Antes da missa de domingo à noite, aproxima-se dele um adolescente de cabelos longos, barba rala, brinco na orelha, e um vivo olhar. Um pouco acanhado, Anderson lhe diz:
- Padre Vanderlei, eu esqueci um pecado da lista. Falta um pecado.
- Que lista?
- A lista dos pecados, que a catequista deu para gente.
Vanderlei se contém e nada fala. No fim de semana seguinte, convida Anderson para uma conversa. Após momentos descontraídos, que serviram para iniciar uma relação de confiança, o padre lhe pergunta:
- Que lista?
- A lista dos pecados, que a catequista deu para gente.
Vanderlei se contém e nada fala. No fim de semana seguinte, convida Anderson para uma conversa. Após momentos descontraídos, que serviram para iniciar uma relação de confiança, o padre lhe pergunta:
-O que você achou da lista de pecados?
Anderson pensa um pouco, olha nos seus olhos. Então acontece um diálogo:
- Véio, posso ser sincero? Acho horrível! Se eu contar para meus amigos, eles não vão acreditar que hoje tem uma lista dessas. Eles (os catequistas) tratam a gente de maneira infantil. Eu não preciso de lista de coisas erradas. Eu sei que tem muitos jovens por aí que estão perdidos, sem rumo, já não sabem o que é certo ou errado. Mas, uma lista destas é ridícula!
- Se você fosse o catequista, o que faria?
- Pô, gostei da sua pergunta, padre. Isso é que está faltando na catequese da crisma. Elas não perguntavam nada para gente. Já traziam as respostas prontas. Imaginavam que a gente não tem nada na cabeça.
- Então, o que você faria? (insiste Padre Vanderlei).
- A gente não quer regras para engolir goela abaixo. Eu faria a “lista de pecados” junto com a galera. Eu daria algumas dicas para a conversa não se perder, e questionaria muito, para que pensassem nas suas atitudes.
- Gostei do que você disse! Então você pensa que as pessoas precisam de critérios para julgar, não de listas prontas. O pecado existe, mas ele não é o mais importante na vida cristã.
- Isso! Não agüento este povo que só fica enchendo a nossa cabeça de culpa. Eu acho que precisamos fazer também outra lista. Uma lista aberta. A lista da “corrente do bem”, das coisas que nós podemos fazer para mudar este mundo. Dá até para começar uma comunidade no Orkut! A Igreja tem que mostrar pra gente que é melhor fazer as coisas certas, ser criativo, estar linkado com o bem, do que estar nessa neura de pecado prá todo lado. Ser santo não é ser bobo!
- Véio, posso ser sincero? Acho horrível! Se eu contar para meus amigos, eles não vão acreditar que hoje tem uma lista dessas. Eles (os catequistas) tratam a gente de maneira infantil. Eu não preciso de lista de coisas erradas. Eu sei que tem muitos jovens por aí que estão perdidos, sem rumo, já não sabem o que é certo ou errado. Mas, uma lista destas é ridícula!
- Se você fosse o catequista, o que faria?
- Pô, gostei da sua pergunta, padre. Isso é que está faltando na catequese da crisma. Elas não perguntavam nada para gente. Já traziam as respostas prontas. Imaginavam que a gente não tem nada na cabeça.
- Então, o que você faria? (insiste Padre Vanderlei).
- A gente não quer regras para engolir goela abaixo. Eu faria a “lista de pecados” junto com a galera. Eu daria algumas dicas para a conversa não se perder, e questionaria muito, para que pensassem nas suas atitudes.
- Gostei do que você disse! Então você pensa que as pessoas precisam de critérios para julgar, não de listas prontas. O pecado existe, mas ele não é o mais importante na vida cristã.
- Isso! Não agüento este povo que só fica enchendo a nossa cabeça de culpa. Eu acho que precisamos fazer também outra lista. Uma lista aberta. A lista da “corrente do bem”, das coisas que nós podemos fazer para mudar este mundo. Dá até para começar uma comunidade no Orkut! A Igreja tem que mostrar pra gente que é melhor fazer as coisas certas, ser criativo, estar linkado com o bem, do que estar nessa neura de pecado prá todo lado. Ser santo não é ser bobo!
Vanderlei pôs a mão no queixo. Seu semblante ficou sério. Depois, veio um discreto sorriso. Percebeu que tinha muito que aprender! Este foi um sinal para a sua vocação. Como Padre, ele não seria simplesmente o ministro do altar e do púlpito, e sim um pastor e companheiro dos jovens. E sobretudo, um agente de mudanças, junto com os leigos. Era o começo de uma fascinante missão.
3 comentários:
Muito significativa a foto com os dois cadeados:um novo, outro velho.Às vezes, pelo comportamento de alguns membros da Igreja, tenho a impressão de que o tempo passa mas as pessoas continuam sendo "aprisinadas" por uma espiritualidade fundamentada no pecado, na culpa e não na verdade que liberta, trazida por Cristo
sob o meu ponto de vista, o texto nos chama a quebrar paradigmas e a estar abertos a novas possibilidades de ser Igreja Cristã num novo período histórico que vem se instalando como "Pós-Modernidade" ou "Modernidade Tardia". Umas das exigências nesta quebra de paradigmas é a elaboração de novas linguagens que transmitam o Evangelho, sem prejuízo de seu significado e sentido.
Olá Afonso Murad! Gostaria de parabenizá-lo pelo seu livro "Gestão e Espiritualidade". Estou usando ele em minha dissertação de mestrado, na Escola Superior de Teologia - São Leopoldo-RS. Gostaria de conversar contigo a respeito do tema. Minha pesquisa é sobre "espiritualidade nas empresas". Meu referencial teórico é Paul Tillich. Meu e-mail é: allanteologo@gmail.com Por gentileza, me escreva para que eu tenha acesso ao seu e-mail e possamos iniciar um bate-papo. Um forte abraço! Allan
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