sábado, 24 de abril de 2010

Etapas da morte

Estive hoje na Paróquia N.S. Rainha, no bairro Belvedere, em Belo Horizonte, num seminário sobre Escatologia Cristã. Trabalhei com o tema da Morte e do Juízo de Deus. O grupo, de mais de 150 leigos, me impressionou pelo interesse em aprofundar sua fé.
Gostaria de receber os depoimentos das pessoas que participaram comigo deste momento de formação teológico-pastoral.
Partilho com você um texto do teólogo R. Blank sobre o processo de morrer.

A morte não é algo desconhecido, porque todo ser humano passa por tal experiência. Mas, é relativamente tarde que a ciência começou a se interessar pelo fenômeno. Há pouco mais de vinte anos que o mundo inteiro ficava surpreso com os resultados de uma pesquisa sobre pacientes terminais ou clinicamente mortos que, depois de sua revitalização, revelaram experiências até agora desconhecidas.
Quem, hoje, pesquisar na Internet essas experiências, chamadas de "near-death-experiences", encontra milhões de sites, que se preocupam com o assunto. As assim chamadas "experiências perto da morte", tornaram-se objeto de pesquisas de todo tipo e de interpretações de toda espécie. Ficou de conhecimento geral que, perto da morte, as pessoas podem passar por experiências intrigantes; sentir-se fora de seu corpo, passar por um túnel escuro, enxergar uma luz clara e brilhante, e fazer a experiência de paz e de harmonia no momento de encontrar-se com essa luz.
As interpretações desses fenômenos, cuja existência não mais podemos negar, são das mais variadas. Uns querem ver nelas as primeiras experiências do além. Outros interpretam tudo a partir de mecanismos psicofisiológicos, como últimas descargas bio-elétricas do cérebro. A resposta definitiva até hoje não temos, mas há cada vez mais indícios que apontam na direção de uma explicação psicofisiológica.
A descoberta de tais fenômenos levou a ciência a preocupar-se mais com aquela experiência que, até hoje, ainda permanece um dos campos pouco explorados pela ciência: a morte. O interesse científico pelo fenômeno cresceu de tal maneira que ressurgiu com novo vigor aquele ramo da ciência que se preocupa com a morte, a assim chamada tanatalogia, cujo campo de interesse vai da medicina e da biologia, até as áreas da antropologia social, da psicologia, da antropologia e da sociologia, e finalmente termina com a filosofia e a teologia.
A preocupação científica com a morte mostrou quão pouco ainda sabemos sobre essa última experiência empírica de todos nós. O que acontece conosco na morte?
A famosa pesquisadora Elisabeth Kübler Ross descobriu que, no processo de nosso morrer, se podem distinguir cinco fases bem nítidas. A primeira delas está sendo chamada de "choque ou incredibilidade". Frente à informação de que a sua morte é inevitável, a pessoa, primeiro, não acredita naquilo que os médicos dizem. Quando, porém, não é mais possível negar o óbvio, entra numa segunda fase, aquela da raiva, da ira, e da inveja. "Por que eu? Existem mil razões para eu não morrer!" Pessoas que acreditam em Deus começam a culpá-lo. "Que Deus é este, que me deixa morrer, sabendo que a minha família ainda precisa de mim!"
Há de fato mil razões para não morrer, e na segunda fase, essas razões estão sendo lembradas. Mas, diante da impossibilidade de impedir o processo do morrer, a pessoa se torna agressiva. Agressiva contra si mesma, agressiva contra Deus, agressiva contra as pessoas em torno dela. O pessoal hospitalar que trabalha com moribundos conhece muito bem as explosões de raiva que nessa fase podem acontecer. As pesquisas da tanatologia ajudam-nos a compreender tal comportamento e a tolerá-lo, porque sabemos que, na base de toda essa agressividade, há o profundo desespero daquele que se vê confrontado com o inevitável que lhe inspira medo e do qual quer fugir.
É aqui que se abre todo um campo de ação para uma psicologia hospitalar ainda em formação. Abre-se todo um campo, também, para uma pastoral praticamente inexistente ainda: A pastoral do moribundo. Ela ficaria do lado da pessoa em todos os momentos de seu processo de morrer, ajudando-a a passar com mais facilidade pelas suas fases.
A terceira delas começa a partir do momento em que a pessoa se torna capaz de superar a sua raiva. Com isso, entra na fase da "negociação". Ela tenta negociar um prazo maior. "Vou morrer, sim, mas não já, mas o ano que vêm". Em geral, porém, toda negociação não adianta e, assim, a pessoa entra na quarta etapa de seu processo de morrer: a depressão. O moribundo, agora, deve despedir-se do mundo e, nessa ocasião, percebe que ama sua vida muito mais que pensou. Despedir-se dela torna-o triste. Mas, realizar a despedida é a condição para poder aceitar a morte. Uma vez realizada tal aceitação, a pessoa se tranqüiliza. Ela, agora, pode falar de seu morrer com serenidade e, muitas vezes, nessa fase, é o moribundo que consola a sua família e não mais a família que consola o moribundo.
São estas as cinco fases do morrer, descobertas e pesquisadas pela tanatologia. Mas, além de preocupar-se com esse lado psicossocial do morrer, a mesma tanatologia se interessa também por uma outra questão: quando é que podemos declarar uma pessoa realmente morta?
Nós nos acostumamos a falar de "morte cerebral" ou "morte clínica", mas, em geral, tais termos são compreendidos de maneira muito restrita, assim como se eles designassem a morte da pessoa inteira ou como se fosse um "momento" bem determinado.
Na realidade, porém, era a Comissão Ética da Universidade de Harvard que propunha o termo, em 1968, como definição da morte. Tal redefinição se fez necessária, frente à nova técnica de transplante de corações.
A noção não determina um "momento específico", mas deve ser compreendida muito mais em termos de uma "síndrome" que inclui toda uma escala de sintomas, cuja soma conduz à declaração da morte. Na verdade, essa declaração determina nada além do que a morte de um órgão humano, o cérebro. E as evidências apontam que nem do cérebro inteiro se trata, mas só de uma parte.Quando essa parte morreu, a medicina declara o paciente morto, e esta declaração, além de seu conteúdo médico, tem também um significado jurídico muito importante. A partir daquela declaração, a pessoa é juridicamente morta. Agora, os seus órgãos podem eventualmente ser usados para transplantes. Do ponto de vista biológico, porém, com a declaração da morte cerebral, esses órgãos ainda estão bem vivos. Eles morrerão, progressivamente, num processo que, só mais ou menos três semanas mais tarde, chegará ao seu fim. É este momento que a tanatologia chama de "morte real".

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Internet na Evangelização

Certa vez, fui a uma tradicional cidade de Minas Gerais dar um curso intensivo de Teologia. Na época, eu também fazia um programa diário sobre Maria na Rádio Aparecida. Então, perguntei ao padre se havia rádio na cidade e qual era a presença da Igreja nesta mídia. Ele me respondeu com certa indiferença: “Ah, tem lá um grupo de carismáticos que fazem uns programas durante a semana”. Por intermédio de outro padre, fui convidado a fazer a “Hora do Angelus”. O operador da rádio me disse então: “Irmão, há dias em que eu não sei o que fazer aqui às seis da tarde, pois ninguém me orienta ou me dá material para os programas. Nossa rádio atinge muitas pessoas na cidade e principalmente nas comunidades rurais, e me dá pena de ver que este espaço não é utilizado”.
Voltei para casa triste. No dia seguinte, conversei com alguns padres e leigos. Perguntei-lhes: Porque vocês não assumem estes e outros espaços na rádio? Houve um silêncio, e depois alguém arriscou uma resposta: “Temos muito o que fazer na paróquia. Não sobra tempo!”. Na realidade, o problema não estava no tempo, mas nas prioridades. Estimulei que criassem uma equipe da pastoral da comunicação do rádio. E assim, eles fizeram.
Se a Igreja ainda tem dificuldades em evangelizar com o rádio, um veículo de comunicação tão popular e tradicional, imagine então com a internet, um meio novo, que despontou nos últimos anos e cresce rapidamente, utilizando recursos inéditos.

Um meio pouco conhecido no âmbito eclesial
Predominam medo e preconceito, quando se fala em Internet nos meios eclesiais. Há um número significativo de padres, bispos e agentes de pastoral, sobretudo os de faixa etária superior a 50 anos, de “analfabetos digitais”. Ou seja, não sabem e nem se dispõem a utilizar o computador ou acessar a internet. Portanto, falam daquilo que não conhecem, nem utilizam.
Alguns repetem o discurso moralista: “o computador e a internet estão destruindo as relações. As pessoas já não conversam entre si e passam muitas horas diante da máquina”. Ou: “A internet é um antro de perdição”. É verdade que o acesso ao computador, com o conseqüente uso da internet, se realizado sem critérios e sem limites de tempo, apresenta sérios riscos à convivência humana. Pode substituir o necessário contato entre pessoas na família e na comunidade. Além disso, pode levar a pessoa a processos de dependência ou a enredar-se na pornografia, na violência ou outras vias desumanizadoras. De outro lado, a internet abre amplas possibilidades de comunicação não mais presencial, e sim virtual.
A Internet é uma rede de computadores mundial de acesso de público ilimitado que utiliza uma infra-estrutura de telecomunicações homogênea. Atualmente qualquer pessoa física ou jurídica pode participar da Internet. Os requisitos são possuir um computador, um programa (software) e uma conexão com um provedor de acesso. Para viabilizar a troca de mensagens na Internet foi desenvolvido o protocolo de comunicação TCP/IP – Transmission Control Protocol/Internet Protocol. (Em português: Protocolo de Controle de Informação/Protocolo da Internet). Sua função é dividir uma mensagem em vários pacotes compatíveis com a rede e encaminhá-los ao computador com um determinado endereço na Internet.

A história da Internet começa na guerra fria na década de 60 com o medo da aniquilação numa guerra nuclear. O Departamento de Defesa Norte Americano desenvolveu uma rede de computadores para a transmissão de informações imune a sabotagens. A idéia foi criar uma rede com vários computadores que pudessem trocar informações através de várias conexões independentes, de tal forma que se uma conexão ou um computador fossem paralisados os outros poderiam continuar a realizar esta tarefa. Anos depois, a internet começou a ser usada por empresas e por pessoas para se comunicarem através de emails ou correio eletrônico. E depois, se estendeu a muitas outras possibilidades. (Fonte: www.efagundes.com/artigos)
Do ponto de vista humano, a internet é mais do que uma rede de computadores. Transformou-se numa Rede de redes entre pessoas e organizações. Sendo assim, ela não tem dono ou um poder central, embora seja monitorada e controlada de várias formas. A sociedade da Internet, grupo sem fins lucrativos formado em 1992, supervisiona a formação de políticas e protocolos que definem como usamos e interagimos com a Internet. Portanto, Internet é uma coleção global de redes, grandes e pequenas. Estas redes se conectam de vários modos diferentes. De fato, o nome realmente vem desta idéia de redes interconectadas. (Fonte: informatica.hsw.uol.com.br/infra-estrutura-da-internet.htm)

A internet facilita a comunicação entre pessoas, grupos e organizações por meio de muitos recursos. Citemos os mais conhecidos: correio eletrônico (email ou emeio); redes ou grupos em torno a assuntos comuns; redes de relacionamento (como Orkut e Facebook); comunicação instantânea interpessoal através de escrita, voz ou vídeo (como o MSN ou Skype); vídeo-conferência (três ou mais pessoas conectadas); site (sítio ou página na internet); portal (página mais complexa, que se abre para várias áreas da informação); blog (diário virtual que permite participação do internauta); compartilhamento de textos, músicas ou vídeos (como Youtube e Scribd), compartilhamento de programas, rádio e TV virtuais, biblioteca virtual (como o Google books) e mensagens para celulares e smartphones. Isso sem falar da transmissão de dados de natureza técnica, tais como planilhas financeiras, projetos, dados contábeis, listas de nomes, estatísticas, fichas cadastrais, registros e documentos. Por fim, a internet está se tornando também um importante meio de entretenimento, ao oferecer vídeos, clipes e transmissão de alguns programas de rádio e TV em tempo real.

Internet e o mundo dos jovens
No Brasil, acontece um fenômeno assustador. Parcela crescente da juventude, de todas as classes sociais, acessa a internet praticamente todos os dias. Os ricos têm computadores com conexão de banda larga em casa. Os pobres aprendem a usar o computador e a internet nas iniciativas de inclusão digital, que se multiplicam em todos os cantos do país, e freqüentam as “Lan Houses” dos bairros de periferia. Os jovens não somente são usuários da Internet. Uma minoria qualitativa participa das comunidades que geram programas (softwares) livres, compartilha informações e aperfeiçoa técnicas.
Na última semana de janeiro de 2010, aconteceu em São Paulo um evento inusitado. Aproximadamente seis mil jovens acamparam no “Campus Party”. Os “campuseiros” se divertiram, estudaram, participaram de seminários, “baixaram” muitos arquivos da internet e partilharam seus conhecimentos sobre informática. Uma articulista da Folha de São Paulo, que lá esteve, assim descreveu sua experiência: “Precisamos entender como a inteligência e o conhecimento são compartilhados hoje e para onde apontam. A revolução da tecnologia da informação provocou mudanças tão profundas que ainda não conseguimos entender para que lado faz pender a saga da humanidade. Quem poderia prever, poucas décadas atrás, a formidável expansão do universo das redes de relacionamento e troca de informação via internet?
A Campus Party é o grande evento dessa nova cultura digital. O que mais me comoveu foi ter reconhecido naqueles jovens o mesmo inconformismo, generosidade e disposição para mudar o mundo que em outras gerações se manifestavam de outras formas. Participei de uma iniciação digital e da “desconferência”, onde convidado e platéia estão quase no mesmo nível de protagonismo e a conversa toma o rumo que essa interação permite.
Durante o percurso entre os campuseiros, tive a sensação de estar entrando numa mata densa, cheia de boas surpresas e riscos, onde deleite e perigo têm uma linha tênue de separação. Edgar Morin (diz) que para sair da crise em que nos encontramos é necessário promover o diálogo de saberes. Na Campus Party, me senti o tempo todo praticando esse preceito. E percebi como ele é fundamental e empolgante. (M. Silva, FSP, 1 fev 2010).

A internet faz parte do dia a dia de muitos jovens, a ponto de constituir parte de sua cultura. Eles transitam no mundo virtual com muita facilidade e são capazes de realizar tarefas simultâneas, como estudar, ouvir rádio e digitar mensagens na internet. Fascinam-se com as comunidades virtuais, compartilha imagens, sons e experiências. Em menor grau, utilizam a internet como instrumento de pesquisa para uso escolar e acadêmico. Seguramente, isto oferece perigos, pois existem muitas coisas na internet que podem desvirtuar o caminho existencial da juventude. Mas há também chance para anunciar o evangelho e fortalecer a comunidade dos seguidores de Jesus.
Não se sabe, com precisão, como os jovens lidam com os temas religiosos na internet. O fato indiscutível é esse: se a Igreja quer evangelizar os jovens, deve também estar presente no espaço virtual da internet, com todos os recursos possíveis que ela dispõe. E principalmente, deve identificar e engajar os jovens criativos, para que eles sejam produtores de conhecimento e de informação na internet. Evangelizadores de outros jovens no mundo virtual e real! Somente acreditando nos jovens e investindo neles, poderá realizar esta missão.

Janelas de possibilidades da internet
Aconteceu no dia 23 de janeiro de 2010. A notícia foi publicada em várias páginas da internet. Em sua mensagem para a Igreja Católica no Dia Mundial da Comunicação, o papa, de 82 anos, reconheceu que os padres devem aproveitar ao máximo o “rico menu de opções” oferecido pelas novas tecnologias. “Por Deus, tenham um blog!”, disse Bento 16 aos padres católicos, afirmando que eles devem aprender a usar novas formas de comunicação para difundir o evangelho.
“Os padres são assim desafiados a proclamar o evangelho empregando as últimas gerações de recursos audiovisuais –imagens, vídeos, atributos animados, blogs, sites– que juntamente com os meios tradicionais podem abrir novas visões para o diálogo, evangelização e catequização” (Bento 16). Neste mesmo discurso, o papa alertou os padres de que não tentem tornarem-se estrelas da nova mídia. “Os padres no mundo das comunicações digitais devem ser mais chamativos pelos seus corações religiosos do que por seus talentos comunicativos”, disse ele.

No ano passado, um novo site do Vaticano, http://www.pope2you.net/, foi lançado, oferecendo o aplicativo chamado “O Papa se encontra com você no Facebook”, e outro que permite acesso aos discursos e mensagens do Papa nos iPhones ou iPods dos fiéis.
Esta notícia faz pensar. Trata-se de um apelo para toda a Igreja, em suas múltiplas iniciativas e formas de expressão. Presbíteros, religiosas(as) e leigos, todos os agentes de pastoral precisam responder aos desafios das “mudanças culturais de hoje” se quiserem atingir sobretudo os mais jovens. Mas, afinal, porque evangelizar também pela internet?

A internet, como canal de comunicação, abre enormes possibilidades de evangelização. Elenquemos brevemente:
- O custo de implantação e manutenção é mínimo, se comparado com outras mídias, como rádio, TV e jornal.
- O recurso à internet, através de sites e blogs, reforça a mensagem transmitida por outras mídias. Possibilita a atualização de notícias, acesso à informação já veiculada e a interatividade com o público. Basta ver como os grandes jornais desenvolveram suas páginas na internet, que são muito visitadas. O mesmo se dá com determinados programas de televisão, que se prolongam num diálogo em “chats” ou outra forma de comunicação.
- Através da internet, a Igreja pode mostrar sua face plural e diversificada. Ela não fala apenas com uma voz, mas a várias vozes. Para alguns, isso pode soar como ameaça à unidade. Na prática, se construída em espírito de diálogo e respeito mútuo, estimula a tolerância, a caridade e o debate enriquecedor. Em suma, favorece a construção da unidade na diversidade.
- Comunidades sociais (como Orkut e Facebook) e sites ajudam a estreitar os laços da Igreja-comunidade com seus membros. Como é bom visitar a página de uma paróquia e ver fotos, textos e depoimentos de encontros e eventos. Os momentos comunitários se prolongam e ganham visibilidade.
- A internet, nos seus múltiplos recursos, oportuniza comunicar e testemunhar a fé cristã de muitas formas: textos, fotos, aúdio e vídeo. As novas gerações se desenvolvem na cultura virtual, cercada destes recursos. Não somente consomem, mas também produzem conhecimento com estes meios. Evangelizar pela internet não é somente espalhar textos, arquivos com belas imagens ou apresentações de powerpoint. A grande novidade consiste e estimular e preparar as novas gerações para que sejam protagonistas da evangelização, agentes ativos e criativos.
- Algumas pessoas, devido às suas aptidões, ganham notoriedade na rede. Recordemos aqui, entre tantos casos de sucesso, o de Mallu Magalhães, que tornou conhecido seu talento musical no meio dos jovens pela internet. Imaginemos como isso pode se dar no âmbito da evangelização de crianças, adolescentes e jovens.
- A internet oferece um espaço de interlocução com homens e mulheres de outras crenças, que buscam a Deus, cultivam a espiritualidade e pautam sua existência pela ética. Alguns desses interlocutores manterão suas crenças, reconhecendo-se em sintonia com os cristão na grande causa do BEM, e reforçarão sua fé e sua esperança. Para outros, será a oportunidade de descobrir uma face nova do evangelho e da Igreja, despertando o interesse de participar dela.
- A internet é hoje a fonte de informação mais acessível, fácil, rápida e econômica. Neste sentido, não somente é um espaço para evangelizar, mas também uma fonte de subsídios. Auxilia o agente de pastoral, fornecendo-lhe dados preciosos sobre a cultura contemporânea, tendências, opiniões e percepções de mundo. Por isso mesmo, também exige discernimento e critérios para a seleção das informações.
- A Igreja promove várias iniciativas em vista do bem da sociedade. Sustenta ou apóia grupos de socioeconomia solidária, movimentos populares, grupos de mulheres, obras sociais com crianças e jovens em situação de risco pessoal e social. Forma cidadãos com consciência social e ambiental. Mas a visibilidade destas iniciativas deixa a desejar. A internet oferece possibilidade de divulgação das práticas solidárias que nascem da fé e expressam uma crença que transforma a sociedade.

Exigências de evangelização pela internetO espaço virtual não substitui o presencial, pois a vivência da fé postula vínculos afetivos e proximidade entre as pessoas. A evangelização pela internet não é a solução, mas somente uma parte dela. Há que se cuidar da qualidade dos processos evangelizadores com os grupos efetivos, como na liturgia, na catequese, na pastoral de juventude, nos círculos bíblicos, nos grupos de oração. Para a Igreja, a comunicação pela internet enriquece, amplia, diversifica e divulga uma prática real, sustentada em pessoas e processos. Não se trata de uma imagem simulada, mas da expressão da realidade.
A evangelização no espaço virtual tem suas exigências. Quem já está mergulhado neste meio, descobriu que não basta lançar informações, de qualquer forma. Vejamos alguns cuidados da evangelização pela internet.
A primeira exigência consiste em aprender o que é específico da internet, suas possibilidades e limites. Em vários casos, é necessário recorrer a um profissional da área. Em outros, é preciso uma formação específica, superando assim o amadorismo e a improvisação.
A cultura midiática valoriza muito a imagem, a estética, o “design”. Um site, um blog ou qualquer outro recurso deve ser leve e bonito. Infelizmente, um percentual significativo de material produzido por pastorais, movimentos e demais orgãos da Igreja não desenvolvem bem este quesito. É preciso investir na beleza, clareza e navegabilidade dos sites eclesiais, de forma que eles se tornem mais atrativos.
A mensagem escrita na internet é breve, concisa e direta. Para isso, deve-se desenvolver a capacidade de se expressar com menos palavras, concentrando-se no essencial. Exemplo radical disso é o microblog “Twitter”, que exige que o “twitteiro” se comunique como somente 140 caracteres. Com a internet, aprendemos a falar menos e dizer mais.
O uso da internet na evangelização coloca uma grande exigência para a Igreja, que é um apelo de conversão. Não basta entrar num canal novo ou usar recursos contemporâneos. Trata-se sobretudo de renovar o próprio contéudo da mensagem, numa relação dialogal com o mundo contemporâneo. Há grupos fundamentalistas, de diversas religiões e Igrejas, que sabem usar muito bem a Internet. Mas o seu horizonte náo é de rede, de intercomunicação, em vista da criação de uma sociedade planetária. Colocam-se na postura de transmitir uma verdade congelada e inflexível. Conosco, não deve ser assim. Somos discípulos e missionários, aprendizes e anunciadores, num diálogo enriquecedor com outras religiões, homens e mulheres de bem, movimentos sociais e ecológicos, governos e empresas. A internet, enquanto rede de interconexões, põe para a Igreja a tarefa de vencer a tentação da autosuficiência, do orgulho e do senso de superioridade. Faz-nos mais humildes, peregrinos, exercitantes do discernimento comunitário.

A internet pode ajudar a Igreja e exercitar sua catolicidade de forma nova. A Igreja se proclama “católica” porque é una, sendo diversa, em todas as partes do mundo. Ao mesmo tempo que inculturada em determinado campo geográfico ou cultural, ela é “comunidade de comunidades”, unida em torno a seus pastores, constituindo uma grande rede mundial. Seria muito pouco se cada paróquia, movimento ou pastoral criasse seu espaço na internet. E em breve, estaríamos numa grande competição interna e haveria uma sobrecarga de informação. Deve-se suscitar uma grande comunidade de aprendizagem, de forma que as pessoas e os grupos aprendam uns com os outros. Isso acontece simultaneamente em vários âmbitos: conteúdo e metodologia para evangelizar, partilha de experiências bem sucedidas e difusão de ferramentas. É preciso romper o isolamento e favorecer a “gestão do conhecimento” na pastoral. Somente assim a Igreja dará conta de acompanhar as rápidas mudanças culturais em curso.
Quem usa a internet como meio de evangelização, deve reservar um tempo periódico para isso, diário ou semanal. É preciso manter e atualizar o que se criou. É necessário navegar constantemente na rede e identificar as novas oportunidades e tendências.
Em alguns casos, será necessário a constituição de uma equipe que coordene e maneje, com eficiência e criatividade, o espaço evangelizador na Internet.

Um conviteCerta vez, num sábado à tarde, fiz uma ligação telefônica para o Irmão Zeferino Falqueto, então com 80 anos. Alguém, do outro lado da linha, me respondeu: “Ele não está em casa. No momento, participa de um curso de informática na obra social marista, junto com os jovens”. A notícia me trouxe surpresa e alegria. Até hoje, meu co-Irmão utiliza a internet para mandar notícias, acolher pessoas, manter vínculos, partilhar suas reflexões pessoais. Do seu jeito, com a sua idade, evangeliza pela internet.
A partir deste exemplo de vida do Irmão Zeferino, convido-o, caro leitor, a ser um internauta. Comece com aquilo que lhe atraia a curiosidade e seja útil. Depois, comece a percorrer outras áreas da informação. Tenha cuidado em verificar se suas fontes são verdadeiras e não divulgue notícias de origem duvidosa. Cite sempre os autores. Evite de sobrecarregar a caixa de email dos seus amigos com excesso de mensagens. Selecione o que vai remeter. Selecione também o que você vê. Alinhe-se ao time do Bem e rejeite o uso perverso da Internet. Faça parte da grande corrente da VIDA. Entre na Rede. Seja também um tecelão dela.
Evangelizar na Internet é um novo desafio para a Igreja. Não será uma tarefa para todos, mas seguramente suscitará muitos agentes de pastoral conectados com as linguagens contemporâneas. Parodiando uma conhecida música, pode-se afirmar: “Como são belas as mãos, os olhos, a imaginação e a criatividade dos mensageiros que anunciam a paz”...
Afonso Murad

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Gestão Hospitalar e Espiritualidade

Estive em Curitiba, num evento de formação de Gestores da ALIANÇA SAÚDE, entidade coordenada pelos Irmãos Maristas da região Centro-Sul.
A instituição reúne o Hospital Cajurú, o Hospital Santa Casa de Curitiba, a Maternidade Maracanã e o Hospital N.S da Luz, totalizando aproximadamente 3000 colaboradores.
Na manhã de 7 de abril, trabalhei com um grupo de aproximadamente 100 pessoas, sobre o tema "Gestão e Espiritualidade", no campus da PUC do Paraná.
Gostei muito do grupo. Houve várias intervenções de qualidade, refletindo sobre a experiência pessoal e institucional, apontando limitações e avanços, além da ênfase na qualidade da vida e no cultivo da espiritualidade. Vi pessoas com brilho nos olhos, profissionais e pessoas de fé.
Se você participou do evento, deixe aqui sua opinião ou sua reflexão. Gostaria que aquele momento ímpar se estendesse a outras pessoas, que estão no mesmo processo de busca. Obrigado.
Ir. Afonso Murad.
murad4@hotmail.com

domingo, 4 de abril de 2010

Páscoa

Madrugada....
Mulheres correm ao túmulo.
O corpo torturado, macerado e inerte do mestre já não está mais lá.
O crucificado foi transmutado pelo Pai.
Assumiu outra forma de existência, a glorificada.
A morte e as forças da Morte já não tem a última palavra na história.
A vida venceu! O Reino de Deus é uma esperança verdadeira, não uma ilusão.
Alegria inunda os rostos, os corações, as mentes.
Novo olhar, a fé fortalecida...
O ressuscitado caminha conosco.
Ele abraça carinhosamente a humanidade e o cosmos.
Feliz Páscoa!

Imagem: Romero Brito