sábado, 21 de fevereiro de 2009

Liderança, poder e pulgas

Quando as pessoas vivem e atuam em grupo, é natural que surjam lideranças. Essas são necessárias para mobilizar, animar, coordenar, canalizar as iniciativas, organizar as idéias, conceber estratégias e transformar sonhos em realidade. Acontece assim em vários espaços, desde um time de futebol num bairro, até as diversas pastorais e movimentos na Igreja. Liderar é conduzir pessoas, em vista de resultados. Todo(a) líder conquista com o tempo uma certa autoridade, que não é necessariamente formal. Ele(a) é respeitado pelos outros, que levam em conta o que ele diz e faz.
Uma liderança pode ser positiva, se movida por altos valores humanos, ou negativa, ao arrastar pessoas e até multidões ao engano e a diversas formas de dependência. Quem é líder exerce um poder, que os próprios membros do grupo atribuem a ele. Há líderes que estimulam uma gestão participativa ou compartilhada, na qual as pessoas são protagonistas, desenvolvem suas potencialidades e se comprometem de maneira criativa. Outros exercem uma autoridade centralizadora, dominadora, que controla e o grupo e mantém as pessoas sob seu domínio.
Em organizações estruturadas, é necessária uma autoridade formal, reconhecida com tal, com atribuição claras. Ora, nem sempre a liderança coincide com a autoridade formal. Pode acontecer que alguém ocupe determinado cargo, mas não saiba liderar pessoas. Então, torna-se uma autoridade com pouca expressão. Indivíduos inseguros, quando ocupam funções que concentram muito poder, mas não têm uma autoridade que “vem de dentro”, tendem a se manter no posto usando da força. Isso acontece na família, no ambiente de trabalho, e também na Igreja.
A liderança e a autoridade formal podem somar. Se usados adequadamente para o bem, levam grupos e organizações a realizar seus objetivos com eficácia. E, sobretudo, contribuem para criar um clima humanizador, no qual os seus membros se sentem contentes e felizes. Mas, porque o poder é também tão perigoso?
Quando eu morava num lar com quintal e horta, tínhamos um grande cachorro para proteger a casa. Cada 10 dias, meu coIrmão lavava o cão e lhe aplicava substâncias para combater pulgas e carrapatos. Certa vez, perguntei à pessoa que dava banho no cachorro a razão de tamanho cuidado. Ele respondeu prontamente: “se eu não fizer isso, ele pode adoecer. Em vez de ajudar a casa, será um problema a mais”.
O poder, seja em forma de liderança ou de autoridade formal, tem dois lados, como as faces de uma moeda. Ele é necessário em qualquer grupo humano, para dar direção, convergir as diferenças, multiplicar os talentos etc. Neste sentido, é fundamental para a gestão. No entanto, o poder sem limites se assemelha às pulgas e carrapatos que se proliferam nos cachorros. Pode transformar-se num grande problema. O líder ou a autoridade têm que continuamente rever suas motivações, “vigiar e orar”, para que o poder não “lhe suba à cabeça”, não desenvolva a vaidade, a auto-suficiência, a arrogância e o autoritarismo. Também a adoção de uma gestão participativa ou compartilhada ajuda a combater a tentação do poder.Iluminados pela fé e construindo uma comunidade de irmãos e irmãs, os cristãos são chamados a lidar com o poder como “criaturas novas”, fazendo fluir os processos, como águas que correm nos riachos sem diques. Assim, na gestão se realizará a proposta de Jesus: “Quem quiser ser maior, seja o servidor de todos”.
Para saber mais, veja o capitulo 6 do meu livro: Gestão e Espiritualidade, Paulinas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que este tema do poder é fundamental para ser analisado na Igreja e na Vida Religiosa. Continue refletindo sobre ele.
Fr. Luiz