domingo, 29 de março de 2009

Banquinho de 3 pernas: princípios da gestão eclesial

Quando eu era criança, gostava de sentar num pequeno banco de madeira que havia no terraço da minha casa. Diferentemente das cadeiras, esse tinha somente três pernas. E ali brincava, imaginava muitas coisas e tentava me equilibrar sobre suas bases. Esse banquinho me faz lembrar dos três componentes básicos da gestão, úteis para a evangelização: missão, valores e visão.

A missão é a razão de ser de qualquer organização. Esta palavra se originou do horizonte religioso e hoje foi apropriada pelas empresas. A missão da Igreja no Brasil está formulada no chamado “Objetivo Geral” das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja, aprovado pela Assembléia dos nossos Bispos a cada três. É importante que ele seja conhecido e encarnado na realidade local de cada diocese, paróquia, pastoral ou movimento. A missão da Igreja traduz algo real, com a qual os cristãos se identificam e são capazes até de dar a vida. Isso nos diferencia de outras organizações que criam uma frase de impacto para sua missão, mas que não corresponde à suas ações. Certa vez, comprei uma passagem de ônibus numa empresa cujo “quadro de missão” anunciava: oferecer aos passageiros conforto, pontualidade e segurança na sua viagem. No entanto, fizemos o percurso num ônibus velho e barulhento, que chegou com mais de meia hora de atraso. Então, a missão deve ser conhecida e traduzida em práticas reais e verdadeiras.

A segunda perna do banco se chama valores compartilhados ou príncipios. Tão importante quanto saber porque uma organização existe (sua missão), é fundamental perceber como ela atua. Ou seja, as atitudes e posturas que são cultivadas pelas pessoas e pelos grupos, até o ponto de se tornar um hábito adquirido. Na comunidade eclesial, estes valores não estão escritos, mas são vividos e cultivados. Por exemplo: respeito aos outros, bondade, honestidade, generosidade, dedicação, gratuidade, participação.... Certa vez, colaborei no processo de preparação de uma assembléia diocesana e fizemos o exercício de priorizar sete valores compartilhados que caracterizariam o rosto daquela diocese. A discussão foi acirrada, porque revelou determinadas preferências que até então estavam implícitas. Ao assumir “gestão participativa” como um valor, isso levou a repensar a forma de atuação dos padres e das lideranças leigas. Os valores compartilhados se transformam também em matéria para o exame de consciência, estimulando a conversão das pessoas e a criação de estruturas correspondentes.

O último componente do nosso banquinho se chama visão de futuro. O mundo está mudando rapidamente. As conquistas do passado já não garantem a continuidade. Basta ver a crise pela qual estão passando tradicionais instituições católicas, como escolas e hospitais. A Igreja, como uma organização situada na história, necessita conhecer e interpretar os Sinais dos Tempos, para perceber os apelos de Deus neles. Ter visão de futuro significa se perguntar, como honestidade e humildade: o que queremos ser para a sociedade, num prazo relativamente longo, de 5 ou 10 anos? Qual será nossa face, nosso perfil? A que desafios atuais responderemos? A visão de futuro impulsiona a Igreja a estabelecer metas e traçar objetivos a serem alcançadas. Visão de futuro é um sonho que pode se realizar. Somente quem sonha, ousa. As conferências do Episcopado Latino Americano, sobretudo Medellín, Puebla e Aparecida, forma excelentes oportunidades para a Igreja do nosso continente rever sua atuação e estabelecer uma visão de futuro. A nível local, isso acontece nos momentos de discernimento e planejamento. Importa estar conectado com a Palavra de Deus e a realidade. Fazer ponte entre a Tradição eclesial e a necessária inovação, que o Espírito de Deus suscita. Pois Ele, em nós, “faz novas todas as coisas”.

Missão, valores e visão de futuro não são simplesmente palavrinhas mágicas que a Igreja copia das organizações de sucesso. Trata-se de componentes básicos para a gestão eclesial, animados pela fé, encharcados pela esperança e movidos pelo amor.

Um comentário:

Luiz Claudio disse...

Murad, eu gostei da imagem que voce usou. Acho que sempre falta alguma perna na nossa gestáo... rs rs.