Selecionei aqui alguns trechos da carta do Intereclesial, oferecendo uma visão de conjunto dos 4 dias de encontro e os compromissos assumidos. Para ver o texto completo, acesse: http://www.cebs12.org.br/ Leia e divulge.
1. Nós, participantes do XII Intereclesial das CEBs, daqui das margens do Rio Madeira, no coração da Amazônia, saudamos com afeto as irmãs e irmãos de todos os cantos do Brasil e dos demais países do continente, que sonham conosco com novos céus e nova terra, num jeito novo de ser igreja, de atuar em sociedade e de cuidar respeitosa e amorosamente de toda a criação!
2. Fomos convocados de 21 a 25 de julho de 2009, pelo Espírito e pela Igreja irmã de Porto Velho/RO, para nos debruçar sobre o tema que nos guiou por toda a preparação do Intereclesial em nossas comunidades e regionais: “CEBs: Ecologia e Missão – Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia”.
4. Somos 3.010 delegados, aos quais se somam convidados, equipes de serviço, imprensa e famílias que acolhem os participantes, ultrapassando cinco mil pessoas envolvidas neste Intereclesial. Dos delegados de quase todas as 272 dioceses do Brasil, 2.174 são leigos, sendo 1.234 mulheres e 940 homens; 197 religiosas, 41 religiosos irmãos, 331 presbíteros e 56 bispos, dentre os quais um da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, além de pastores, pastoras e fiéis dessa Igreja, da Igreja Metodista, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e da Igreja Unida de Cristo do Japão. O caráter pluriétnico, pluricultural e plurilinguístico de nossa Assembléia encontra-se espelhado no rosto das 38 nações indígenas aqui presentes e no de irmãos e irmãs de nove países da América Latina e do Caribe, de cinco da Europa, de um da África, de outro da Ásia e da América do Norte. Queremos ressaltar a presença marcante da juventude de todo o Brasil por meio de suas várias organizações.
5. Fomos recebidos, na celebração de abertura pela equipe da celebração e por Dom Moacyr Grechi, com muita música e canto, ao cair da noite, ao lado dos trilhos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré que lembra para os trabalhadores, que a construíram e para os indígenas e migrantes nordestinos, o sofrido ciclo da borracha na Amazônia. Foram evocadas ali e, seguidamente nos dias seguintes, as palavras sábias do provérbio africano: “Gente simples, fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes, consegue mudanças extraordinárias”.
6. Iniciamos o primeiro dia, dedicado ao VER, partindo do grito profético da terra e dos povos da Amazônia, símbolos da humanidade, na sua rica diversidade. Partimos para os locais dos mini-plenários de 250 participantes, nas paróquias e escolas. Eles levavam os nomes de doze RIOS da bacia amazônica: Madeira, Juruá, Purus, Oiapoque, Guamá, Tocantins, Tapajós, Itacaiunas, Guaporé, Gurupi, Araguaia e Jari.
8. Divididos nos Rios em 12 CANOAS, com duas dezenas de participantes cada uma, partilhamos as experiências, gritos e lutas das comunidades em relação à nossa Casa comum, a partir do bioma amazônico e dos outros biomas do Brasil (cerrado, caatinga, pantanal, pampas, mata atlântica e manguezais da zona costeira), da América Latina e do Caribe. Vimos nossa Casa ameaçada pelo desmatamento, com o avanço da pecuária, das plantações de soja, cana, eucalipto e outras monoculturas, sobre áreas de florestas; pela ação predatória de madeireiras, pelas queimadas, poluição e envenenamento das águas, peixes e humanos pelo mercúrio dos garimpos, pelos rejeitos das mineradoras e pelo lixo nas cidades. Encontra-se ameaçada também pelo crescente tráfico de drogas, de mulheres e crianças e pelo extermínio de jovens provocado pela violência urbana.
9. Somamos nosso grito ao das populações locais, para que a Amazônia não seja tratada como colônia, de onde se retiram suas riquezas e amazonidades, em favor de interesses alheios, mas que seja vista em pé de igualdade, no concerto das grandes regiões irmãs, com sua contribuição específica em favor da vida dos povos, em especial de seus 23 milhões de habitantes, para que tenham o suficiente para viver com dignidade.
10. Fazemos um apelo para que os governantes sejam sensíveis ao grito que brota do ventre da Terra e, pautados por uma ética do cuidado, adotem uma política de contenção de projetos que agridem a Amazônia e seus povos da floresta, quilombolas, ribeirinhos, migrantes do campo e da cidade, numa perspectiva que efetivamente inclua os amazônidas, como colaboradores verdadeiros na definição dos rumos da Amazônia.
11. Tomamos consciência também de nossas responsabilidades em relação ao reto uso da água, da terra, do solo urbano e à superação do consumismo, respondendo ao apelo, para que todos vivamos do necessário, para que ninguém passe necessidade.
12. Constatamos, com alegria, a multiplicação de iniciativas em favor do meio ambiente, como a de catadores de material reciclável, no meio urbano, tornando-se profetas da ecologia e as de economia solidária, agricultura orgânica e ecológica. Saudamos os muitos sinais de uma “Terra sem males”, fazendo-nos crescer na esperança de que “outro mundo é possível, necessário e urgente”.
13. Realizamos a Caminhada dos Mártires, em direção ao local onde o rio Madeira foi desviado e em cujo leito seco, ao som dos estampidos das rochas dinamitadas, está sendo concretada a barragem da hidroelétrica. Celebrou-se ali Ato Penitencial por todas as agressões contra a natureza e a vida humana. Defronte às pedreiras que acolhiam as águas das cachoeiras de Santo Antônio, agora totalmente secas, ao lado da primeira capela construída na região, foram proclamadas as Bem-aventuranças evangélicas (Mt 5, 1-12), sinal da teimosa esperança dos pequenos, os preferidos de Deus.
14. No segundo dia do encontro, partimos em grupos, em visita às muitas realidades locais: populações indígenas, comunidades afro-descendentes, ribeirinhas, extrativistas, grupos vivendo em assentamentos rurais ou em áreas de ocupação urbana; bairros da periferia; hospitais, prisões, casas de recuperação de pessoas com dependência química e ainda a trabalhos com menores ou pessoas com deficiência. O retorno foi rico na partilha de experiências, nas quais descobrimos sinais de vida nova. Reiteramos que os projetos dos grandes, principalmente as barragens das usinas hidroelétricas,as usinas nucleares geradoras de lixo atômico que põe em risco a população local, são projetos do capital transnacional que não favorecem os pequenos. Apoiados na sabedoria milenar dos povos indígenas, nos animamos a repetir com eles: “Nunca deixaremos de ser o que somos”. Nós, como CEBs no meio dos simples e pequenos, reafirmamos nossa teimosa opção pelos pobres e pelos jovens, proclamada há trinta anos em Puebla, resistindo e lutando para superar nossas dificuldades, sustentados pela fé no Deus que se revelou a nós como Trindade, a melhor comunidade.
15. No terceiro dia, a oração foi alentada pela promessa do Êxodo: “Decidi vos libertar... vos farei subir dessa terra para uma terra fértil e espaçosa, terra, onde corre leite e mel” (Ex. 3, 8). Em cada canoa, os relatos iam revelando uma igreja preocupada com a justiça social e a defesa da vida nos testemunhos de gente simples em todos aqueles lugares visitados. Esses relatos aqueceram nosso coração e nos desafiaram a perseverar na caminhada das CEBs.
16. À tarde, fomos tocados por vários testemunhos. Dom José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba, retomou em sua história a trajetória dos negros no Brasil, suas dores, resistências e esperanças de um mundo melhor, nos seus Quilombos da liberdade. Marina Silva, senadora pelo Acre e ex-ministra do Meio Ambiente, contou sua eu caminhada de menina analfabeta do seringal para a cidade de Rio Branco e de lá para São Paulo, mas principalmente sua incessante busca, a partir da fé herdada de sua avó, alimentada pela experiência das CEBs, da leitura da Palavra de Deus e pelo exemplo de Chico Mendes, de bem viver e de colocar-se publicamente a serviço, em favor do povo amazônida. Por fim, acompanhamos pelo vídeo o testemunho de Dom Pedro Casaldáligo e nos emocionamos com suas palavras de esperança e confiança em Jesus e na utopia do seu Reinado.
17. Neste dia, ocorreu também o encontro da Pastoral da Juventude de todo o Brasil e outro também muito significativo entre bispos, assessores e Ampliada Nacional das CEBs. Momento fecundo do estreitamento de laços e abertura a novos passos em nossa caminhada, em que foi expressa a alegria e alento trazidos pela presença significativa de tantos bispos. Desse encontro, os bispos presentes resolveram enviar sua palavra às comunidades:
19. Na manhã do último dia, fomos guiados pelo texto do Apocalipse: “O anjo mostrou para mim, um rio de água viva... O rio brotava do trono de Deus e do cordeiro...; de cada lado do rio estão plantadas árvores da vida... suas folhas servem para curar as nações” (Ap 22, 1-2). Bebemos no manancial da fé que nos une a todos e todas, na única família humana, como filhos e filhas da mesma Mãe-Terra, a Pacha-Mama dos povos andinos, a Terra sem Males dos Povos Guarani, na busca, sonho e construção do Reino de Deus anunciado por Jesus.
20. Juntos, representantes das Religiões Indígenas e dos Cultos Afro-brasileiros, de Judeus, Cristãos Ortodoxos, Católicos e Evangélicos, Muçulmanos, de mulheres e homens de boa vontade e de todas as crenças, no diálogo e respeito à diversidade da teia da vida, acolhemos os gritos da Amazônia e de todos os biomas e reafirmamos nossa solidariedade e compromisso com a justiça geradora da paz.
COMPROMISSOS ASSUMIDOS
21. Caminhamos como povo de Deus que conquista a Terra Prometida e a torna espaço de fartura e fraternura, acolhendo todas as expressões da vida.
22. Comprometemo-nos a fortalecer as lutas dos movimentos sociais populares: as dos povos indígenas, pela demarcação e homologação de suas terras e respeito por suas culturas; as dos afro-descendentes, pelo reconhecimento e demarcação das terras quilombolas; as das mulheres, por sua dignidade e igualdade e avanço em suas articulações locais, nacionais e internacionais; as dos ribeirinhos pela legalização de suas posses; as dos atingidos pelas barragens, pelo direito à terra equivalente, restituição de seus meios de sobrevivência perdidos e indenização por suas benfeitorias; as dos sem terra, apoiando-os em suas ocupações e em sua e nossa luta pela reforma agrária, contra o latifúndio e os grileiros; as dos Movimentos Ecológicos, contra a devastação da natureza, pela defesa das águas e dos animais.
23. Queremos defender e apoiar o movimento FLORESTANIA, no respeito à agrobiodiversidade e aos valores culturais, sociais e ambientais da Amazônia.
24. Assumimos também o compromisso de respaldar modelos econômicos alternativos na agricultura, na produção de energias limpas e ambientalmente amigáveis; de participar na luta sindical, reforçando a ação dos sindicatos do campo e da cidade, com suas associações e cooperativas e sua luta contra o desemprego, com especial atenção à juventude.
25. Convocamos a todos nós para o trabalho político de base, para a militância em movimentos sociais e partidos ligados às lutas populares; para participar nas lutas por políticas públicas ligadas à educação, saúde, moradia, transporte, saneamento básico, emprego, reforma agrária e para tomar parte nos conselhos de cidadania, nas pastorais sociais, no movimento pela não redução da maioridade penal, no Grito dos Excluídos, nas iniciativas do 1º. de Maio e das Semanas Sociais.
26. Comprometemo-nos ainda a fortalecer e multiplicar nossas Comunidades Eclesiais de Base, criando comunidades eclesiais e ecológicas de base nos bairros das cidades e na zona rural, promovendo a educação ambiental em todos os espaços de sua atuação; fortalecendo a formação bíblica; incentivando uma Igreja toda ela ministerial, com ministérios diversificados confiados a leigas e leigos; assumindo seu protagonismo, como sujeitos privilegiados da missão; fortalecendo o diálogo ecumênico e inter-religioso e superando a intolerância religiosa e os preconceitos.
27. Queremos, a partir das CEBs, repensar a pastoral urbana, como um dos grandes desafios eclesiais, assumir o testemunho e a memória dos nossos mártires e empenhar-nos na Missão Continental proposta pela V Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, em Aparecida. Rumo ao XIII Intereclesial no Ceará
28. Acompanhados pelas comunidades e famílias que nos receberam e caravanas de todo o Regional, celebramos a Eucaristia, presença sempre viva do Crucificado/Ressuscitado, comprometendo-nos com todos os crucificados de nossa sociedade, com suas lutas por libertação, para construirmos outro mundo possível, como testemunhas da Páscoa do Senhor, acompanhados pela proteção e benção da Mãe de Deus, celebrada no Círio de Nazaré e invocada na região amazônica, com outros tantos nomes; no Brasil, com o título de Aparecida, e na nossa América, com o de Virgem de Guadalupe.
29. Escolhida a Igreja do Crato, que irá acolher, nas terras do Pe. Cícero, o XIII Intereclesial, recolocamos nos trilhos o trem das CEBs, rumo ao Ceará, enviando a vocês, irmãos e irmãs das comunidades, nosso abraço fraterno, e cheio de revigorada esperança. amém! axé! auere! aleluia!
domingo, 26 de julho de 2009
sábado, 25 de julho de 2009
Intereclesial das CEBs (3)
O Intereclesial das CEBs caminha para seus últimos momentos. Quero partilhar com vocês algumas experiências vividas, impressões e informações. No dia dedicado à missão, fiquei em Porto Velho. De manhã, após a bela celebração, ouvimos a palavra de Pedro Ribeiro de Oliveira, Irmã Julieta e Leonardo Boff. Este último, em especial, falou com sabedoria e unção. Talvez não tenha novidades, mas foi uma palavra simbólica, de esperança.
Neste “dia de missão”, os participantes do Intereclesial visitaram experiências rurais e urbanas das CEBs e do movimento popular na região, além de algumas realidades que clamam. Houve de tudo. Quem foi visitar as comunidades ribeirinhas teve que ficar um longo tempo na estrada, inclusive com ônibus quebrado. Aqueles que optaram por conhecer a triste realidade das penitenciárias de Porto Velho, tiveram que esperar horas e somente alguns puderam ter contato com os presos. Os que visitaram as comunidades urbanas nas periferias perceberam o descaso do poder público para com os pobres, e também provaram a acolhida, a alegria e a fraternidade das comunidades.
Aliás, para mim, este foi o ponto mais forte do Encontro. Entre tantos eventos, congressos, fóruns e encontros em que participei na vida, nunca presenciei um com espírito de colaboração tão forte, somando efetivamente uma multidão de pessoas. Na primeira noite, percebi que havia uma imensa toalha no palco, toda confeccionada de forma artesanal em forma de flores, que se chama “fuxico”. Não podia imaginar quem fez aquilo. Ontem fiquei sabendo: foi a soma de centenas de toalhas artesanais, feitas em muitas comunidades. Tecidas a muitas mãos, com muito carinho. As comunidades rurais e urbanas se prepararam para o encontro durante dois anos.
Este doce sabor da fraternidade e da acolhida foi tematizado na manhã do quarto dia do encontro. Fui novamente para o miniplenário intitulado “Rio Tocantins”. A celebração da manhã, com cantos, leitura da bíblia, salmos entoados e símbolos terminou com a partilha de mel (foto acima), vindo de uma iniciativa de apicultura de socioeconomia solidária de Santa Catarina. Alguns, literalmente, se lambuzaram de mel.... A seguir, partilhou-se nos grupos menores (chamados de “canoa”) a experiência da missão no dia anterior. E, no final da manhã, em cada um dos 12 miniplenários, dois assessores locais apresentaram alguns dados sobre a Amazônia e a Igreja daqui. Onde estive, contamos com a apresentação do Ir. João Gutemberg, marista nascido no Acre, e um bispo da região.
Pude também conhecer e conversar com alguns bispos. Dentre eles, Dom Possamai, vice-presidente da comissão da Amazônia da CNBB e Dom Erwin, bispo prelado do Xingu, região onde viveu Ir. Dorothy. É emocionante ouvir estes homens, que são pastores e profetas.
Dois acontecimentos importantes marcaram ainda o quarto dia do intereclesial das CEBs: os testemunhos de vida e a reunião da equipe ampliada com os bispos. À tarde, no “Porto” (Plenária), a assembléia ouviu os depoimentos do arcebispo negro, emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires (Dom Zumbi), com seus quase 90 anos; o bispo emérito de Goiás (GO), dom Tomás Balduíno, grande batalhador e fundador da CPT e a senadora Marina Silva. Veja detalhes no site da cnbb.
Visite http://www.cnbb.org.br/ns/modules/news/article.php?storyid=1892
Sobre o encontro da Equipe de organização do Encontro com os bispos, relata o Padre Geraldo, assessor de comunicação da CNBB: A presença dos bispos também foi ressaltada como muito importante para o Intereclesial. Foram 56, inclusive o presidente e o vice-presidente da CNBB. “A presença numerosa dos bispos, inclusive a Presidência e os assessores da CNBB, são a confirmação de que as CEBs retomaram o rumo”, avaliaram os membros da Equipe Ampliada. “O intereclesial é uma grande assembleia que faz perceber como anda a Igreja no Brasil. Por isso é importante a presença do episcopado neste evento”, acrescentaram. Os bispos destacaram ainda, como pontos fortes do encontro, a espiritualidade e a qualidade dos delegados no Intereclesial. Ressaltaram, igualmente, o número expressivo de padres (331). Os bispos presentes sugeriram que as CEBs entrem como um dos temas prioritários na próxima assembleia. A proposta será levada ao Conselho Permanente da CNBB. Por fim, reconheceram que é necessário dar mais visibilidade ao que foi discutido no Intereclesial.
No último dia, a Assembléia decidiu que o próximo intereclesial das CEBS será no Ceará, a partir da diocese de Crato.
Veja as ultimas notícias do Intereclesial das CEBs no site da CNBB: (www.cnbb.org.br).
Neste “dia de missão”, os participantes do Intereclesial visitaram experiências rurais e urbanas das CEBs e do movimento popular na região, além de algumas realidades que clamam. Houve de tudo. Quem foi visitar as comunidades ribeirinhas teve que ficar um longo tempo na estrada, inclusive com ônibus quebrado. Aqueles que optaram por conhecer a triste realidade das penitenciárias de Porto Velho, tiveram que esperar horas e somente alguns puderam ter contato com os presos. Os que visitaram as comunidades urbanas nas periferias perceberam o descaso do poder público para com os pobres, e também provaram a acolhida, a alegria e a fraternidade das comunidades.
Aliás, para mim, este foi o ponto mais forte do Encontro. Entre tantos eventos, congressos, fóruns e encontros em que participei na vida, nunca presenciei um com espírito de colaboração tão forte, somando efetivamente uma multidão de pessoas. Na primeira noite, percebi que havia uma imensa toalha no palco, toda confeccionada de forma artesanal em forma de flores, que se chama “fuxico”. Não podia imaginar quem fez aquilo. Ontem fiquei sabendo: foi a soma de centenas de toalhas artesanais, feitas em muitas comunidades. Tecidas a muitas mãos, com muito carinho. As comunidades rurais e urbanas se prepararam para o encontro durante dois anos.
Este doce sabor da fraternidade e da acolhida foi tematizado na manhã do quarto dia do encontro. Fui novamente para o miniplenário intitulado “Rio Tocantins”. A celebração da manhã, com cantos, leitura da bíblia, salmos entoados e símbolos terminou com a partilha de mel (foto acima), vindo de uma iniciativa de apicultura de socioeconomia solidária de Santa Catarina. Alguns, literalmente, se lambuzaram de mel.... A seguir, partilhou-se nos grupos menores (chamados de “canoa”) a experiência da missão no dia anterior. E, no final da manhã, em cada um dos 12 miniplenários, dois assessores locais apresentaram alguns dados sobre a Amazônia e a Igreja daqui. Onde estive, contamos com a apresentação do Ir. João Gutemberg, marista nascido no Acre, e um bispo da região.
Pude também conhecer e conversar com alguns bispos. Dentre eles, Dom Possamai, vice-presidente da comissão da Amazônia da CNBB e Dom Erwin, bispo prelado do Xingu, região onde viveu Ir. Dorothy. É emocionante ouvir estes homens, que são pastores e profetas.
Dois acontecimentos importantes marcaram ainda o quarto dia do intereclesial das CEBs: os testemunhos de vida e a reunião da equipe ampliada com os bispos. À tarde, no “Porto” (Plenária), a assembléia ouviu os depoimentos do arcebispo negro, emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires (Dom Zumbi), com seus quase 90 anos; o bispo emérito de Goiás (GO), dom Tomás Balduíno, grande batalhador e fundador da CPT e a senadora Marina Silva. Veja detalhes no site da cnbb.
Visite http://www.cnbb.org.br/ns/modules/news/article.php?storyid=1892
Sobre o encontro da Equipe de organização do Encontro com os bispos, relata o Padre Geraldo, assessor de comunicação da CNBB: A presença dos bispos também foi ressaltada como muito importante para o Intereclesial. Foram 56, inclusive o presidente e o vice-presidente da CNBB. “A presença numerosa dos bispos, inclusive a Presidência e os assessores da CNBB, são a confirmação de que as CEBs retomaram o rumo”, avaliaram os membros da Equipe Ampliada. “O intereclesial é uma grande assembleia que faz perceber como anda a Igreja no Brasil. Por isso é importante a presença do episcopado neste evento”, acrescentaram. Os bispos destacaram ainda, como pontos fortes do encontro, a espiritualidade e a qualidade dos delegados no Intereclesial. Ressaltaram, igualmente, o número expressivo de padres (331). Os bispos presentes sugeriram que as CEBs entrem como um dos temas prioritários na próxima assembleia. A proposta será levada ao Conselho Permanente da CNBB. Por fim, reconheceram que é necessário dar mais visibilidade ao que foi discutido no Intereclesial.
No último dia, a Assembléia decidiu que o próximo intereclesial das CEBS será no Ceará, a partir da diocese de Crato.
Veja as ultimas notícias do Intereclesial das CEBs no site da CNBB: (www.cnbb.org.br).
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Intereclesial das CEBs (2)
Porção de sangue de Irmã Doroth, recolhido com a terra onde tombou seu corpo. Caminhada margeando as matas, recordando tantos mártires da Amazônia. Celebração penitencial diante do canteiro de obras da barragem Santo Antônio, no Rio Madeira. Proclamação das Bem-Aventuranças. Calor e chuva repentina. Renovação da Esperança. Grito que ecoa, clamor a Deus!
Tudo isso compôs a celebração penitencial com a qual se concluiu o segundo dia do Intereclesial das Comunidades de Base, aqui em Porto Velho, Rondônia. Os participantes ainda se encontram, à noite com as famílias que as acolheram carinhosamente em suas casas. Momento de recordar um dia intenso...
Começamos a jornada cedinho, as 7.15h da manhã, no Ginásio do SESI, batizado de “Porto”, em alusão à realidade amazônica. Lá se reuniram os 3 mil delegados para a oração da manhã, que desta vez foi animada pelas comunidades indígenas. Tempos de silêncio de acolhida, diante da forma própria dos índios sintonizarem com o sagrado.
Depois, os ônibus nos esperavam. Fomos divididos em 12 rios, grupos de até 300 pessoas, que se encontraram em escolas da Cidade durante boa parte do dia. Fui para o “Rio Tocantins”, que funcionou na escola das salesianas. Na chegada, como em todo lugar onde estivemos, membros de comunidades e paróquias nos acolheram com música e sorriso. Depois da animação, quatro assessores apresentaram brevemente algumas questões referentes à realidade socioambiental da Amazônia e do Brasil. A seguir, fomos para os grupos menores. Ali se dá o momento onde as pessoas podem se ver, se reconhecer, contar seus “causos”, partilhar lutas e conquistas. Foi isso que aconteceu. Estive no grupo 7 e ouvi algumas experiências significativas de CEBs rurais e urbanas.
Na hora do almoço, outra boa surpresa. O alimento simples, farto e saboroso foi elaborado por voluntários(as) das comunidades. Sabor de família, de partilha, de colaboração, que marca desde o início o jeito de ser das CEBs.
No início da tarde apresentou-se uma síntese dos grupos, centrada no momento de VER a realidade da Amazônia e do Brasil, seus gritos e conquistas. Vieram à tona as grandes questões socioambientais. A primeira, sem dúvida, é a expansão violenta do agronegócio exportador, que traz consigo a destruição do ecossistema, dispersão das comunidades tradicionais e pouca melhoria de condição de vida para a população. Tocou-se também sobre a crescente dificuldade de acesso à água potável no Brasil, em distintas regiões. E, como tudo está interligado, também se falou da violência urbana e do tráfico de drogas. Não senti um clima de desespero ou indiferença diante de um quadro tão sério. Ao contrário, as pessoas sabem que estão fazendo sua parte, que estão colaborando para uma sociedade diferente, animadas pela fé. Partilharam-se algumas experiências bem sucedidas de socioeconomia solidária, de agroecologia e de conscientização ambiental.
E no final da tarde, sob um sol escaldante, fizemos a caminhada até a barragem no Rio Madeira. Aliás, escutei várias pessoas comentando sobre os impactos das barragens em sua região. Penso que a questão da energia é vital para a sustentabilidade.
“Mestre, onde moras? Vinde e Vede – Quem conhece, ama!” Como este mote, hoje o dia está dedicado à missão. Os participantes irão visitar uma das experiências locais: população indígena, comunidades agrícolas, comunidades extrativistas, comunidades ribeirinhas, comunidades de ocupação, casa de detenção, hospitais, casa do menor (salesianos), casa de recuperação de dependentes químicos, bairros populares e comunidades afro-descendentes.
As CEBs continuam sendo um sinal de esperança para uma sociedade justa, inclusiva e sustentável. O intereclesial mostra que um mundo novo é possível e dele já se vêem belos e tênues ramos.
Ir. Afonso Murad
Tudo isso compôs a celebração penitencial com a qual se concluiu o segundo dia do Intereclesial das Comunidades de Base, aqui em Porto Velho, Rondônia. Os participantes ainda se encontram, à noite com as famílias que as acolheram carinhosamente em suas casas. Momento de recordar um dia intenso...
Começamos a jornada cedinho, as 7.15h da manhã, no Ginásio do SESI, batizado de “Porto”, em alusão à realidade amazônica. Lá se reuniram os 3 mil delegados para a oração da manhã, que desta vez foi animada pelas comunidades indígenas. Tempos de silêncio de acolhida, diante da forma própria dos índios sintonizarem com o sagrado.
Depois, os ônibus nos esperavam. Fomos divididos em 12 rios, grupos de até 300 pessoas, que se encontraram em escolas da Cidade durante boa parte do dia. Fui para o “Rio Tocantins”, que funcionou na escola das salesianas. Na chegada, como em todo lugar onde estivemos, membros de comunidades e paróquias nos acolheram com música e sorriso. Depois da animação, quatro assessores apresentaram brevemente algumas questões referentes à realidade socioambiental da Amazônia e do Brasil. A seguir, fomos para os grupos menores. Ali se dá o momento onde as pessoas podem se ver, se reconhecer, contar seus “causos”, partilhar lutas e conquistas. Foi isso que aconteceu. Estive no grupo 7 e ouvi algumas experiências significativas de CEBs rurais e urbanas.
Na hora do almoço, outra boa surpresa. O alimento simples, farto e saboroso foi elaborado por voluntários(as) das comunidades. Sabor de família, de partilha, de colaboração, que marca desde o início o jeito de ser das CEBs.
No início da tarde apresentou-se uma síntese dos grupos, centrada no momento de VER a realidade da Amazônia e do Brasil, seus gritos e conquistas. Vieram à tona as grandes questões socioambientais. A primeira, sem dúvida, é a expansão violenta do agronegócio exportador, que traz consigo a destruição do ecossistema, dispersão das comunidades tradicionais e pouca melhoria de condição de vida para a população. Tocou-se também sobre a crescente dificuldade de acesso à água potável no Brasil, em distintas regiões. E, como tudo está interligado, também se falou da violência urbana e do tráfico de drogas. Não senti um clima de desespero ou indiferença diante de um quadro tão sério. Ao contrário, as pessoas sabem que estão fazendo sua parte, que estão colaborando para uma sociedade diferente, animadas pela fé. Partilharam-se algumas experiências bem sucedidas de socioeconomia solidária, de agroecologia e de conscientização ambiental.
E no final da tarde, sob um sol escaldante, fizemos a caminhada até a barragem no Rio Madeira. Aliás, escutei várias pessoas comentando sobre os impactos das barragens em sua região. Penso que a questão da energia é vital para a sustentabilidade.
“Mestre, onde moras? Vinde e Vede – Quem conhece, ama!” Como este mote, hoje o dia está dedicado à missão. Os participantes irão visitar uma das experiências locais: população indígena, comunidades agrícolas, comunidades extrativistas, comunidades ribeirinhas, comunidades de ocupação, casa de detenção, hospitais, casa do menor (salesianos), casa de recuperação de dependentes químicos, bairros populares e comunidades afro-descendentes.
As CEBs continuam sendo um sinal de esperança para uma sociedade justa, inclusiva e sustentável. O intereclesial mostra que um mundo novo é possível e dele já se vêem belos e tênues ramos.
Ir. Afonso Murad
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Intereclesial das CEBs (1)
Esse refrão de origem africana, e proclamado por Dom Moacir Grechi, arcebispo de Porto Velho, resumiu de forma poética o início do XII Intereclesial das Comunidades de Base, que acontece de 21 a 25 de julho. Realizado pela primeira vez na região amazônica, no estado de Rondônia, o interclesial tem como tema: “CEBs, ecologia e missão”, e como lema: “Do Ventre da Terra o grito que vem da Amazônia”. Este importante encontro reúne aproximadamente 3 mil pessoas, entre delegados de base e agentes de pastoral, eleitos em suas dioceses, bispos, 97 assessores, inúmeros convidados de outras igrejas cristãs e de vários países e uma representativa porção de povos indígenas da região amazônica.
Estima-se que mais de 7 mil pessoas estiveram concentradas na noite de 21 de julho, junto com os participantes do Interclesial, na celebração de abertura que ocorreu no centro de Porto Velho. O momento celebrativo, belo e expressivo em símbolos, trouxe um pouco da complexa realidade amazônica: o rio e a mata, os povos da floresta (indígenas, ribeirinhos e seringueiros), o povo da periferia das cidades, a bio-diversidade e a diversidade cultural, a destruição do bioma pelo agronegócio, a esperança e a resistência do povo.
Na celebração de abertura foram lembrados também todos os regionais presentes, com seus respectivos biomas: mata atlântica, cerrado, caatinga, pampas e pantanal. A questão ecológica, compreendida no viés sócio-ambiental e a partir dos pobres, parece marcar o diferencial deste encontro das CEBs. Outro destaque é tornar mais conhecido a Amazônia para os próprios brasileiros.
O segundo dia do encontro das CEBs terá como temática o VER: “Grito Profético da Terra e dos Povos da Amazônia, símbolos da humanidade”. A disposição dos espaços e dos temas levará em conta a realidade da Amazônia. O lugar central das plenárias denonima-se “Porto”. Os lugares onde se reunirão os 12 miniplinários são os “rios”, que abarcam ao todo 144 grupos de partilha e discussão, chamados de “canoas”. Bem cedinho, como é comum aqui na Amazônia, as 7 horas da manhã, inicia-se a animação musical e a celebração organizada pelos povos indígenas. A seguir, haverá uma introdução dos assessores, seguido de trabalho de grupo. Será o momento em que as pessoas poderão se expressar livremente, partilhando sua experiência de vida, suas convicções, lutas e esperanças. Na parte da tarte haverá as miniplenárias, seguida de uma síntese dos respectivos assessores. Por fim, uma celebração penitencial reunindo todos os participantes.
Espera-se que este Intereclesial das CEBs na Amazônia amplie a consciência dos cristãos sobre seu compromisso socioambiental e seja mais um alerta para a sociedade sobre a importância da Amazônia para o nosso planeta. Muitas pequenas luzes, formando uma constelação de Luz e Consciência.
Afonso Murad
domingo, 19 de julho de 2009
12º Intereclesial da CEBs: Ecologia e Missão
Participarei do Intereclesial nos próximos dias. Acompanhe diariamente as notícias neste blog. Por hora, partilho com vocês o texto de Dom Moacir, bispo de Porto Velho.
"O tema do 12o. Intereclesial: “CEBs, Ecologia e Missão” e o lema: “Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia” convidam-nos a adentrar nas linhas e travessões da floresta amazônica, nos emaranhados dos igarapés e na imensidão dos rios para ouvir com o coração o que Deus tem falado “muitas vezes e de muitos modos” (Hb1,1) as nossas comunidades que receberam “do Criador e do Cristo, “primogênito de toda criatura”, a missão de ser, junto com toda a humanidade, “Irmã da Criação”. Por isso, a Igreja considera como parte da sua opção fundamental a salvaguarda de toda a criação, chama todos os homens e mulheres a cuidarem do Planeta como sua casa comum. (Doc.Ass.Reg.N1eN2,1997, n.37) Em 2009, o 12º. Intereclesial das CEBs vai marcar profundamente a comunhão eclesial da Arquidiocese de Porto Velho. A preparação dos últimos três anos, o DOZINHO: I Encontro Arquidiocesano das CEBs reunindo a maior representatividade de nossa arquidiocese, a Romaria da Bíblia, são motivos para animar a nossa caminhada neste chão de Rondônia; colocam-nos em estado permanente de Missão, no espírito do documento de Aparecida. “Aprendemos dia após dia que cada acontecimento eclesial possui o caráter de sinal, pelo qual Deus Se comunica a Si mesmo e nos interpela” (Sacramentum Caritatis 92). Estamos unidos aos povos de diferentes culturas, “aos povos da floresta em sua contemplação do Deus da Vida que manifesta o seu amor maternal na terra, no céu estrelado, no mistério das matas e dos rios” (n.35). Vamos alargar a tenda porque aqui Deus está acampado no meio de nós. As CEBs vivem sua missão nessa região, onde a aliança do Criador com o universo aparece tão fortemente, seja na tradição bíblica, seja nas culturas indígenas. “Eis o que diz o Senhor: Quero fazer uma aliança com os animais da floresta e as aves do céu, com os répteis do chão e tudo o que vive na terra. Vou eliminar o arco e as armas de guerra para que todas as criaturas descansem em segurança. Então, vou me casar contigo na justiça e na misericórdia, na fidelidade e na compaixão. Eu escutarei os céus e eles escutarão a terra, e a terra escutará as plantações” (Os 2, 18-19. 21). Do Bioma Amazônico, a terra ferida, as constantes ameaças à vida, gritos de dor “eu ouvi o clamor do meu povo” (Ex 3,7) e impulsos para um novo parto; são os desafios resultantes do caminho destruidor das florestas, rios e biodiversidade; da grilagem de terras, dos plantadores de soja, do desmatamento e destruição da vida da floresta, das madeireiras, plano de exploração de bauxita e outros minérios, narcotráfico, hidrelétricas, inércia dos governos federal, estadual e municipais, corrupção política, crime organizado. Enquanto, de um lado, o maior desafio dos povos da Amazônia é a construção de uma proposta de desenvolvimento que evite a destruição da floresta e a poluição das águas, que não ameace a sua incrível biodiversidade; de outro lado, os povos da floresta amazônica estão construindo formas de convivência com a Amazônia e estão dando sinais de que desejam que os caminhos de desenvolvimento sejam redefinidos a partir de seus conhecimentos e de suas estratégias, e contem com sua participação efetiva. Devemos favorecer uma autêntica mudança de mentalidade no modo como lemos a história e o mundo através da forma eucarística da existência. Somos impelidos “a considerar a terra como criação de Deus, que produz quanto precisamos para o nosso sustento. As condições ecológicas em que a criação subjaz em muitas partes do mundo suscitam justas preocupações, que encontram motivo de conforto na perspectiva da esperança cristã, pois esta compromete-nos a trabalhar responsavelmente na defesa da criação”. (Sacramentum Caritatis 92). O documento de Aparecida ilumina-nos diante das contradições que derrubam os modelos antigos de missão em que nos apoiamos e nos obrigam a reinventar o novo modo de buscar respostas para a fome de vida e de justiça; ajuda-nos a criar uma “consciência sobre a importância da Amazônia para toda a humanidade e a estabelecer entre as Igrejas locais de diversos países sul-americanos, que estão na bacia amazônica, uma pastoral de conjunto com prioridades, para criar um modelo de desenvolvimento que privilegie os pobres e sirva o bem comum.” (DA 415)
Texto: Dom Moacyr Grechi
Fonte: CNBB
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sábado, 11 de julho de 2009
Governos irresponsáveis
Partilho com você este texto de Leonardo Boff, no qual ele aponta a miopia do atual governo brasileiro quanto à questão ambiental. Boa leitura.
Quem acompanhou a reunião na ONU nos dias 24-26 de junho para encontrar saídas para a crise econômico-financeira, vivenciou dupla perplexidade. A primeira, o fato de se ter chegado a um surpreendente consenso acerca de medidas econômicas e financeiras a serem implementadas a curto e a médio prazo, em função do desenvolvimento/crescimento. A segunda, verificar que tudo se concentrou apenas no aspecto econômico-financeiro sem qualquer referência aos limites da biosfera e à devastação da natureza que o tipo de desenvolvimento vigente implica. Quer dizer, a economia virou um conjunto de teorias e fórmulas que expertos dominam e as aplicam nos países, esquecendo-se de que é parte da sociedade e da política, algo, portanto, ligado à vida das pessoas. Era como se os políticos e expertos, não respirassem, não comessem, não se vestissem e andassem nas nuvens e não no solo. Mas para eles, tais coisas importantes são meras externalidades que não contam.
Ao ouvi-los, pensava eu lá com meus botões: quão inconscientes e irresponsáveis são estes políticos, representantes de seus povos, que não se dão conta de que a verdadeira crise não é esta que discutem, mas a da insustentabilidade da biosfera e a incapacidade de a Mãe Terra de repor os recursos e serviços necessários para a humanidade e para a comunidade. Bem advertiu o ex-secretário da ONU Kofi Annan: esta insustentabilidade não apenas impede a produção e a reprodução senão que põe em risco a sobrevivência da espécie humana.
Todos são reféns da economia-zumbi do desenvolvimento, entendido como puro crescimento econômico (PIB). Ora, exatamente este paradigma do desenvolvimento mentirosamente sustentável do atual modo de acumulação mundial está levando a humanidade e a Terra à ruína. As pessoas são as últimas a contar. Primeiro vêm sempre os mercados, os bancos, o sistema financeiro. Com apenas 1% do que se aplicou para salvar os bancos da falência (alguns trilhões de dólares) poder-se-ia resolver toda a fome do planeta, atesta a FAO. E atualmente, a mesma FAO advertiu, existem 40 países com reserva alimentar de apenas três meses. Sem uma articulada cooperação mundial grassará fome e morte de milhões de pessoas.
Todos são reféns da economia-zumbi do desenvolvimento, entendido como puro crescimento econômico (PIB). Ora, exatamente este paradigma do desenvolvimento mentirosamente sustentável do atual modo de acumulação mundial está levando a humanidade e a Terra à ruína. As pessoas são as últimas a contar. Primeiro vêm sempre os mercados, os bancos, o sistema financeiro. Com apenas 1% do que se aplicou para salvar os bancos da falência (alguns trilhões de dólares) poder-se-ia resolver toda a fome do planeta, atesta a FAO. E atualmente, a mesma FAO advertiu, existem 40 países com reserva alimentar de apenas três meses. Sem uma articulada cooperação mundial grassará fome e morte de milhões de pessoas.
Discutir a crise econômica-financeira sem incluir as demais crises (o aquecimento global, a alimentária, a energética e a humanitária) é mentir aos povos sobre a real situação da humanidade. Temo que nossos filhos e netos, daqui a alguns anos, olhando para o nosso tempo, tenham motivos de nos amaldiçoar e de nos devotar um soberano desprezo, porque não fizemos o que devíamos fazer. Sabíamos dos riscos e preferimos salvar as moedas e garantir os bônus quando poderíamos salvar o Titanic que estava afundando.
O Brasil neste sentido é uma lástima. Se há um país no mundo que goza das melhores oportunidades ecológicas e geopolíticas para ajudar a formular um outro mundo necessário para toda a humanidade, este seria o Brasil. Ele é a potência das águas, possui a maior biodiversidade do planeta, as maiores florestas tropicais, a possibilidade de uma matriz energética limpa à base da água, do vento, do sol, das marés e da biomassa, mas não acordou ainda. Nos fóruns mundiais vive em permanente sesta política, inconsciente, “deitado eternamente em berço esplêndido”. Não despertou para a suas possibilidades e para a responsabilidade face à preservação da Terra e da vida.
Ao contrário, na contramão da história, estão construindo usinas à base do carvão. Desmatou-se a Amazônia em 1.084 quilômetros quadrados entre agosto de 2008 a maio de 2009. O Brasil é o quinto maior poluidor do mundo. O fator ecológico não é estratégico no atual governo. Somos ignorantes, atrasados, faltos de senso de responsabilidade face ao nosso futuro comum.
Ao contrário, na contramão da história, estão construindo usinas à base do carvão. Desmatou-se a Amazônia em 1.084 quilômetros quadrados entre agosto de 2008 a maio de 2009. O Brasil é o quinto maior poluidor do mundo. O fator ecológico não é estratégico no atual governo. Somos ignorantes, atrasados, faltos de senso de responsabilidade face ao nosso futuro comum.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Nos cinco dedos da mão
FUNÇÕES DO GESTOR(A) ECLESIAL
Quando eu era criança, minha irmã brincava com a gente, nomeando respectivamente cada dedo da mão. Dizia assim: “dedo minguinho, seu sobrinho, pai de todos, fura-bolo, cata-piolho”. Hoje, como adulto, percebo que cada dedo é importante para as múltiplas funções da mão, como segurar objetos, tocar violão, digitar, etc. Assim também, a pessoa que desempenha qualquer tarefa de gestão na Igreja deve desenvolver simultaneamente algumas funções. Isso é comum a vários cargos, como a coordenação da catequese, a animação de um grupo de reflexão e de oração, a organização de pastorais ou o presbiterado. Quais são estes cinco dedos da mão para a gestão da pastoral? Podemos resumir: planejamento, organização, liderança, controle e animação espiritual. Baseado no estudo de Bateman e Snell, “Administração”, Ed. McGrawHill, p.16-18, acrescentar-se-á o que é específico para a comunidade cristã.
1. Planejamento. Hoje, qualquer grupo organizado precisa prever suas ações, para evitar a dispersão de energia ou a repetição que leva à morte lenta. Planejar significa especificar metas a serem alcançadas e decidir com antecedência as ações necessárias para alcançá-las. As atividades de planejamento incluem a análise das situações atuais, antecipação do futuro, determinação de objetivos, decisão sobre o tipo de iniciativas a tomar, escolha das estratégias e determinação dos recursos necessários. Um planejamento, quando bem feito, prepara o caminho para conquistas consolidadas. Deve ser gestado com a máxima participação de todos os envolvidos e ser formulado em linguagem acessível. Como é teórico e prático, faz pensar e ajuda a agir com eficácia. Na sociedade contemporânea, onde as mudanças rápidas deixam as pessoas desnorteadas, o exercício do planejamento participativo ajuda a buscar soluções que dão certa segurança. As pessoas usam o cérebro, as intuições e a sensibilidade que brota da fé e assim identificam oportunidades para criar, aprender, fortalecer e sustentar novas formas de evangelizar. Cabe ao gestor(a) coordenar o planejamento e sempre voltar a ele, para manter o rumo da ação pastoral.
2. Organização quer dizer “reunir e coordenar pessoas, informações recursos financeiros e físicos para alcançar os objetivos”. Em qualquer instituição eficaz, a organização de atividades inclui: atrair pessoas competentes, especificar suas responsabilidades, agrupar tarefas em grupos de trabalho, ordenar e alocar recursos e criar condições para que estas pessoas desenvolvam ao máximo suas potencialidades a serviço da missão. Não se deve confundir organização com estruturas arcaicas e ineficazes. Ilude-se quem acha que uma boa organização exige funções rígidas, relações de subordinação, muitas chefias e papelada em cima da mesa. Nos tempos atuais, estruturas flexíveis e ágeis são as melhores. Compete ao gestor(a) eclesial atrair, formar e manter agentes de pastoral que somem aptidões e multipliquem frutos. Além de criar e modificar as estruturas necessárias para alcançar resultados. Organização dinâmica é como o dedo polegar: necessita ser firme e móvel.
3. Liderança significa “estimular as pessoas a serem grandes realizadoras”. O(a) líder motiva sua equipe, comunica-se com uma contato próximo e caloroso, ajuda a monitorar tarefas e inspira os agentes de pastoral a alcançar a metas propostas. Faz como o dedo indicador: sinaliza a direção. Ser líder hoje não é mandar ou “bater amigavelmente nas costas” nos membros de sua equipe. Como os desafios da evangelização são enormes, trata-se de mobilizar as pessoas, para que contribuam com suas idéias e habilidades, realizando tarefas novas. A liderança baseada no evangelho se traduz em serviço efetivo. E o seu critério de verificação consiste no protagonismo crescente das pessoas. Qualquer grupo eclesial deve desenvolver a autonomia, a criatividade e o trabalho em conjunto nos seus membros e com seus interlocutores. Certa vez fui visitar uma creche na periferia de São Paulo e fiquei impressionado com a proposta pedagógico-pastoral de lá. As educadoras estimulavam os bebês, desde pequeninos, a desenvolver a proatividade, a se moverem, a conquistarem espaços. Uma das funções mais importantes do gestor(a) eclesial é exercitar a liderança que aglutina e forma novos líderes.
4. Controle é uma palavra que causa reação negativa em muita gente. Ninguém gosta de ser controlado. E na Igreja há uma compreensão equivocada sobre isso. Devido a uma herança moralista e autoritária, tende-se a controlar o comportamento dos outros, a cobrar demais e até sufocar as pessoas cujo comportamento sai do padrão estabelecido. Mas, estranhamente, não se controlam os processos. Na gestão contemporânea, “controle” significa monitorar as pessoas e os processos, para verificar se os objetivos estão sendo alcançados. Caso isso não esteja acontecendo, redirecionam-se as atividades. Controlar é necessário, na medida certa. Sem ele, há caos. Em demasiado, limita sua capacidade criativa. Há um princípio sábio a seguir. Quando um processo ou uma pessoa está se iniciando, deve haver maior monitoramento do gestor(a). À medida em que se desenvolvem, o controle se torna menor. No começo, esta função pode ser o dedo maior. Depois, será o “minguinho”.
5. Animação espiritual. O que diferencia a ação pastoral da Igreja de outra organização qualquer é a intensidade na qual se vivem, celebram e se anunciam os valores de Jesus e do Reino de Deus. É triste constatar, às vezes, que a diferença reside no amadorismo, na forma de fazer as coisas sem planejamento e avaliação, ou na concentração de poder. Ora, o que qualifica a gestão eclesial é o seguimento a Jesus. Nele buscamos inspiração, dele aprendemos a priorizar os pobres, os fragilizados, os que estão à margem. Com ele, fazemo-nos aprendizes, discípulos. Embora exerçamos funções distintas, somos uma comunidade de irmãos e irmãs, cujo único mestre e Senhor é o Cristo. Quem exerce uma função de coordenação deve continuamente “vigiar e orar”, para que as motivações perigosas do poder não contaminem sua atuação. Um gestor(a) eclesial deve ser servir das melhores ferramentas gerenciais. Precisa estudar, ler, estar conectado com o mundo, inovar. Cercar-se de pessoas que o ajudem a ser cada vez mais eficaz. De outro lado, o convívio diário com a Palavra de Deus abre-lhe um espaço inusitado de gratuidade e de paz no coração. Ele(a) reconhece que a ação divina se serve das mediações humanas. Mas sabe também que a sabedoria, o olhar a realidade com os olhos de Deus, lhe vem por pura graça. A Igreja deve se apropriar dos bons mecanismos da gestão, mas não pode ser administrada somente como uma empresa. O Espírito Santo, com seus múltiplos dons, na diversidade de muitas línguas e expressões, circula na comunidade eclesial como o sangue que oxigena a mão e os dedos, mantendo-lhes vivos. O Espírito leva o gestor(a) eclesial a alimentar continuamente sua identidade de “discípulo e missionário”. A deixar-se iluminar pela luz de deus e a estimular os outros cristãos a trilharem o fascinante caminho de Jesus.
Planejamento, organização, liderança, controle e animação espiritual são competências que o gestor eclesial desenvolve, juntamente com outros membros da comunidade cristã. Cada vez mais, somos chamados a servir o povo de Deus, com generosidade e empenho, seriedade e alegria. As mesmas mãos que tecem os fios, cozinham, digitam, são também as que acariciam, acolhem o abraço, brincam, tocam instrumentos musicais e se unem em prece. São muitos dedos da mesma mão. E muitas mãos em mutirão.
(Artigo a ser publicado na Revista "Paróquias e Casas Religiosas")
Quando eu era criança, minha irmã brincava com a gente, nomeando respectivamente cada dedo da mão. Dizia assim: “dedo minguinho, seu sobrinho, pai de todos, fura-bolo, cata-piolho”. Hoje, como adulto, percebo que cada dedo é importante para as múltiplas funções da mão, como segurar objetos, tocar violão, digitar, etc. Assim também, a pessoa que desempenha qualquer tarefa de gestão na Igreja deve desenvolver simultaneamente algumas funções. Isso é comum a vários cargos, como a coordenação da catequese, a animação de um grupo de reflexão e de oração, a organização de pastorais ou o presbiterado. Quais são estes cinco dedos da mão para a gestão da pastoral? Podemos resumir: planejamento, organização, liderança, controle e animação espiritual. Baseado no estudo de Bateman e Snell, “Administração”, Ed. McGrawHill, p.16-18, acrescentar-se-á o que é específico para a comunidade cristã.
1. Planejamento. Hoje, qualquer grupo organizado precisa prever suas ações, para evitar a dispersão de energia ou a repetição que leva à morte lenta. Planejar significa especificar metas a serem alcançadas e decidir com antecedência as ações necessárias para alcançá-las. As atividades de planejamento incluem a análise das situações atuais, antecipação do futuro, determinação de objetivos, decisão sobre o tipo de iniciativas a tomar, escolha das estratégias e determinação dos recursos necessários. Um planejamento, quando bem feito, prepara o caminho para conquistas consolidadas. Deve ser gestado com a máxima participação de todos os envolvidos e ser formulado em linguagem acessível. Como é teórico e prático, faz pensar e ajuda a agir com eficácia. Na sociedade contemporânea, onde as mudanças rápidas deixam as pessoas desnorteadas, o exercício do planejamento participativo ajuda a buscar soluções que dão certa segurança. As pessoas usam o cérebro, as intuições e a sensibilidade que brota da fé e assim identificam oportunidades para criar, aprender, fortalecer e sustentar novas formas de evangelizar. Cabe ao gestor(a) coordenar o planejamento e sempre voltar a ele, para manter o rumo da ação pastoral.
2. Organização quer dizer “reunir e coordenar pessoas, informações recursos financeiros e físicos para alcançar os objetivos”. Em qualquer instituição eficaz, a organização de atividades inclui: atrair pessoas competentes, especificar suas responsabilidades, agrupar tarefas em grupos de trabalho, ordenar e alocar recursos e criar condições para que estas pessoas desenvolvam ao máximo suas potencialidades a serviço da missão. Não se deve confundir organização com estruturas arcaicas e ineficazes. Ilude-se quem acha que uma boa organização exige funções rígidas, relações de subordinação, muitas chefias e papelada em cima da mesa. Nos tempos atuais, estruturas flexíveis e ágeis são as melhores. Compete ao gestor(a) eclesial atrair, formar e manter agentes de pastoral que somem aptidões e multipliquem frutos. Além de criar e modificar as estruturas necessárias para alcançar resultados. Organização dinâmica é como o dedo polegar: necessita ser firme e móvel.
3. Liderança significa “estimular as pessoas a serem grandes realizadoras”. O(a) líder motiva sua equipe, comunica-se com uma contato próximo e caloroso, ajuda a monitorar tarefas e inspira os agentes de pastoral a alcançar a metas propostas. Faz como o dedo indicador: sinaliza a direção. Ser líder hoje não é mandar ou “bater amigavelmente nas costas” nos membros de sua equipe. Como os desafios da evangelização são enormes, trata-se de mobilizar as pessoas, para que contribuam com suas idéias e habilidades, realizando tarefas novas. A liderança baseada no evangelho se traduz em serviço efetivo. E o seu critério de verificação consiste no protagonismo crescente das pessoas. Qualquer grupo eclesial deve desenvolver a autonomia, a criatividade e o trabalho em conjunto nos seus membros e com seus interlocutores. Certa vez fui visitar uma creche na periferia de São Paulo e fiquei impressionado com a proposta pedagógico-pastoral de lá. As educadoras estimulavam os bebês, desde pequeninos, a desenvolver a proatividade, a se moverem, a conquistarem espaços. Uma das funções mais importantes do gestor(a) eclesial é exercitar a liderança que aglutina e forma novos líderes.
4. Controle é uma palavra que causa reação negativa em muita gente. Ninguém gosta de ser controlado. E na Igreja há uma compreensão equivocada sobre isso. Devido a uma herança moralista e autoritária, tende-se a controlar o comportamento dos outros, a cobrar demais e até sufocar as pessoas cujo comportamento sai do padrão estabelecido. Mas, estranhamente, não se controlam os processos. Na gestão contemporânea, “controle” significa monitorar as pessoas e os processos, para verificar se os objetivos estão sendo alcançados. Caso isso não esteja acontecendo, redirecionam-se as atividades. Controlar é necessário, na medida certa. Sem ele, há caos. Em demasiado, limita sua capacidade criativa. Há um princípio sábio a seguir. Quando um processo ou uma pessoa está se iniciando, deve haver maior monitoramento do gestor(a). À medida em que se desenvolvem, o controle se torna menor. No começo, esta função pode ser o dedo maior. Depois, será o “minguinho”.
5. Animação espiritual. O que diferencia a ação pastoral da Igreja de outra organização qualquer é a intensidade na qual se vivem, celebram e se anunciam os valores de Jesus e do Reino de Deus. É triste constatar, às vezes, que a diferença reside no amadorismo, na forma de fazer as coisas sem planejamento e avaliação, ou na concentração de poder. Ora, o que qualifica a gestão eclesial é o seguimento a Jesus. Nele buscamos inspiração, dele aprendemos a priorizar os pobres, os fragilizados, os que estão à margem. Com ele, fazemo-nos aprendizes, discípulos. Embora exerçamos funções distintas, somos uma comunidade de irmãos e irmãs, cujo único mestre e Senhor é o Cristo. Quem exerce uma função de coordenação deve continuamente “vigiar e orar”, para que as motivações perigosas do poder não contaminem sua atuação. Um gestor(a) eclesial deve ser servir das melhores ferramentas gerenciais. Precisa estudar, ler, estar conectado com o mundo, inovar. Cercar-se de pessoas que o ajudem a ser cada vez mais eficaz. De outro lado, o convívio diário com a Palavra de Deus abre-lhe um espaço inusitado de gratuidade e de paz no coração. Ele(a) reconhece que a ação divina se serve das mediações humanas. Mas sabe também que a sabedoria, o olhar a realidade com os olhos de Deus, lhe vem por pura graça. A Igreja deve se apropriar dos bons mecanismos da gestão, mas não pode ser administrada somente como uma empresa. O Espírito Santo, com seus múltiplos dons, na diversidade de muitas línguas e expressões, circula na comunidade eclesial como o sangue que oxigena a mão e os dedos, mantendo-lhes vivos. O Espírito leva o gestor(a) eclesial a alimentar continuamente sua identidade de “discípulo e missionário”. A deixar-se iluminar pela luz de deus e a estimular os outros cristãos a trilharem o fascinante caminho de Jesus.
Planejamento, organização, liderança, controle e animação espiritual são competências que o gestor eclesial desenvolve, juntamente com outros membros da comunidade cristã. Cada vez mais, somos chamados a servir o povo de Deus, com generosidade e empenho, seriedade e alegria. As mesmas mãos que tecem os fios, cozinham, digitam, são também as que acariciam, acolhem o abraço, brincam, tocam instrumentos musicais e se unem em prece. São muitos dedos da mesma mão. E muitas mãos em mutirão.
(Artigo a ser publicado na Revista "Paróquias e Casas Religiosas")
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