sábado, 19 de dezembro de 2009

Padre Toninho: doces e negras lembranças

Conheci Padre Toninho em 1993. Já faz tempo, meu Deus! Eu acabava de voltar de meu doutorado em Roma e fui convidado para participar da ERT, Equipe de Reflexão Teológica da CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil). A chegar na equipe, encontrei homens e mulheres que estimularam minha reflexão teológica. Um deles era o Padre Antônio Aparecido da Silva, negro, pertencente ao Instituto dos Orionitas, considerado como “um dos maiores estudiosos e defensores da causa negra na Igreja”.
Convivi com Toninho na ERT durante vários anos. Depois, deixei a equipe ao me tornar provincial dos maristas, pois era impossível conciliar as agendas. No ano de 2001 encontrei Toninho na Assembléia Geral da CRB em São Paulo. Ele também era provincial! Conversamos e demos boas gargalhadas. Eu lhe disse: “quando a gente terminar terminar esta missão, vamos voltar para a ERT, pois somos teólogos. E, em 2005, voltamos a fazer parte da mesma equipe teológica. Foi um festa o nosso reencontro!

Guardo de Toninho, recentemente falecido, doces memórias. Em nossas reuniões, Toninho era o homem do bom humor. Grande companheiro, sabia dizer as coisas com clareza e delicadeza. Seu sorriso era contagiante. Discreto, contribuía sempre com algo original. Podia ser pouco, mas tinha profundidade.
A grande aprendizagem que significou para mim conviver e trabalhar com Toninho foi seu olhar multiétnico e pluricultural, a partir de seu lugar de negro e Afrodescendente. Por isso, digo que guardo de Toninho “negras recordações”.

Toninho foi um homem muito importante para a Vida Religiosa, a Igreja e a negritude no Brasil. Convido você a olhar e entrevista com ele no portal afro.
http://www.portalafro.com.br/entrevistas/padretoni/toninho.htm
Veja também alguns depoimentos sobre ele no site do IHU, da Unisinos
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=28517
Nos últimos anos, acometido por diabetes e perda das funções dos rins, Toninho provou a dureza da doença. Sentia suas forças se esvaindo. No mês de agosto esteve na nossa reunião e se despediu. Sua última intervenção na discussão retratou uma enorme sabedoria.

Certa vez, eu o chamei de “Rei Nagô”, e ele sorriu, se reconhecendo no título. Agora, deve estar festejando com o Ressuscitado, os mártires, os santos e as santas, a festa que no céu nunca termina. Com Atabaque e tambores, a grande celebração do triunfo do Reinado de Deus...
Termino com um texto do próprio Toninho sobre a ressurreição. E me calo, chorando sua perda.“A ressurreição, enquanto acontecimento totalizante e totalizador, instauradora de um novo messianismo e da vigência atual e escatológica do Reino, torna-se ponto de encontro e plenificação de todos os anseios e aspirações. A ressurreição é um fato globalizante, uma sementeira jogada sobre o universo. Deus nos ‘escolheu em Cristo antes de criar o mundo’, nos diz a Carta aos Efésios,’ derramou abundantemente sobre nós’ a sua graça (cf. Ef 1,4.6). Portanto, a ressurreição é o lugar da convergência, assim como a cristologia é a plenificação de todas as antropologias”.

Um comentário:

Maicon Donizete Andrade Silva disse...

Meu querido Ir. Murad,
sempre é significativo trazermos à memória pessoas que verdadeiramente testemunharam o ser cristão numa vida de entrega e doação em favor da causa do Reino. Pe Toninho abraçou a luta de seu povo. Como afrodescendente mostrou o valor do povo negro.
Sua vida inspira nossa caminhada
em vista da construção de um mundo novo possível e necessário. A todos AXÉ em Olorum!!

Ir. Maicon, marista