domingo, 6 de julho de 2008

Reconstruir a casa


Era uma vez uma casa, imensa e bela. Edificada lentamente, durante milhões de anos, parecia infinita, devido à sua forma arredondada. Por ela passeava uma multidão incontável de seres, os mais diversos. O solo, chão da casa, era rico em nutrientes que garantiam o ciclo de vida das plantas e dos animais. Suas paredes eram constituídas por rochas recobertas pelos tons múltiplos de cores de gramíneas, arbustos e árvores. O telhado se abria durante o dia para o clarão do sol, que, com sua energia, sustentava os seres com luz e calor. Invisivelmente, era protegido por uma fina camada de gases, que filtrava a luz do sol na medida adequada para garantir a continuidade da teia da vida. À noite, estrelas cintilantes coalhavam o céu, e a lua, com sua cor prateada, brindava o viajante com sua luz discreta e suave.
A casa-comum-de-todos-os-seres, também chamada pelos humanos de Planeta Terra, tinha cinco enormes quartos, separados por infindáveis porções de terra e muita, muita água. Será que havia janelas? Ou antes se tratava de um sem número de cortinas, que velavam e desvelavam mistérios, belezas, riscos e aventuras? Embora a casa não tivesse portas nem porteiras, penetrar em seu mistério exigia algumas chaves. Não aquelas, pequenas ou grandes, feitas de metal, mas sim as da mente e do coração, que permitem compreender sem jamais pretender agarrar e dominar.
Hoje a nossa casa comum tem a aparência de um admirável edifício, totalmente marcado pela intervenção humana. No entanto, não se pode esconder as rachaduras crescentes, a abertura no telhado e a perda da qualidade de vida de seus habitantes. O ser humano se assenhorou do Planeta. Considera-se seu patrão. Perdeu o vínculo com as outras criaturas e as toma simplesmente como “recursos” ou “coisas”. Baseado na ciência e na tecnologia e no espírito conquistador do mercado global, considera-se dono absoluto de seu futuro. Na realidade, construiu um modelo insustentável, que gera crescente exclusão social e enfraquecimento do ecossistema.Neste contexto, é preciso recriar novas chaves de leitura, para compreender a humanidade em relação aos outros seres que povoam nossa casa comum. Assim, poderemos mudar o olhar e ampliar a nossa percepção. Com a consciência aberta, vem a ação transformadora. Atitudes individuais se conjugam com ações coletivas. É tempo de construir a cidadania planetária, que articula a visão ampla e global com a concretude das ações locais. Trata-se de gerar e desenvolver a consciência eco-planetária e de tecer redes com vários atores sociais. Com as novas gerações, iremos superar a visão pessimista e trágica, resgatar o encantamento, canalizar a indignação e nutrir a esperança, para reconstruir nossa casa comum.

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