sexta-feira, 1 de maio de 2009

A ressurreição: uma descoberta

Neste ano, participei da celebração pascal numa comunidade pobre, de uma vila na periferia da cidade. O celebrante, de uma forma criativa, nos estimulou a partilhar quais são os “sinais de ressurreição” na nossa vida. Uma pessoa lembrou-nos da luta das pessoas sem casa, que conquistaram o direito de moradia. E ela estava envolvida nesta luta. Outra recordou das duas senhoras idosas, que apesar de todos os limites de saúde física, se deslocam cada domingo de suas casas para celebrar com alegria! Tocou-me especialmente o depoimento do Dona Efigênia, uma das líderes da comunidade, que participa ativamente da organização do povo, tanto religiosa quanto social. Ela disse: “Faz muitos anos, eu vim para a cidade, com meu marido e sete filhos. Logo depois que chegamos, ele ficou desempregado. Então, foi um tempo muito difícil. Eu lavava roupa para sustentar a família. Trabalhava até de noite. Hoje, depois de tantos anos, agradeço a Deus, porque vencemos as dificuldades, e nossos filhos já estão todos criados”.
Quando terminou a celebração, fiquei saboreando estes belos testemunhos. E me perguntei porque temos tanta dificuldade em perceber os “sinais da ressurreição”, e muitas vezes continuamos “no túmulo”. Deveríamos celebrar mais as vitórias, os sinais de vida, os frutos da ressurreição.
No fundo, há um problema no discurso religioso corrente no meio cristão. Afirma-se muitas vezes que “Cristo nos salvou pela morte na cruz”. Isso é verdade, mas toca somente uma parte da experiência salvífica cristã. Na realidade, a comunhão com Deus, que leva o ser humano a realizar seus anseios mais profundos, que denominamos “salvação”, nos é oferecido pelo nascimento, pela vida, pela morte e pela ressurreição de Jesus. Não somente pela morte.
Os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) nos dizem que Jesus é o messias, o salvador, que inaugura o Reinado de Deus (Mc 1,15) e manifesta o Deus do Reino. Pelos gestos e as palavras de Jesus, a salvação já começou! O evangelista Lucas diz isso de forma breve, no encontro de Jesus com Zaqueu: Hoje a salvação entrou nesta casa (Lc 19,9).
O apóstolo Paulo usa várias imagens de seu contexto cultural para interpretar o que significou a morte de Jesus: libertação do pecado, vitória sobre a morte, vida entregue, redenção da escravidão do pecado, expiação, morte do justo (2 Cor 5,15; Rm 6,10, Gl 2,20, Ef 5,2). Nenhuma delas, de forma isolada, dá conta de explicar o sentido salvífico de sua morte.
O mesmo Paulo anuncia que a ressurreição de Jesus também é salvadora. Jesus, o ressuscitado, é o primogênito, o verdadeiro Adão, o primeiro membro da nova humanidade (Cl 1,15.18). Em Cristo ressuscitado, somos novas criaturas!
Portanto, Jesus nos salvou por sua vida (gestos e palavras), morte e ressurreição. A ressurreição é salvadora, porque antecipa, já neste mundo, a vitória de Deus e do Bem, sobre as forças do mal e da morte.
Nos relatos dos evangelhos e nos Atos dos Apóstolos, aparecem os frutos da ressurreição na vida dos cristãos. Dois deles me tocam especialmente: a coragem e a paz. Os mesmo discípulos, que fugiram de medo, no momento da morte de Jesus, quando experimentam sua ressurreição, são capazes de enfrentar as autoridades e sustentar com firmeza: “Este Jesus, que vocês mataram, Deus o ressuscitou. E nós somos testemunhas disso!” Quando Jesus vem ao encontro dos seus discípulos, que estavam trancados na sala, lhes dá coragem e paz! Coragem para enfrentar as dificuldades e paz para ter serenidade no coração. Que este Jesus ressuscitado nos dê, hoje, coragem e paz. E que cultivemo um olhar encantado, para reconhecer os sinais de ressurreição. Amém.

Figura: Painel do ressuscitado. Frei Anderson, msc.
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5 comentários:

luis carlos disse...

Murad, acho também que devemos saborear os frutos da ressurreição. Um abraço.

Marcos Felipe disse...

Achei interessante e pertinente o comentário que o senhor aludiu no texto de que somos incapazes de nos deparar com a ressurreição e insistimos em continuar no túmulo. A verdade é que o homem (aqui homem é aquele que permanece no túmulo) é incapaz de muita coisa, inclusive raciocinar teologicamente, é tão preguiçoso que espera sempre que Deus faça tudo por ele.

A ressurreição dada como exemplo por Cristo nem se quer serve de exemplo para buscarmos todos os dias essa analogia salvífica, de que é possível ressucitarmos todos os dias para nos desvincular dos paradigmas obsoletos que nos cercam o tempo todo. Temos sim que criar mecanismos de nos renovar como cristãos, como cidadãos, como seres humanos... Caso contrário a ressurreição de Jesus continuará sendo uma experiência teológica só do Deus filho, não conseguindo ao menos exercitá-la como lição cotidiana.

Anônimo disse...

Concordo que a comunhão com o Senhor Jesus nos dá a Paz e a Coragem, mas, não como um passe de mágica. Na verdade, precisamos amadurecer esta comunhão por meio de experiências diárias com o Espírito Santo, onde o Amor Profundo (a Deus, às pessoas, á humanidade, conforme Jesus nos ensinou)nos leva à compreensão e à aceitação verdadeira dos limites das pessoas, de suas fragilidades e da nossa própria fragilidade. Apesar disso,começamos a compreender também que caminhar neste Amor leva à plenitude da unidade com Cristo, à nossa libertação e à libertação de todos, em quaisquer desses limites. Como isso se faz? No Amor Verdadeiro lançamos fora todo o medo e recebemos o poder de Deus que Cristo nos prometeu, para transformarmos qualquer coisa."Sereis revestidos de poder", disse Ele, ao nos prometer a vinda do Espírito Santo. Em síntese, somos pequenos, frágeis, mas, o Amor da 1ª Corintios,13 faz explodir em nós a capacidade de tudo realizar, em Cristo Ressuscitado. Porque Ele ressuscitou, eu tudo posso. Vã seria a nossa fé se ele apenas estivesse ainda entre os mortos. Porque Ele ressuscitou, a Palavra de Amor Dele é viva em mim. Porque Ele ressuscitou o Espírito Santo virá em Pentecostes, atraído pelo cumprimento da promessa feita por Jesus para nós. Porque Ele ressuscitou, todos os dias posso ser poderosamente transformado, restaurado e renascido.Por isso nada temo (tenho coragem em qualquer situação). Por isso nada temo (porque tenho também a Sua Paz).A nossa vida muda literalmente. Não é uma retórica. Experimente!

Prof.: Marco Lucas ALL RIGHT !!! disse...

Excelente artigo. Nunca devemos esquecer que o nosso termômetro com Deus são os dez mandamentos. Com isso seguiremos sempre firmes na caminhado ao Pai.

Anônimo disse...

Parabéns pela postagem.Tudo que o senhor escreveu me fez raciocinar sobre temos também nos uma experiência com Jesus Ressuscitado.Jesus Cristo não pode tornar para nós uma escrito uma história, e isso , só porque ele ressuscitou verdadeiramente, danos assim a oportunidade de o encontra no caminhar como os discipulos de Emaús, e o encontra na comunidade ao partimos o pão ...
Deus Abençoe