Compartilho a Nota da Arquidiocese de BH, intitulada: "Tempo de aprendizado e mudanças", de 28/05/18
Nós, Arquidiocese de Belo Horizonte, estamos juntos e sensíveis às solidariedades exigidas pelos trabalhadores brasileiros neste momento nacional. Solidariedade que nos faz próximos da dor do outro, nosso irmão. Estamos juntos nas necessidades de cada um e na luta por condições dignas de trabalho para cada cidadão e cidadã, construtores essenciais de nossa sociedade.
Este momento exige humildade para aprendermos as lições que, praticadas, possibilitam nossa reconstrução social, econômica, política e cultural. A paralisação dos caminhoneiros desenhou cenários que exigem o reconhecimento da força de cada segmento da sociedade. Reconhecimento muito necessário sob pena de criarmos situações perigosas e insustentáveis, com riscos muito sérios que podem produzir passivos e multiplicar os prejuízos que recaem sobre os ombros de todos, mais pesadamente sobre os ombros dos pobres.
O momento exige muita sabedoria e generosidade no enfrentamento da falta de combustíveis, precarização do transporte coletivo, prateleiras vazias nos supermercados, aumentos abusivos de preços. As lições são muitas – já deveriam ter sido aprendidas. Lições que apontam para o tempo novo no qual a sociedade brasileira necessita: não retardar os diálogos e a escuta dos diferentes grupos da sociedade, para uma consolidação de nossa democracia, evitando os graves riscos de extremismos, tão acentuados sobretudo em tempos de crise. Os dirigentes e representantes do Povo – estes em especial – têm a oportunidade de uma conversão mais profunda a partir da coragem em abrir mão dos seus muitos privilégios. Precisam reconhecer que a situação atual indica falta de credibilidade política assentada sobre a endêmica e cultural corrupção nos funcionamentos da sociedade. Precisam admitir e não insistir numa economia fundada sobre a idolatria do dinheiro, que governa em vez de servir, que promove a exclusão e mata, como bem sublinha o Papa Francisco. Uma advertência também endereçada ao empresariado.
O Povo precisa gerar novos líderes e há de dar novas respostas por meio das urnas neste ano eleitoral. Que a solidariedade nos gestos, nas organizações e nos serviços prestados empurrem o Brasil para o rumo novo, no horizonte da justiça e da paz. Caminhemos Sempre à luz de nossa fé cristã, obedientes ao mandamento maior, nascido do coração e da vida de nosso Mestre Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei!”
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães
Dom Edson José Oriolo dos Santos
Dom Geovane Luís da Silva
Dom Otacílio Ferreira de Lacerda
Dom Vicente de Paula Ferreira
terça-feira, 29 de maio de 2018
domingo, 8 de abril de 2018
sexta-feira, 23 de março de 2018
DECLARAÇÃO FINAL DO FÓRUM ALTERNATIVO MUNDIAL DAS ÁGUAS
Quem somos
Nós, construtores e construtoras do Fórum Alternativo
Mundial da Água (FAMA), reunidos de 17 a 22 de março de 2018, em Brasília,
declaramos para toda a sociedade o que acumulamos após muitos debates,
intercâmbios, sessões culturais e depoimentos ao longo de vários meses de
preparação e nestes últimos dias aqui reunidos. Somos mais de 7 mil
trabalhadores e trabalhadoras da cidade e do campo, das águas e das florestas,
representantes de povos originários e comunidades tradicionais, articulados em
450 organizações nacionais e internacionais de todos os continentes. Somos
movimentos populares, tradições religiosas e espiritualidades, organizações não
governamentais, universidades, pesquisadores, ambientalistas, organizados em
grupos, coletivos, redes, frentes, comitês, fóruns, institutos, articulações,
sindicatos e conselhos.
Na grandeza dos povos, trocamos experiências de conhecimento, resistência e de luta. E estamos conscientes que a nossa produção é para garantir a vida e sua diversidade. Estamos aqui criando unidade e força popular para refletir e lutar juntos e juntas pela água e pela vida nas suas variadas dimensões. O que nos faz comum na relação com a natureza é garantir a vida. A nossa luta é a garantia da vida. É isso que nos diferencia dos projetos e das relações do capital expressos no Fórum das Corporações – Fórum Mundial da Água. Também estamos aqui para denunciar a 8º edição do Fórum Mundial da Água (FMA), o Fórum das Corporações, evento organizado pelo chamado Conselho Mundial da Água, como um espaço de captura e roubo das nossas águas.
O Fórum e o Conselho são vinculados às grandes corporações
transnacionais e buscam atender exclusivamente a seus interesses, em detrimento
dos povos e da natureza.
Nossa constatação sobre o momento histórico
O modo de produção capitalista, historicamente, concentra e
centraliza riqueza e poder, a partir da ampliação de suas formas de acumulação,
intensificação de seus mecanismos de exploração do trabalho e aprofundamento de
seu domínio sobre a natureza, gerando a destruição dos modos de vida. Vivemos
em um período de crise do capitalismo e de seu modelo político representado
pela ideologia neoliberal, na qual se busca intensificar a transformação dos
bens comuns em mercadoria, através de processos de privatização, precificação e
financerização.
A persistência desse modelo tem aprofundado as desigualdades e a destruição da natureza, através dos planos de salvamento do capital nos momentos de aprofundamento da crise. Nesse cenário, as ações do capital são orientadas pela manutenção a qualquer custo das suas taxas de juros, lucro e renda. Esse modelo impõe à América Latina e ao Caribe o papel de produtores de artigos primários e fornecedores de matéria prima, atividades econômicas intensivas em bens naturais e força de trabalho. Subordina a economia desses países a um papel dependente na economia mundial, sendo alvos prioritários dessa estratégia de ampliação da exploração a qualquer custo. O Brasil, que sedia esta edição do FAMA, é exemplar nesse sentido.
O golpe aplicado recentemente expõe a ação coordenada de corporações com setores do parlamento, da mídia e do judiciário para romper a ordem democrática e submeter o governo nacional a uma agenda que atenda seus interesses rapidamente. A mais dura medida orçamentária do mundo foi implantada em nosso país, onde o orçamento público está congelado por 20 anos, garantindo a drenagem de recursos públicos para o sistema financeiro e criando as bases para uma onda privatizante, incluindo aí a infraestrutura de armazenamento, distribuição e saneamento da água. Quais são as estratégias das corporações para a água? Identificamos que o objetivo das corporações é exercer o controle privado da água através da privatização, mercantilização e de sua titularização, tornando-a fonte de acumulação em escala mundial, gerando lucros para as transnacionais e ao sistema financeiro. Para isso, estão em curso diversas estratégias que vão desde o uso da violência direta até formas de captura corporativa de governos, parlamentos, judiciários, agências reguladoras e demais estruturas jurídico-institucionais para atuação em favor dos interesses do capital.
Há também uma ofensiva ideológica articulada junto aos meios de comunicação, educação e propaganda que buscam criar hegemonia na sociedade contrária aos bens comuns e a favor de sua transformação em mercadoria. O resultado desejado pelas corporações é a invasão, apropriação e o controle político e econômico dos territórios, das nascentes, rios e reservatórios, para atender os interesses do agronegócio, hidronegócio, indústria extrativa, mineração, especulação imobiliária e geração de energia hidroelétrica. O mercado de bebida e outros setores querem o controle dos aquíferos.
As corporações querem também o controle de toda a indústria deabastecimento de água e
esgotamento sanitário para impor seu modelo de mercado e gerar lucros ao sistema financeiro, transformando direito historicamente conquistado pelo povo em mercadoria. Querem ainda se apropriar de todos os mananciais do Brasil, América Latina e dos demais continentes para gerar valor e transferir riquezas de nossos territórios ao sistema financeiro, viabilizando o mercado mundial da água Denunciamos as transnacionais Nestlé, Coca-Cola, Ambev, Suez, Veolia, Brookfield (BRK Ambiental), Dow AgroSciences, Monsanto, Bayer, Yara, os organismos financeiros multilaterais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, e ONGs ambientalistas de mercado, como The Nature Conservancy e Conservation International, entre outras que expressam o caráter do “Fórum das Corporações”. Denunciamos o crime cometido pela Samarco, Vale e BHP Billiton, que contaminou com sua lama tóxica o Rio Doce, assassinando uma bacia hidrográfica inteira, matando inúmeras pessoas, e até hoje seu crime segue impune.
Denunciamos o recente crime praticado pela norueguesa Hydro Alunorte que despejou milhares de toneladas de resíduos da mineração através de canais clandestinos no coração da Amazônia e o assassinato do líder comunitário Sergio Almeida Nascimento que denunciava seus crimes. Exemplos como esses têm se reproduzido por todo o mundo. Os povos têm sido as vítimas desse avanço do projeto das corporações. As mulheres, povos originários, povos e comunidades tradicionais, populações negras, migrantes e refugiados, agricultores familiares e camponeses e as comunidades periféricas urbanas têm sofrido diretamente os ataques do capital e as consequências sociais, ambientais e culturais de sua ação. Nos territórios e locais onde houve e/ou existem planos de privatização, aprofundam-se as desigualdades, o racismo, a violência sexual e sobrecarga de trabalho para as mulheres, a criminalização, assassinatos, ameaças e perseguição a lideranças, demissões em massa, precarização do trabalho, retirada e violação de direitos, redução salarial, aumento da exploração, brutal restrição do acesso à água e serviços públicos, redução na qualidade dos serviços prestados à população, ausência de controle social, aumentos abusivos nas tarifas, corrupção, desmatamento, contaminação e envenenamento das águas, destruição das nascentes e rios e ataques violentos aos povos e seus territórios, em especial às populações que resistem às regras impostas pelo capital.
A dinâmica de acumulação capitalista se entrelaça com o sistema hetero-patriarcal, racista e colonial, controlando o trabalho das mulheres e ocultando intencionalmente seu papel nas esferas de reprodução e produção. Nesse momento de ofensiva conservadora, há o aprofundamento da divisão sexual do trabalho e do racismo, causando o aumento da pobreza e da precarização da vida das mulheres. A violência contra as mulheres é uma ferramenta de controle sobre nossos corpos, nosso trabalho e nossa autonomia. Essa violência se intensifica com o avanço do capital, refletindo-se no aumento de assassinato de mulheres, da prostituição e da violência sexual. Tudo isso impossibilita as mulheres de viver com dignidade e prazer. Para as diversas religiões e espiritualidades, todas essas injustiças em relação às águas e seus territórios, caracterizam uma dessacralização da água recebida como um dom vital, e dificultam as relações com o Transcendente como horizonte maior das nossas existências.
Destacamos que para os Povos Originários e Comunidades Tradicionais há uma relação interdependente com as águas, e tudo que as atinge, e que todos os ataques criminosos que sofre, repercutem diretamente na existência desses povos em seus corpos e mentes. Esses povos se afirmam como água, pois existe uma profunda unidade entre eles e os rios, os lagos, lagoas, nascentes, mananciais, aquíferos, poços, veredas, lençóis freáticos, igarapés, estuários, mares e oceanos como entidade única. Declaramos que as águas são seres sagrados. Todas as águas são uma só água em permanente movimento e transformação. A água é entidade viva, e merece ser respeitada. Por fim, constatamos que a entrega de nossas riquezas e bens comuns conduz a destruição da soberania e a autodeterminação dos povos, assim como a perda dos seus territórios e modos de vida.
Mas nós afirmamos: resistimos e venceremos!
Nossa resistência e luta é legítima. Somos os guardiões e
guardiãs das águas e defensores da vida. Somos um povo que resiste e nossa luta
vencerá todas as estruturas que dominam, oprimem e exploram nossos povos,
corpos e territórios. Somos como água, alegres, transparentes e em movimento.
Somos povos da água e a água dos povos. Nestes dias de convívio coletivo,
identificamos uma extraordinária diversidade de práticas sociais, com enorme
riqueza de culturas, conhecimento e formas de resistência e de luta pela vida. Ninguém
se renderá. Os povos das águas, das florestas e do campo resistem e não se
renderão ao capital. Assim também tem sido a luta dos povos, dos operários e de
todos os trabalhadores e trabalhadoras das cidades que demonstram cada vez
maior força.
Temos a convicção que só a luta conjunta dos povos poderá derrotar todas as estruturas injustas desta sociedade. Identificamos que a resistência e a luta têm se realizado em todos os locais e territórios do Brasil e do mundo e estamos convencidos que nossa força deve caminhar e unir-se a grandes lutas nacionais e internacionais. A luta dos povos em defesa das águas é mundial. Água é vida, é saúde, é alimento, é território, é direito humano, é um bem comum sagrado.
O que propomos
Reafirmamos que as diversas lutas em defesas das águas dizem
em alto e bom som que água não é e nem pode ser mercadoria. Não é recurso a ser
apropriado, explorado e destruído para bom rendimento dos negócios. Água é um
bem comum e deve ser preservada e gerida pelos povos para as necessidades da
vida, garantindo sua reprodução e perpetuação. Por isso, nosso projeto para as
águas tem na democracia um pilar fundamental. É só por meio de processos
verdadeiramente democráticos, que superem a manipulação da mídia e do dinheiro,
que os povos podem construir o poder popular, o controle social e o cuidado
sobre as águas, afirmando seus saberes, tradições e culturas em oposição ao
projeto autoritário, egoísta e destrutivo do capital. Somos radicalmente
contrários às diversas estratégias presentes e futuras de apropriação privada
sobre a água, e defendemos o caráter público, comunitário e popular dos
sistemas urbanos de gestão e cuidado da água e do saneamento. Por isso saudamos
e estimulamos os processos de reestatização de companhias de água e esgoto e
outras formas de gestão.
Seguiremos denunciando as tentativas de privatização e abertura de Capital, a exemplo do que ocorre no Brasil, onde 18 estados manifestaram interesse na privatização de suas companhias. Defendemos o trabalho decente, assentado em relações de trabalho democráticas, protegidas e livre de toda forma de precarização. Também é fundamental a garantia do acesso democrático e sustentável à água junto à implementação da reforma agrária e defesa dos territórios, com garantia de produção de alimentos em bases agroecológicas, respeitando as práticas tradicionais e buscando atender a soberania alimentar dos trabalhadores e trabalhadoras urbanos e do campo, florestas e águas.
Estamos comprometidos com a superação do patriarcado e da
divisão sexual do trabalho, pelo reconhecimento de que o trabalho doméstico e
de cuidados está na base da sustentabilidade da vida.
O combate ao racismo também nos une na luta pelo reconhecimento, titulação e demarcação dos territórios dos povos originários e comunidades tradicionais e na reparação ao povo negro e indígena que vive marginalizado nas periferias dos centros urbanos. Nosso projeto é orientado pela justiça e pela solidariedade, não pelo lucro. Nele ninguém passará sede ou fome, e todos e todas terão acesso à água de qualidade, regular e suficiente bem como aos serviços públicos de saneamento.
O combate ao racismo também nos une na luta pelo reconhecimento, titulação e demarcação dos territórios dos povos originários e comunidades tradicionais e na reparação ao povo negro e indígena que vive marginalizado nas periferias dos centros urbanos. Nosso projeto é orientado pela justiça e pela solidariedade, não pelo lucro. Nele ninguém passará sede ou fome, e todos e todas terão acesso à água de qualidade, regular e suficiente bem como aos serviços públicos de saneamento.
Nosso plano de ações e lutas
A profundidade de nossas debates e elaborações coletivas, o
sucesso da nossa mobilização, a diversidade do nosso povo e a amplitude dos
desafios que precisam ser combatidos nos impulsionam a continuar o
enfrentamento ao sistema capitalista, patriarcal, racista e colonial, tendo
como referência a construção da aliança e da unidade entre toda a diversidade
presente no FAMA 2018. Trabalharemos, através de nossas formas de luta e
organização para ampliar a força dos povos no combate à apropriação e
destruição das águas. A intensificação e qualificação do trabalho de base junto
ao povo, a ação e a formação política para construir uma concepção crítica da
realidade serão nossos instrumentos. O povo deve assumir o comando da luta.
Apostamos no protagonismo e na criação heroica dos povos.
Vamos praticar nosso apoio e solidariedade internacional a todos os processos de lutas dos povos em defesa da água denunciam a arquitetura da impunidade, que, por meio dos regimes de livre-comércio e investimentos, concede privilégios às corporações transnacionais e facilitam seus crimes corporativos. Multiplicaremos as experiências compartilhadas no Tribunal Popular das Mulheres, para a promoção da justiça popular, visibilizando as denúncias dos crimes contra a nossa soberania, os corpos, os bens comuns e a vida das mulheres do campo, das florestas, águas e cidades. A água é dom que a humanidade recebeu gratuitamente, é direito de todas as criaturas e bem comum. Por isso, nos comprometemos a unir mística e política, fé e profecia em suas práticas religiosas, lutando contra os projetos de privatização, mercantilização e contaminação das águas que ferem a sua dimensão sagrada.
O Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA) apoia, se solidariza e estimulará todos os processos de articulação e de lutas dos povos no Brasil e no mundo, tais como a construção do “Congresso do Povo”, do “Acampamento Terra Livre”, da “Assembleia Internacional dos Movimentos e Organizações dos Povos”, da “Jornada Continental pela Democracia e Contra o Neoliberalismo”; da campanha internacional para desmantelar o poder corporativo e pelo “tratado vinculante” como ferramenta para exigir justiça, verdade e reparação frente aos crimes das transnacionais. Convocamos todos os povos a lutar juntos para defender a água. A água não é mercadoria. A água é do povo e pelos povos deve ser controlada. É tempo de esperança e de luta. Só a luta nos fará vencer. Triunfaremos!
Assinam a declaração: Articulação dos Povos Indígenas do Brasil Articulação Semiárido Brasileiro Associação Brasileira de Saúde Coletiva Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento Cáritas Brasil Central de Movimentos Populares Conselho Nacional das Populações Extrativistas Confederação Nacional dos Urbanitários Confederação Nacional das Associações de Moradores Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Comissão Pastoral da Terra Confederação Sindical de Trabalhadores/as das Américas Central Única dos Trabalhadores Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional
Fórum Brasileiro de ONGs
e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento Federação
Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal Federação
Interestadual de Sindicatos de Engenheiros Frente Nacional pelo Saneamento
Ambiental Federação Nacional dos Urbanitários Federação Única dos Petroleiros
Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social Instituto Brasileiro de Proteção
Ambiental Internacional de Serviços Públicos Marcha Mundial das Mulheres
Movimento dos Atingidos por Barragens Movimento dos Pequenos Agricultores
Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra Movimento dos Trabalhadores Sem Teto ONG
Proscience Rede Mulher e Mídia Serviço Interfranciscano de Justiça Paz e
Ecologia Sociedade Internacional de Epidemiologia Ambiental Vigência.
quarta-feira, 31 de janeiro de 2018
Carta final do Intereclesial das CEBs
Tema: CEBs e os desafios do mundo urbano
Lema: “Eu vi e ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3, 7)
Nós, os 3.300 delegados e delegados, participantes do 14º Intereclesial de CEBs, nos dias 23 a 27 de janeiro de 2018, na Arquidiocese de Londrina – PR, partilhamos com nossas comunidades a valiosa experiência vivenciada neste encontro.
Construímos o Intereclesial, patrimônio bíblico, teológico e eclesial da Igreja no Brasil, com representantes das comunidades católicas e de outras Igrejas cristãs, de povos originários e tradicionais de todas as regiões do nosso País, da América Latina e da Europa.
Diante dos clamores e desafios apresentados, fizemos a experiência de Moisés na sarça ardente, ao ser desafiado por Javé, o Deus libertador, que viu, ouviu e, ao descer, o enviou para libertar o seu povo do sistema de escravidão que aprisiona os corpos e coloniza as mentes.
Na vivência de uma Igreja em saída, como cristãos leigos e leigas, padres, religiosos, religiosas, diáconos, pastores e pastoras, bispos, lideranças de povos originários e tradicionais, nos colocamos numa postura de diálogo, em que cada pessoa tem algo a aprender com a outra e todas à escuta do ‘Espírito da verdade’ (Jo 14, 17), procuramos conhecer o que Ele ‘diz às Igrejas’ hoje (Ap 2, 7).
Partilhamos alguns destes clamores que esta escuta nos proporcionou, deixando-nos inquietos e desinstalados, conscientes de que eles ecoam com a mesma intensidade no coração de tantas pessoas de boa vontade.
Sabemos que o primeiro nível da escuta deve acontecer nas bases da Igreja, portanto, na comunidade que é “o primeiro e fundamental núcleo eclesial (…) célula inicial da estrutura eclesial, foco de evangelização e fator primordial da promoção humana (…)” (Medellín, 15, III. 1 a).
Reafirmamos nosso compromisso com uma Igreja da escuta e do diálogo. Queremos colaborar para que todos os organismos de serviços pastorais permaneçam conectados com a base e partam das pessoas, sobretudo, dos pobres e excluídos, dos desafios de cada dia e de seus clamores. Assim nos tornaremos uma Igreja em saída.
As CEBs continuam sendo um “sinal da vitalidade da Igreja” (RM 51). Os discípulos e as discípulas de Cristo nelas se reúnem na escuta e na partilha da Palavra de Deus. Buscam relações mais fraternas, igualitárias e inclusivas. Superam a cultura machista e o clericalismo. Celebram os mistérios cristãos e assumem o compromisso de transformação da sociedade e a defesa da criação, a nossa casa comum.
As mudanças culturais, os desafios e clamores da sociedade globalizada e da cultura urbana, o desmonte das estruturas democráticas em nosso País, a perda dos direitos civis e sociais e a degradação da dignidade humana e da criação levam as CEBs a assumirem os seguintes compromissos:
transmitir às novas gerações as experiências e os valores das gerações anteriores;
promover a cultura da vida;
tornar-se uma Igreja de comunidades em rede, com novos ministérios, que inclua a mulher em sua plena dignidade eclesial;
incentivar o protagonismo das juventudes e combater o seu extermínio;
apoiar as lutas dos povos indígenas, da população negra e quilombola, dos pescadores artesanais, da população em situação de rua, dos migrantes e refugiados, da população encarcerada, das crianças e dos idosos por cidadania plena;
cobrar políticas públicas de inclusão social, participar dos conselhos de cidadania, promover a democracia direta e participativa e a autodeterminação dos povos;
promover práticas de economia popular, solidária e sustentável;
reafirmar a vocação política dos cristãos e cristãs;
fortalecer a campanha pela auditoria da dívida pública, da reforma política e do controle sobre o poder judiciário;
apoiar e a colaborar com a REPAM e o sínodo para a Amazônia em 2019.
Nunca podemos nos esquecer de que as comunidades cristãs nasceram no meio dos pobres, como um grito de esperança e lugar de relações igualitárias e inclusivas.
À Igreja que está em Londrina e, que, solidária e afetuosamente nos acolheu, nossa eterna gratidão.
Ao Papa Francisco que, com seu testemunho evangélico, nos desafia a nos tornarmos, cada vez mais, uma Igreja pobre e dos pobres, nossa apoio fraterno e oração.
Pedimos as bênçãos de Nossa Senhora do Rocio, padroeira do Estado do Paraná, para a diocese de Rondonópolis-MT, que acolherá o 15º Intereclesial, em 2022, e para as comunidades que prossigam em caminhada, colocando os pés nas pegadas de Jesus de Nazaré.
Londrina – PR, 27 de janeiro de 2018
Lema: “Eu vi e ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3, 7)
Nós, os 3.300 delegados e delegados, participantes do 14º Intereclesial de CEBs, nos dias 23 a 27 de janeiro de 2018, na Arquidiocese de Londrina – PR, partilhamos com nossas comunidades a valiosa experiência vivenciada neste encontro.
Construímos o Intereclesial, patrimônio bíblico, teológico e eclesial da Igreja no Brasil, com representantes das comunidades católicas e de outras Igrejas cristãs, de povos originários e tradicionais de todas as regiões do nosso País, da América Latina e da Europa.
Diante dos clamores e desafios apresentados, fizemos a experiência de Moisés na sarça ardente, ao ser desafiado por Javé, o Deus libertador, que viu, ouviu e, ao descer, o enviou para libertar o seu povo do sistema de escravidão que aprisiona os corpos e coloniza as mentes.
Na vivência de uma Igreja em saída, como cristãos leigos e leigas, padres, religiosos, religiosas, diáconos, pastores e pastoras, bispos, lideranças de povos originários e tradicionais, nos colocamos numa postura de diálogo, em que cada pessoa tem algo a aprender com a outra e todas à escuta do ‘Espírito da verdade’ (Jo 14, 17), procuramos conhecer o que Ele ‘diz às Igrejas’ hoje (Ap 2, 7).
Partilhamos alguns destes clamores que esta escuta nos proporcionou, deixando-nos inquietos e desinstalados, conscientes de que eles ecoam com a mesma intensidade no coração de tantas pessoas de boa vontade.
Sabemos que o primeiro nível da escuta deve acontecer nas bases da Igreja, portanto, na comunidade que é “o primeiro e fundamental núcleo eclesial (…) célula inicial da estrutura eclesial, foco de evangelização e fator primordial da promoção humana (…)” (Medellín, 15, III. 1 a).
Reafirmamos nosso compromisso com uma Igreja da escuta e do diálogo. Queremos colaborar para que todos os organismos de serviços pastorais permaneçam conectados com a base e partam das pessoas, sobretudo, dos pobres e excluídos, dos desafios de cada dia e de seus clamores. Assim nos tornaremos uma Igreja em saída.
As CEBs continuam sendo um “sinal da vitalidade da Igreja” (RM 51). Os discípulos e as discípulas de Cristo nelas se reúnem na escuta e na partilha da Palavra de Deus. Buscam relações mais fraternas, igualitárias e inclusivas. Superam a cultura machista e o clericalismo. Celebram os mistérios cristãos e assumem o compromisso de transformação da sociedade e a defesa da criação, a nossa casa comum.
As mudanças culturais, os desafios e clamores da sociedade globalizada e da cultura urbana, o desmonte das estruturas democráticas em nosso País, a perda dos direitos civis e sociais e a degradação da dignidade humana e da criação levam as CEBs a assumirem os seguintes compromissos:
transmitir às novas gerações as experiências e os valores das gerações anteriores;
promover a cultura da vida;
tornar-se uma Igreja de comunidades em rede, com novos ministérios, que inclua a mulher em sua plena dignidade eclesial;
incentivar o protagonismo das juventudes e combater o seu extermínio;
apoiar as lutas dos povos indígenas, da população negra e quilombola, dos pescadores artesanais, da população em situação de rua, dos migrantes e refugiados, da população encarcerada, das crianças e dos idosos por cidadania plena;
cobrar políticas públicas de inclusão social, participar dos conselhos de cidadania, promover a democracia direta e participativa e a autodeterminação dos povos;
promover práticas de economia popular, solidária e sustentável;
reafirmar a vocação política dos cristãos e cristãs;
fortalecer a campanha pela auditoria da dívida pública, da reforma política e do controle sobre o poder judiciário;
apoiar e a colaborar com a REPAM e o sínodo para a Amazônia em 2019.
Nunca podemos nos esquecer de que as comunidades cristãs nasceram no meio dos pobres, como um grito de esperança e lugar de relações igualitárias e inclusivas.
À Igreja que está em Londrina e, que, solidária e afetuosamente nos acolheu, nossa eterna gratidão.
Ao Papa Francisco que, com seu testemunho evangélico, nos desafia a nos tornarmos, cada vez mais, uma Igreja pobre e dos pobres, nossa apoio fraterno e oração.
Pedimos as bênçãos de Nossa Senhora do Rocio, padroeira do Estado do Paraná, para a diocese de Rondonópolis-MT, que acolherá o 15º Intereclesial, em 2022, e para as comunidades que prossigam em caminhada, colocando os pés nas pegadas de Jesus de Nazaré.
Londrina – PR, 27 de janeiro de 2018
quarta-feira, 10 de janeiro de 2018
Ecoteologia y mineria
En este diálogo, el teólogo brasileño
Afonso Murad, revela la conexión de la minería con la teología y cómo, a partir
de los desafíos concretos de la minería, podemos hacer lectura de la fe
cristiana. Esa es la cuestión central de la Ecoteología. La entrevista la
realizó el misionero comboniano Dário Bossi, de la Red Iglesias y Minería:
Seguramente
muchos se preguntarán ¿qué conexión puede existir entre la Teología y la
Minería?, y también ¿de qué manera la Ecoteología puede ser útil a las
comunidades que resisten y a las iglesias que se oponen al impacto de la
minería?
La minería es
un sector dentro de la cadena productiva de economía del mercado, donde la
gente percibe un mayor impacto directo sobre el ambiente. La destrucción de las
fuentes de agua, la destrucción de los bosques, un impacto sobre el agua y toda
la biodiversidad, entonces, claro que eso tiene que ver muy de cerca con la
teología.
Segundo,
percibimos como la minería es un fenómeno de destrucción, aniquilamiento de las
comunidades que están en sus territorios que ahora son ocupados por las
empresas mineras. Entonces, son grandes exigencias para los cristianos en
defensa de los pobres, de las comunidades tradicionales: quilombolas,
indígenas, comunidades ribereñas. Esto nos toca de cerca, de alguna manera nos
convoca a estar al lado y junto a los débiles. En ese sentido, diría que la
minería da muchas cosas a la teología porque trae elementos nuevos, fuertes y
nosotros aquí estamos, queriendo hacer ese largo camino de lectura de la fe
cristiana a partir de esos desafíos específicos que nos plantea la actividad
minera.
¿Cómo
define usted a la Ecoteología?
La teología es
una reflexión crítica, sistemática, elaborada sobre la fe cristiana o sobre
cualquier tema significativo, a luz de la fe cristiana. Desde ese punto de
partida, la Ecoteología es una teología que se hace en el horizonte de la
ecología -no es que ella trata solo de ecología-, Sino que lo hace desde la
convicción que nosotros, seres humanos, formamos parte de la Casa Común, del
planeta tierra. Esta Casa Común que la habitamos con otros seres abióticos como
el agua, el aire, la energía, el sol, y todos los otros seres vivos desde las
plantitas hasta los grandes árboles, desde los insectos hasta los mamíferos.
Nosotros somos parte de esa tierra, de esa Casa Común. Por lo tanto, nosotros
somos responsables para que ella continúe habitable, esa es la gran realidad
que nos impulsa a hacer una Ecoteología. O sea, cómo comprender la llamada
doctrina cristiana, la Revelación, cómo vivir la fe cristiana dentro de ese
horizonte. Y, también, Cómo contribuir para tornar nuestro planeta más
habitable y más guiado principalmente por los más pobres.
¿Qué espera
usted de la Red Iglesias y Minería, en un contexto en que las empresas se están
acercando también a las iglesias y, por otro lado, las comunidades están
pidiendo apoyo? En un futuro, cuáles son los pasos que la red puede realizar
Una primera
cosa para mí como teólogo, participar de la red es un aprendizaje constante. Yo
nací en una región donde oía como pasaba el tren llevando mineral de hierro
todos los días. Pero, yo nunca me di cuenta de lo que éso significaba para el
medio ambiente, y para las poblaciones afectadas.
Sucede qué la
minería es una dimensión invisible de la explotación. Quienes vivimos en las
ciudades desconocemos los problemas que genera la minería; la minería de
hierro, de oro, de los metales radioactivos, eso nos toca muy poco. Nosotros
consumimos materiales relacionados a los metales y no sabemos de dónde vienen
ni qué impactos causan. Entonces, yo pienso que el tema de la minería es muy
importante para la Ecoteología y para las Iglesias.
En referencia
a la importancia de las redes: Trabajar en red es fundamental, exactamente
porque nosotros somos débiles. El poder económico de las grandes mineras que
hacen una alianza perversa con el poder político, nos convoca a juntarnos. Y
ahí pienso también que la Red Iglesias y Minería, efectivamente tiene que ser
más ecuménica, de “iglesias”. Reunir, por ejemplo, a las pequeñas iglesias
evangélicas, que son minoría, pero que están comprometidas con la cuestión
social para así tener más fuerza. Ese tipo de red son efectivas porque divulgan
información, muestran las luchas exitosas, ayudan a madurar la metodología y a
responder esa pregunta vital que es: ¿cuáles son las estrategias exitosas de
nuestros aliados -y de nosotros también- y cuáles son las estrategias que
nuestros opositores utilizan. Si no trabajamos en red, muy poco podemos
avanzar.
domingo, 29 de outubro de 2017
Nota da CNBB sobre o Atual Momento Político (out 2017)
Nota da CNBB sobre o atual momento político
“Aprendei a fazer o bem, buscai o que é correto, defendei o direito do oprimido” (Is 1,17)
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, através de seu Conselho Permanente, reunido em Brasília de 24 a 26 de outubro de 2017, manifesta, mais uma vez, sua apreensão e indignação com a grave realidade político-social vivida pelo País, afetando tanto a população quanto as instituições brasileiras.
Repudiamos a falta de ética, que há décadas, se instalou e continua instalada em instituições públicas, empresas, grupos sociais e na atuação de inúmeros políticos que, traindo a missão para a qual foram eleitos, jogam a atividade política no descrédito. A barganha na liberação de emendas parlamentares pelo Governo é uma afronta aos brasileiros. A retirada de indispensáveis recursos da saúde, da educação, dos programas sociais consolidados, do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), do Programa de Cisternas no Nordeste, aprofunda o drama da pobreza de milhões de pessoas. O divórcio entre o mundo político e a sociedade brasileira é grave.
A apatia, o desencanto e o desinteresse pela política, que vemos crescer dia a dia no meio da população brasileira, inclusive nos movimentos sociais, têm sua raiz mais profunda em práticas políticas que comprometem a busca do bem comum, privilegiando interesses particulares. Tais práticas ferem a política e a esperança dos cidadãos que parecem não mais acreditar na força transformadora e renovadora do voto. É grave tirar a esperança de um povo. Urge ficar atentos, pois, situações como esta abrem espaço para salvadores da pátria, radicalismos e fundamentalismos que aumentam a crise e o sofrimento, especialmente dos mais pobres, além de ameaçar a democracia no País.
Apesar de tudo, é preciso vencer a tentação do desânimo. Só uma reação do povo, consciente e organizado, no exercício de sua cidadania, é capaz de purificar a política, banindo de seu meio aqueles que seguem o caminho da corrupção e do desprezo pelo bem comum. Incentivamos a população a ser protagonista das mudanças de que o Brasil precisa, manifestando-se, de forma pacífica, sempre que seus direitos e conquistas forem ameaçados.
Chamados a “esperar contra toda esperança” (Rm 4,18) e certos de que Deus não nos abandona, contamos com a atuação dos políticos que honram seu mandato, buscando o bem comum.
Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, anime e encoraje seus filhos e filhas no compromisso de construir um País justo, solidário e fraterno.
Brasília, 26 de outubro de 2017
quinta-feira, 12 de outubro de 2017
sexta-feira, 6 de outubro de 2017
Grupo do Seminário ECOLOGIA INTEGRAL E BEM COMUM
Nos dias 05 e 06 de Outubro realizamos o seminário "Ecologia integral e Bem Comum", com um grupo de participantes do Simpósio de Filosofia e Teologia da FAJE (Faculdade Jesuíta). Que discussão boa, com participação efetiva das pessoas.
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
Apoio a Gilberto Carvalho
Conheço Gilberto Carvalho há muitos anos, embora nos encontremos poucas vezes. Acredito nele. Compartilho com você a carta de apoio escrita por Leonardo Boff, com a qual me identifico.
A TENTATIVA DE CONDENAÇÃO DE UM HOMEM HONRADO E JUSTO
A TENTATIVA DE CONDENAÇÃO DE UM HOMEM HONRADO E JUSTO
Leonardo Boff
No dia 19 de setembro o juiz Vallisney Oliveira da
10ª Vara Federal de Brasília acatou a denúncia do Ministério Público Federal
contra o ex-Presidente Lula e Gilberto Carvalho por ter pretendido ver indícios
de corrupção passiva sob a alegação de que teriam recebido a propina de 6
milhões de reais ao PT para reeditar a Medida Provisória 471/ 2009 que
estendia benefícios fiscais a montadores do setor automobilístico no
Centro-Oeste e Nordeste.
Curiosamente
esta Medida Provisória tem como autor o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso
do ano de 1999, relatada na Câmara por José Carlos Aleluia (DEM) e
no Senado por César Borges (PFL). Ela foi aprovada por todos os partidos. O
sentido era descentralizar a produção de automóveis e criar grande número de
empregos. Efetivamente entre 2002-2013 o número de postos de trabalho passou de
291.244 para 532.364.
A
prorrogação desta MP 471 por Lula tinha o sentido de garantir a
continuidade dos empreendimentos que socialmente beneficiavam a tantos. Nada
foi pedido e dado em troca. A
acusação do MPF de propina não apresentou provas. Apenas indícios e ilações.
Temos a ver com uma base extremamente frágil para fundar uma denúncia que nos
remete, provavelmente, a outras intenções.
Não
tomo a defesa do ex-Presidente Lula porque advogados competentes o farão.
Restrinjo-me a um testemunho da pessoa de Gilberto Carvalho. Conhecemo-nos há
muitos anos, no trabalho com as Comunidades de Base, na Pastoral Operária, nos
estudos de teologia em Curitiba, nos encontros de Fé e Política. Morou numa
favela muito pobre da cidade, trabalhou depois numa fábrica de plástico e numa
metalúrgica. Há cerca de 30 anos firmou com Lula uma amizade de irmãos. Ajudou
a fundar o PT. Eleito Presidente, Lula o fez, nos dois mandatos, Ministro-Chefe
da Secretaria Geral da Presidência da
República. Acompanhou o ex-Presidente em todos os
momentos de realizações e tribulações pelas quais passou. No cargo
desempenhou-se sempre com discrição e com grande sentido de equidade. Notabilizou-se
por ser o interlocutor mais bem aceito pelos movimentos sociais, com a Igreja
Católica e com outros segmentos religiosos. Carinho especial dedicava aos
catadores de material reciclável e aos indígenas.
Todos
o conhecem por sua serenidade e incansável capacidade de escutar e de buscar
junto com outros os caminhos mais viáveis. Nós que o conhecemos de perto,
testemunhamos com sinceridade o alto apreço que confere ao mundo espiritual.
Quantos fins de semana passou no mosteiro dos beneditinos em
Goiás Velho em oração humilde e meditação prolongada, pedindo
ao Espírito luzes para bem servir ao povo de seu país, especialmente aos mais
humilhados e ofendidos.
Sempre
foi um homem pobre. Comprou um pequeno sítio perto de Brasília com o resultado
da venda de um apartamento que possuía em
São Paulo. Faz gasto de ver como trata com cuidado ecológico
as galinhas que lhe dão ovos para toda a família, as plantas
frutíferas e cada pé de milho. Nunca se aproveitou do alto cargo de ocupou na
República.
Por
isso entendemos sua “revolta e indignação” contra a absurda denúncia feita pelo
MPF e acatada pelo juiz federal Vallisney Oliveira de Brasília. Em sua nota de
19 de setembro Gilberto Carvalho escreveu: ”É importante grifar que não existe
nenhuma base de provas, e sim ilações e interpretações forçadas de fatos… Nem o
Presidente Lula nem eu tivemos qualquer aproximação com este tipo de má conduta
com a qual querem nos estigmatizar.”.
Talvez
o tópico final de sua nota diga muito de sua personalidade em quem vemos sinais
de virtudes humanas em grau eminente: ”Recebo esta denúncia no exato momento em
que fui obrigado a vender o apartamento em que vivia, que recentemente havia
adquirido, por não conseguir pagar o financiamento. Desde então, passo a morar
em casa alugada. Portanto, não são acusações desta natureza que vão tirar minha
honra e dignidade de uma consciência serena e sem medos”.
As
Escrituras com frequência invectivam juízes que açodadamente levantam suspeitas
sobre os justos, quando não os condenam. Em Brasília se elabora a tentativa
malévola de condenar um homem honrado e justo.
Assinar:
Postagens (Atom)