sábado, 8 de novembro de 2014
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Encontro de Papa Francisco com movimentos sociais do mundo
Terá início nesta segunda-feira, 27
de outubro, o Encontro Mundial do
Movimento Popular com o Papa Francisco, no Vaticano. O evento é realizado
pelos movimentos representativos dos mais excluídos e excluídas de todo o mundo
juntamente com o Pontifício Conselho Justiça e Paz e a Academia Pontifícia de
Ciências Sociais, e se estenderá até a quarta-feira, dia 29. Não há registros
na historia, que algum Papado tenha tomado iniciativa semelhante, a de convidar
os mais diferentes movimentos populares, representativos de vários segmentos
sociais, entre os trabalhadores que enfrentam mais dificuldades, para ouvi-los.
Espera-se a participação de cerca de 100 delegados de diferente procedência,
que reúnem: 1) trabalhadores precarizados, temporários, migrantes e os que
participam do setor popular, informal e/ou de autogestão, sem proteção legal,
reconhecimento sindical nem direitos trabalhistas; 2) camponeses sem terra e
povos indígenas ou pessoas em risco de serem expulsas do campo por causa da
especulação agrícola e da violência; 3) pessoas que vivem nos subúrbios e
assentamentos informais, os marginalizados, desalojados, os esquecidos, sem
infraestrutura urbana adequada. Também participarão organizações sindicais,
sociais e de direitos humanos que acompanham os processos de organização e luta
desses setores sociais. Participarão pessoas de todo o mundo e, especificamente
latino-americanos, do Brasil, Argentina, Haiti, Colômbia, Uruguai, México,
Guatemala, Peru, Venezuela, Equador, Paraguai, Honduras, Bolívia, Nicarágua,
Cuba e El Salvador.
Além disso, bispos e outros
trabalhadores da Igreja de vários países foram convidados, com a finalidade de
estimular o diálogo e a colaboração com a Igreja. A reunião será realizada em
espanhol, francês, inglês, italiano e português. O Encontro concluirá com a
promoção de uma instância internacional de coordenação entre os movimentos
populares, com o apoio e colaboração da Igreja.
A programação dos três dias do Encontro:
1º dia: conhecer a realidade de
hoje, as lutas e os pensamentos dos movimentos populares;
2º dia: apreciar o ensino do Papa
Francisco sobre a forma de avançar juntos rumo a um autêntico desenvolvimento
humano integral
3º dia: construir e assumir compromissos concretos
para coordenar as organizações dos excluídos e sua colaboração com a Igreja
Os objetivos centrais do Encontro são: compartilhar o pensamento
social de Francisco, em especial os elementos aportados em sua Exortação
Apostólica "A Alegria do Evangelho” e debatê-lo a partir da perspectiva
dos movimentos populares; elaborar uma síntese da visão dos movimentos
populares em torno das causas da crescente desigualdade social e do aumento da
exclusão em todo o mundo, fundamentalmente a exclusão da terra, do trabalho e
de moradia; refletir coletivamente sobre as experiências organizativas dos
movimentos populares como formas de solução para as mencionadas injustiças,
colocando em debate as práticas, formas de interação com as instituições e
perspectivas futuras.
Também
são objetivos: propor alternativas populares para enfrentar os problemas –
guerra, deslocamentos, fome, miséria, desemprego, precarização, exclusão –,
gerados pelo capitalismo financeiro, pela prepotência militar e o imenso poder
das transnacionais, a partir do ponto de vista dos pobres, com a perspectiva de
construir uma sociedade pacífica, livre e justa; e, por fim, discutir a relação
dos Movimentos Populares com a Igreja, e como avançar na criação de uma
instância de articulação e colaboração permanente.
Fonte: Portal ADITAL.
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Papa Francisco e movimentos sociais
domingo, 7 de setembro de 2014
Libanio e os jovens
Minha contribuição no seminário "crer, interpretar e transformar. A teologia de J.B. Libanio", que aconteceu na PUC Rio.
domingo, 24 de agosto de 2014
A Igreja em saída (2ª parte)
2ª Parte do roteiro didático para reflexão em grupos, da Exortação Apostólica "Alegria do Evangelho" (Evangelii Gaudium), do Papa Francisco. Capítulo 1: Igreja em saída.
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Alegria do Evangelho,
Evangelii Gaudium,
Igreja em Saída
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
O senso dos fiéis (Documento da Comissão Teológica Internacional)
Compartilho com você esta boa notícia.
O comentário é de Christine Schenk, Irmã da Congregação de São José, em artigo
publicado por National Catholic Reporter, 31-07-2014, traduzido pelo IHU e
compartilhado na ADITAL.
No mês de junho, a Comissão Teológica Internacional publicou um
documento inovador: "‘O Sensus Fidei’ na vida da Igreja”. Seu texto
surpreendeu muita gente, pois reconhece o papel desempenhado por católicos
comuns no crescimento e desenvolvimento (também conhecido por "mudança”)
do ensino da Igreja ao longo da história e nos dias de hoje. O documento também
valida a experiência frequente de católicos que acabam não aceitando certas
doutrinas "caso não reconheçam nelas a voz de Cristo, o Bom Pastor”.
Sugere também ações a serem tomadas por parte tanto dos leigos quanto do clero
para resolver este impasse potencial.
Ainda que considere o magistério como tendo necessariamente a palavra
final, o documento também reconhece publicamente a realidade de dissidência na
Igreja através da negação do assentimento. (Cf. § 6 abaixo). Mais surpreendente
ainda é que o texto diz que o próprio magistério pode ter tido um papel a
desempenhar: "Em alguns casos [dissidentes, esta situação] pode indicar
que certas decisões foram tomadas por aqueles que têm autoridade sem
considerarem a experiência e o ‘sensus fidei’ dos fiéis, ou sem uma consulta
prévia deles pelo magistério”. (..) Embora faça uma distinção cuidadosa entre a
opinião pública e o "sentido dos fiéis”, o documento valoriza, não
obstante, o papel da opinião pública e lista critérios úteis para os católicos
avaliarem as disposições importantes necessárias para participar no "sensus
fidei” [sentido da fé].
Pôr em prática o que diz o texto parece-me um desafio enorme para os
leigos bem como para o clero. Porém devemos tentar, porque isto pode nos ajudar
a descobrir novas estruturas que integram o "sensus fidei” nas tomadas de
decisão da Igreja, até então de domínio exclusivo do clero masculino.
Estruturas inclusivas novas têm o potencial de fazer nascer uma nova comunidade
eclesial, uma comunidade que respeite a dignidade humana de todo o povo de
Deus, desde o maior ao menor (..).
(Veja as) "Top 10”. Os números entre parênteses
correspondem à citação original do documento.
1. "Deve-se recordar que (...) às vezes a verdade da fé tem sido
conservada não pelo empenho dos teólogos ou pelo ensinamento da maioria dos
bispos, mas no coração dos que creem” (119).
2. "O ‘sensus fidei fidelis’ [sentido da fé dos fiéis] é uma
espécie de instinto espiritual que capacita o crente a julgar espontaneamente
se um ensino ou prática particular está ou não em conformidade com o Evangelho
e com a fé apostólica” (49).
3. "Em cada crente há uma interação vital entre o ‘sensus fidei’ e
a vivência da fé nos vários contextos de sua vida pessoal. (...) Pôr a fé em
prática na realidade concreta das situações existenciais nas quais se é colado
através de relações de família, profissionais e culturais (...) capacita o
crente a ver mais precisamente o valor e os limites de uma dada doutrina e a
propor formas de aperfeiçoar a sua formulação. É por isso que os que ensinam em
nome da Igreja deveriam dar plena atenção à experiência dos crentes,
especialmente os leitos, que se esforçam para pôr em prática o ensino da Igreja”
(59).
4. "O ‘sensus fidei fidelis’ capacita os crentes individuais a:
- discernir se um ensino ou prática em particular que encontram na
Igreja está ou não coerente com a verdadeira fé pela qual vivem na comunhão da
Igreja;
- distinguir entre o essencial e o secundário naquilo que se prega; e
- determinar e pôr em prática o testemunho de Jesus Cristo que devem dar
no contexto histórico e cultural em que vivem” (60).
5. "O ‘sensus fidei fidelis’ também capacita os crentes a
perceberem qualquer desarmonia, incoerência ou contradição entre um ensino ou
prática e a fé cristã autêntica pela qual vivem (...). Em tais casos, os
crentes resistem internamente aos ensinos ou práticas concernentes e não os
aceitam nem participam deles” (62).
6. "Alertados pelo seu ‘sensus fidei’, os crentes podem negar
assentimento até mesmo ao ensino de pastores legítimos caso não reconheçam nele
a voz de Cristo, o Bom Pastor. (...) Exige-se uma ação apropriada de ambos os
lados em tais situações. Os fiéis devem refletir sobre o ensino que é dado,
esforçando-se de todo modo para compreender e aceitá-lo. A resistência, como
uma questão de princípio, ao ensino do magistério é incompatível com o ‘sensus
fidei’ autêntico. O magistério deve também refletir sobre o ensino (...) e
considerar se ele precisa de esclarecimento ou reformulação no intuito de se
comunicar, de forma mais efetiva, a mensagem essencial” (63 e 80).
7. "O ‘sensus fidei’ dá intuições quanto ao caminho certo perante
as incertezas e ambiguidades da história, e uma capacidade para escutar com
discernimento ao que a cultura humana e o progresso das ciências estão dizendo”
(70).
8. "Os problemas surgem quando a maioria dos fiéis permanece
indiferente às decisões doutrinais ou morais feitas pelo magistério ou quando
as rejeitam positivamente. Esta falta de recepção pode indicar uma fraqueza ou
carência de fé por parte do povo de Deus. (...) Em alguns casos, porém, pode
indicar que certas decisões foram tomadas por aqueles que têm autoridade sem
considerarem a experiência e o ‘sensus fidei’ dos fiéis, ou sem uma consulta
suficiente deles pelo magistério” (137).
9. "Desde o começo do cristianismo todos os fiéis tiveram um papel
atuante no desenvolvimento da crença cristã. (...) O que se conhece menos, e
que geralmente recebe menos atenção, é o papel desempenhado pelos leigos com
relação ao desenvolvimento do ensino moral da Igreja”.
A abertura da Igreja aos problemas sociais, manifesto "especialmente
na carta encíclica ‘Rerum Novarum’ (1896), do Papa leão XIII, foi o fruto de
uma preparação lenta na qual os ‘pioneiros sociais’ leigos – ativistas e
pensadores – desempenharam um papel importante”.
O movimento de distanciamento da "condenação das teses ‘liberais’
na seção 10 do ‘Syllabus errorum’, do Papa Pio IX, para a declaração sobre a
liberdade religiosa ‘Dignitatis Humanae’ (1965), do Vaticano II, não teria sido
possível sem o comprometimento de muitos cristãos na luta pelos direitos
humanos” (73ii e 73iii).
10. "Os católicos deveriam ter plena consciência da liberdade real
de expressarem seus pensamentos, o que decorre de um ‘sentido da fé’ [isto é, o
‘sensus fidei] (...)”.
"Aqueles que exercem autoridade na Igreja terão o cuidado de
garantir que haja uma troca legítima de opiniões, graças à liberdade de
expressão e de pensamento, entre o povo de Deus. Mais do que isso, irão
estabelecer normas e condições para que isso aconteça” (124).
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Comissão Teológica Internaciona,
Sensus Fidei
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Curso de Mariologia na Espanha
Estive em El Escorial, próximo a Madrid, no final de junho e início de julho.
Colaborei na experiência formativa destinada a maristas que atuam na América Latina.
Espera-se que eles atuem futuramente nas diferentes etapas da formação inicial da Vida Religiosa.
Durante uma semana, refletimos sobre Maria na vida cristã. Um curso de mariologia de 30 horas, que articulou teologia, devoção e questões existenciais. O ponto alto foi a visita ao museu do Prado, onde vimos e comentamos alguns quadros clássicos sobre a Mãe de Jesus.
Parte do material que utilizei foi traduzido em espanhol e estará disponibilizado na rede.
Veja a foto do nosso grupo.
Colaborei na experiência formativa destinada a maristas que atuam na América Latina.
Espera-se que eles atuem futuramente nas diferentes etapas da formação inicial da Vida Religiosa.
Durante uma semana, refletimos sobre Maria na vida cristã. Um curso de mariologia de 30 horas, que articulou teologia, devoção e questões existenciais. O ponto alto foi a visita ao museu do Prado, onde vimos e comentamos alguns quadros clássicos sobre a Mãe de Jesus.
Parte do material que utilizei foi traduzido em espanhol e estará disponibilizado na rede.
Veja a foto do nosso grupo.
sábado, 24 de maio de 2014
Carta ao Papa Francisco
Compartilho com você a carta aberto de Marcelo Barros, por ocasião da visita do Papa Francisco à Terra Santa e do encontro com o Patriarca de Igreja Ortodoxa.
Querido irmão Francisco,
bispo de Roma e primaz da unidade das Igrejas e
Bartolomeu, patriarca ecumênico de Constantinopla,
Sou um monge beneditino que procura viver a sua fé como peregrino junto aos empobrecidos da terra. Dom Helder Camara, bispo que me ordenou padre e foi sempre para mim mestre de vida, me disse antes de morrer: “Não deixe cair a profecia!”. Nesse espírito, tomo a liberdade de lhes escrever essa carta aberta sobre a peregrinação que, nesses dias, vocês fazem à terra de Jesus.
Antes de tudo, lhes agradeço esse gesto profético. Ao retomar o encontro fraterno do papa Paulo VI com o patriarca Atenágoras em Jerusalém, dão um novo sinal de unidade entre as Igrejas do Oriente e a Igreja Latina. Esse novo encontro nos recorda aquela reunião que a tradição chamou de primeiro concilio dos apóstolos de Jesus. Ali, eles decidiram abrir a Igreja aos estrangeiros (At 15). A partir dessa recordação, penso representar grande parte dos cristãos ao lhes agradecer o diálogo simples, humano e amoroso que vocês fazem questão de aprofundar com toda humanidade. Em seu tempo, foi o que viveram, cada um à sua maneira, o papa João XXIII e o patriarca Atenágoras.
Nesse mesmo espírito, há 50 anos, Paulo VI e Atenágoras fizeram o gesto de revogar as excomunhões recíprocas que ainda existiam entre as Igrejas do Oriente e a Igreja Latina. Desse modo, libertaram as Igrejas de um peso do passado que impedia os cristãos de reconhecer nos irmãos de outras Igrejas a presença do Ressuscitado. Agora, temos de ir além dessa libertação do passado. É preciso a coragem de libertar o futuro. Isso significa não só remover os obstáculos ao diálogo, mas fazer do diálogo a forma permanente do nosso modo de ser Igreja. Se, a partir dessa viagem, os senhores pensassem em escrever e assinar juntos uma mensagem ao mundo e mesmo, quem sabe, uma encíclica sobre assuntos urgentes como a atual crise ecológica, dariam importante testemunho de unidade no serviço apostólico.
Certamente, vocês vão orar em Belém, junto ao lugar do nascimento de Jesus e em Jerusalém, no Cenáculo e no Santo Sepulcro. Se Belém nos recorda o nascimento, nos fala também da possibilidade de renascer. Esse gesto ecumênico da peregrinação realizada em comum tem o sabor de um renascimento. Retoma a proposta feita pelo papa João XXIII de voltar às fontes da nossa fé. Os cristãos e todas as pessoas de boa vontade esperam muito do Concílio Pan-ortodoxo que as Igrejas do Oriente estão preparando para 2016. Certamente a proposta do papa Francisco de restituir à Igreja Latina um caráter de maior sinodalidade pode colaborar para que esse Concílio seja uma bela e importante ocasião ecumênica e possa ajudar todas as Igrejas a retomar a práxis evangélica dos primeiros séculos do Cristianismo.
Em Jerusalém, o Cenáculo nos recorda a palavra do patriarca Atenágoras: “A única verdadeira teologia que pode guiar as Igrejas é a teologia eucarística”. (...) “O lugar onde não há separação, mas só um amor imenso, é o Cálice eucarístico, no coração de toda a Igreja”. Seria belo ver o bispo de Roma e o patriarca de Constantinopla lavar os pés um do outro, como testemunho de qual è a fonte do ministério de todos nós, presbíteros e bispos. Um gesto assim indicaria um passo novo no caminho da unidade. Para que essa unidade visível se torne mais efetiva, é importante que a Igreja Católica supere todas as dificuldades e decida entrar como membro normal e pleno do Conselho Mundial de Igrejas.
Ao orar com os nossos pastores diante do Santo Sepulcro, não podemos esquecer que, durante séculos e mesmo em incidentes recentes, muitas vezes, a pedra do Santo Sepulcro tem sido transformada em pedra de escândalo. O próprio lugar da doação da vida se tornou frequentemente motivo de cruzadas, violências e guerras. Por isso, é urgente uma profecia nova. Mesmo se o sepulcro vazio continua sendo para nós um lugar de testemunho, cremos que Jesus Ressuscitado nos espera não na pedra do sepulcro, mas nas Galileias do mundo. E precisamos encontra-lo na comunhão com as vítimas das violências de hoje. Pensemos concretamente no povo palestino, sob permanente ocupação militar e a cada dia sofrendo novas formas de colonização por parte do Estado de Israel. É importante que, em comunhão com algumas comunidades judias que guardam no coração a paz e a não violência, os pastores cristãos ajudem o mundo a levantar o véu que encobre a realidade terrível e opressora que sofre o povo palestino.
Bendito seja Deus por essa viagem que os torna novos peregrinos de Emaús que voltam a Jerusalém. De todas as Igrejas, muitos cristãos se unem a vocês. Sentimos também o coração queimar dentro do peito ao reconhecer o Ressuscitado nas estradas do mundo. As perguntas que, hoje, como pastores, vocês fazem ao peregrino Ressuscitado interpelam a todos/as nós. O modo como, juntos, interpretam as Escrituras trazem uma luz nova a nossos olhos. Na esperança de repartir com todas as Igrejas o pão da comunhão, oramos juntos com vocês a invocação evangélica: “Senhor, fica conosco, porque já anoitece”.
Na alegria de nossa comunhão, confio-me às suas orações e peço que abençoem o irmão menor Marcelo Barros.
Querido irmão Francisco,
bispo de Roma e primaz da unidade das Igrejas e
Bartolomeu, patriarca ecumênico de Constantinopla,
Sou um monge beneditino que procura viver a sua fé como peregrino junto aos empobrecidos da terra. Dom Helder Camara, bispo que me ordenou padre e foi sempre para mim mestre de vida, me disse antes de morrer: “Não deixe cair a profecia!”. Nesse espírito, tomo a liberdade de lhes escrever essa carta aberta sobre a peregrinação que, nesses dias, vocês fazem à terra de Jesus.
Antes de tudo, lhes agradeço esse gesto profético. Ao retomar o encontro fraterno do papa Paulo VI com o patriarca Atenágoras em Jerusalém, dão um novo sinal de unidade entre as Igrejas do Oriente e a Igreja Latina. Esse novo encontro nos recorda aquela reunião que a tradição chamou de primeiro concilio dos apóstolos de Jesus. Ali, eles decidiram abrir a Igreja aos estrangeiros (At 15). A partir dessa recordação, penso representar grande parte dos cristãos ao lhes agradecer o diálogo simples, humano e amoroso que vocês fazem questão de aprofundar com toda humanidade. Em seu tempo, foi o que viveram, cada um à sua maneira, o papa João XXIII e o patriarca Atenágoras.
Nesse mesmo espírito, há 50 anos, Paulo VI e Atenágoras fizeram o gesto de revogar as excomunhões recíprocas que ainda existiam entre as Igrejas do Oriente e a Igreja Latina. Desse modo, libertaram as Igrejas de um peso do passado que impedia os cristãos de reconhecer nos irmãos de outras Igrejas a presença do Ressuscitado. Agora, temos de ir além dessa libertação do passado. É preciso a coragem de libertar o futuro. Isso significa não só remover os obstáculos ao diálogo, mas fazer do diálogo a forma permanente do nosso modo de ser Igreja. Se, a partir dessa viagem, os senhores pensassem em escrever e assinar juntos uma mensagem ao mundo e mesmo, quem sabe, uma encíclica sobre assuntos urgentes como a atual crise ecológica, dariam importante testemunho de unidade no serviço apostólico.
Certamente, vocês vão orar em Belém, junto ao lugar do nascimento de Jesus e em Jerusalém, no Cenáculo e no Santo Sepulcro. Se Belém nos recorda o nascimento, nos fala também da possibilidade de renascer. Esse gesto ecumênico da peregrinação realizada em comum tem o sabor de um renascimento. Retoma a proposta feita pelo papa João XXIII de voltar às fontes da nossa fé. Os cristãos e todas as pessoas de boa vontade esperam muito do Concílio Pan-ortodoxo que as Igrejas do Oriente estão preparando para 2016. Certamente a proposta do papa Francisco de restituir à Igreja Latina um caráter de maior sinodalidade pode colaborar para que esse Concílio seja uma bela e importante ocasião ecumênica e possa ajudar todas as Igrejas a retomar a práxis evangélica dos primeiros séculos do Cristianismo.
Em Jerusalém, o Cenáculo nos recorda a palavra do patriarca Atenágoras: “A única verdadeira teologia que pode guiar as Igrejas é a teologia eucarística”. (...) “O lugar onde não há separação, mas só um amor imenso, é o Cálice eucarístico, no coração de toda a Igreja”. Seria belo ver o bispo de Roma e o patriarca de Constantinopla lavar os pés um do outro, como testemunho de qual è a fonte do ministério de todos nós, presbíteros e bispos. Um gesto assim indicaria um passo novo no caminho da unidade. Para que essa unidade visível se torne mais efetiva, é importante que a Igreja Católica supere todas as dificuldades e decida entrar como membro normal e pleno do Conselho Mundial de Igrejas.
Ao orar com os nossos pastores diante do Santo Sepulcro, não podemos esquecer que, durante séculos e mesmo em incidentes recentes, muitas vezes, a pedra do Santo Sepulcro tem sido transformada em pedra de escândalo. O próprio lugar da doação da vida se tornou frequentemente motivo de cruzadas, violências e guerras. Por isso, é urgente uma profecia nova. Mesmo se o sepulcro vazio continua sendo para nós um lugar de testemunho, cremos que Jesus Ressuscitado nos espera não na pedra do sepulcro, mas nas Galileias do mundo. E precisamos encontra-lo na comunhão com as vítimas das violências de hoje. Pensemos concretamente no povo palestino, sob permanente ocupação militar e a cada dia sofrendo novas formas de colonização por parte do Estado de Israel. É importante que, em comunhão com algumas comunidades judias que guardam no coração a paz e a não violência, os pastores cristãos ajudem o mundo a levantar o véu que encobre a realidade terrível e opressora que sofre o povo palestino.
Bendito seja Deus por essa viagem que os torna novos peregrinos de Emaús que voltam a Jerusalém. De todas as Igrejas, muitos cristãos se unem a vocês. Sentimos também o coração queimar dentro do peito ao reconhecer o Ressuscitado nas estradas do mundo. As perguntas que, hoje, como pastores, vocês fazem ao peregrino Ressuscitado interpelam a todos/as nós. O modo como, juntos, interpretam as Escrituras trazem uma luz nova a nossos olhos. Na esperança de repartir com todas as Igrejas o pão da comunhão, oramos juntos com vocês a invocação evangélica: “Senhor, fica conosco, porque já anoitece”.
Na alegria de nossa comunhão, confio-me às suas orações e peço que abençoem o irmão menor Marcelo Barros.
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Carta ao Papa Francisco em Jerusalém
sexta-feira, 25 de abril de 2014
A coragem de se alegrar
Trechos de Homilia do Papa Francisco
durante a oitava da páscoa.
Mas Cristo, com a sua Ressurreição nos dá a alegria: a alegria de ser cristãos; a alegria de segui-lo de perto; a alegria de caminhar nas estradas das Bem-aventuranças; a alegria de estar com Ele. E nós tantas vezes ficamos perturbados ou repletos de medo, acreditamos ver um fantasma (..) Você fala com Jesus? Você diz a Ele: ‘Eu acredito que o Senhor está vivo, que ressuscitou, que está perto de mim, que não me abandona’? A vida cristã deve ser isso, um diálogo com Jesus, porque – isso é verdade – Jesus está sempre conosco, está sempre com os nossos problemas, com as nossas dificuldades, com as nossas boas obras.
Quantas vezes os cristãos não somos felizes porque temos medo! Cristãos que foram “derrotados” na Cruz. Na minha terra há um ditado que diz: ‘Quando alguém se queima com leite quente, depois, quando vê uma vaca leiteira, chora’. Estes se queimaram com o drama da cruz e disseram: ‘Não, vamos parar por aqui; Ele está no Céu; mas tudo bem, ressuscitou, mas que não venha outra vez aqui porque não aguentaremos’.
O Evangelho narra a aparição de
Jesus Ressuscitado aos discípulos que, diante da sua saudação de paz, em vez de
ficarem loucos de alegria, ficam “cheios de medo”, pois acreditam ter visto “um
fantasma”. Cristo trata de fazê-los compreender que é real o que veem, uma
realidade tangível: de fato, convida-os a tocarem seu corpo, pede comida e
água. O Filho do Senhor deseja transmitir-lhes a alegria da Ressurreição, a alegria
da sua presença entre eles. Mas eles pela alegria não acreditaram, não podiam
acreditar, porque tinham medo da alegria.
Esta é uma doença dos cristãos.
Temos medo da alegria. É melhor pensar: ‘Sim, sim, Deus existe, mas está lá;
Jesus ressuscitou, mas está lá’. Um pouco de distância. Temos medo da
proximidade de Jesus, porque isso nos dá alegria. E assim se explicam os muitos
cristãos de funeral, não? Aos quais parece que a vida é um funeral contínuo.
Preferem a tristeza, e não a alegria. Movem-se melhor não na luz da alegria,
mas nas sombras, como aqueles animais que só conseguem sair à noite, mas à luz
do dia não veem nada. Como os morcegos. E com um pouco de senso de humor,
podemos dizer que existem ‘cristãos morcegos’, que preferem as sombras à luz da
presença do Senhor”.Mas Cristo, com a sua Ressurreição nos dá a alegria: a alegria de ser cristãos; a alegria de segui-lo de perto; a alegria de caminhar nas estradas das Bem-aventuranças; a alegria de estar com Ele. E nós tantas vezes ficamos perturbados ou repletos de medo, acreditamos ver um fantasma (..) Você fala com Jesus? Você diz a Ele: ‘Eu acredito que o Senhor está vivo, que ressuscitou, que está perto de mim, que não me abandona’? A vida cristã deve ser isso, um diálogo com Jesus, porque – isso é verdade – Jesus está sempre conosco, está sempre com os nossos problemas, com as nossas dificuldades, com as nossas boas obras.
Quantas vezes os cristãos não somos felizes porque temos medo! Cristãos que foram “derrotados” na Cruz. Na minha terra há um ditado que diz: ‘Quando alguém se queima com leite quente, depois, quando vê uma vaca leiteira, chora’. Estes se queimaram com o drama da cruz e disseram: ‘Não, vamos parar por aqui; Ele está no Céu; mas tudo bem, ressuscitou, mas que não venha outra vez aqui porque não aguentaremos’.
Peçamos ao Senhor que faça com todos nós o que
fez com os discípulos, que tinham medo da alegria: que abra a nossa mente e nos
faça entender que Ele é uma realidade viva, que Ele tem corpo, que Ele está
conosco e nos acompanha e que Ele venceu. Peçamos ao Senhor a graça de não ter
medo da alegria.”
Fonte: Vatican Insider, 24-04-2014.
Tradução: André Langer. Publicado no Brasil pelo IHU.
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