhe para nossos médicos, que caem rendidos,
exaustos, como humildes cireneus ajudando Jesus em cada passo. E todos os
profissionais de saúde, lado a lado, sem descanso.
Como
Jesus passou pela terra, nossos heróis do caminhão passam as noites acordados
para
abastecer mercados de bairro, farmácias e lojas ... Policiais patrulham ruas
desertas e não estão com suas famílias, mas cuidando das nossas.
E
longe das cidades, Jesus Cristo está curvado sobre os sulcos da terra, cultiva
plantas e pastoreia o gado.
Ninguém
diga que o Senhor não está presente nas ruas, quando nas igrejas solitárias os
sacerdotes celebram a missa diariamente.
Jesus
sairá este ano, desde que haja uma voz, mesmo à distância,
animando
quem está isolado em casa.
Ninguém
diga que Deus não está em seu caminho, quando tantas vidas
se
oferecem aos outros e demostram amor e solidariedade.
Com os
olhos cansados, com bom humor, sem falhar, Cristo também está presente em
qualquer supermercado, repondo prateleiras e atendendo no caixa.
Jesus
entra em um caminhão pintado, recolhe nosso lixo e sai sem ser notado.
Quando
vejo tanta gente que perdeu seus familiares, sinto que saiu também às ruas
Nossa Senhora da piedade, a Maria das dores que sustenta seu filho morto no
colo.
Talvez
não haja procissões com imagens esculpidas, mas veja, Cristo sai ao encontro de
sua vida, em mil rostos ocultos, sem vela e nem sinos.
Embora
não haja procissões, você sentirá o cheiro do incenso que as pessoas generosas colocam
com suas ações.
O amor
salta sobre os muros, o coração não está fechado. Será uma "Semana
Santa" mais do que nunca, é verdade. Quem disse que Cristo não saiu este
ano? Amém.
O silêncio de Deus diante de tamanho sofrimento
da humanidade talvez nos ensine a ter menos certezas e mais esperanças. Cultivar
o olhar para descobrir a presença e a ausência de Jesus na nossa realidade.
Exercitar criativamente várias formas de praticar o amor, o afeto e a
solidariedade. Rever nossos paradigmas e modelos de vida, que na linguagem
religiosa se chama “conversão”. Essa é a oportunidade ímpar de crescimento,
para cuidarmos uns dos outros e de nossa Casa Comum.