Na festa de Corpus Christi, tomei as leituras bíblicas do dia para meditar. A primeira, de Dt 8,2-16 é um alerta ao Povo de Deus: “Lembre-se do caminho que você percorreu no deserto. Recorde-se de como Javé lhe educou, foi seu guia, alimentou você com o maná”. E o centro do relato soa forte e inequívoco: “para mostrar-lhe que nem só de pão vive o ser humano, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor”. Já o evangelho de Jo 6,51-58, sobre o pão da vida, é uma bela catequese sobre a eucaristia, como pão que alimenta os cristãos, para que vivam pela causa de Jesus.
Enquanto meditava, ouvi a procissão passar. Cantos de louvor e adoração à hóstia consagrada! Solenes roupas revestindo o padre: enorme túnica e outros adereços. Mais tarde, liguei a TV e numa emissora católica vi o espetáculo da adoração ao santíssimo, num gigantesco ostensório.
Voltei então aos textos bíblicos e me invadiu um sentimento de estranheza. Não há neles nenhuma alusão direta à adoração à eucaristia! A mensagem é outra: devemos nos alimentar do corpo do Cristo ressuscitado, como o povo de Israel se alimentou do maná, para perseverarmos nos caminhos do Mestre.
Reconheço a legitimidade da adoração ao Santíssimo, como forma de reverenciar Jesus Cristo, nosso mestre e Senhor. Encanta-me também celebrar a eucaristia e partilhar a palavra com homens e mulheres que estão no caminho da fé junto comigo. A celebração eucarística é memória detonadora da utopia do Reino de Deus.
É fundamental manter estas duas dimensões da eucaristia. De um lado, louvor, reverência ao Senhor da Vida! De outro, compromisso com uma nova sociedade que sinaliza o grande banquete do Reino. Adorar e partilhar! Reverenciar o mistério e por-se a caminho.