terça-feira, 22 de abril de 2008

Consumir e gozar!


Mônica Bérgamo noticiou na sua coluna da Folha de São Paulo, no dia 14 de abril, que setenta empresárias e socialites se reuniram numa mansão em São Paulo, para ouvir uma palestra do "filósofo do luxo" Silvio Passarelli. Elas assistiram à palestra "O Seu Tempo É o Seu Luxo", em que o economista falou do prazer inigualável do consumo sem grilos ou culpas de qualquer espécie.

Conforme Passarelli, o atual liberalismo inaugurou a era do padrão individual de escolhas. Mas, de nada adianta acumular os bens se não temos tempo para usufruí-los. A grande batalha do século 21 será Consumir e gozar, consumir e gozar! E não estocar". E acrescenta: "Sabe a Imelda Marcos [ex-primeira-dama das Filipinas] e os 500 calçados? Será que ela os conhecia a todos? Será que estabeleceu com cada um deles uma história pessoal?"

Passarelli insiste na idéia de que as pessoas têm que melhorar o seu estoque de tempo. "Vamos perder a vergonha quando alguém perguntar: O que você vai fazer amanhã? Nada! Eu comprei um carro novo e vou passar o dia dedicado a esse brinquedo que eu me proporcionei. É preciso tempo para que o projeto emocional que o levou a adquirir aquele bem possa ser explicitado". Assim, deve-se "gradativamente trocar compromissos inúteis pelos úteis na busca de uma nova ética de consumo, que não seja marcada pela condenação de um produto supérfluo. Ora, quem tem condição de dizer o que é supérfluo? É supérfluo para ele, mas pode ser a diferença entre felicidade e tristeza para outro".

A colunista da Folha comenta que as mulheres aclamaram com euforia as palavras do dito professor e que agora se sentem mais à vontade para consumir o luxo, sem culpa.

As idéias de Passarelli levam a ideologia do consumismo ao seu ápice. Não basta o prazer de comprar. É preciso cultivar o gozo de usufrir, de forma egoísta, dos bens adquiridos. Estranhamente, não se fala, em momento nenhum, do prazer de estar junto com os outros, de estabelecer laços de qualidade, de saborear as coisas simples da vida, de estar aberto ao que é gratuito. O defensor do luxo chega ao absurdo de perguntar se a mulher do ex-ditador das Filipinas, que acumulou imensa riqueza à custa da exploração de seu povo, estabeleceu com um dos seus quinhentos sapatos uma história pessoal. Ora, nenhum ser humano com valores profundos estabelece relação pessoal com sapatos. E sim, com pessoas. Alguém pode gostar de maneira especial de um objeto pessoal e sentir falta dele, mas criar vínculos pessoais, isso é para os relacionamentos.

O consumo de luxo é a manifestação patente da concentração de riqueza, que gera opulência de um lado, e exclusão social de outro. Além de impactar no meio ambiente. Pois quem faz do lema de sua vida o consumo e o gozo não tem no horizonte nem a humanidade, nem o nosso planeta.

A máxima “consumir e gozar. E não estocar!” é a degeneração de algo bom. Aprender a fruir o presente, cultivar a alegria e o gozo, deliciar-se com as pequenas coisas da vida são aspectos enfatizados por grandes místicos e sábios. Um ser humano maduro, espiritualmente evoluído, aproveita bem o tempo, curte as experiências gratificantes e faz memória dos acontecimentos significativos. Há pessoas que se sentem verdadeiramente felizes por serem solidárias, por cuidar do meio ambiente e das outros, especialmente os mais fragilizados, como as crianças, os anciãos e os empobrecidos. Onde reside a diferença? Em perceber que as satisfações não são uma finalidade em si mesma, mas são experimentadas e interpretadas dentro de um projeto de vida que tem uma direção para o Bem. Então, poderemos criar outras máximas, mais conseqüentes, como: Cuidar e fruir! Amar e se alegrar!

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