Transcrevo
aqui uma parte do artigo do articulista Clovis Rossi, publicado na Folha on-line.
Texto breve e interpelativo.
Visito a revolucionária entrevista
que o papa Francisco concedeu à revista dos jesuítas. Não para tratar dos
assuntos ligados à igreja, que já foram bem analisados, mas para falar de
política. O papa, na sua crítica ao desempenho dos religiosos, acabou traçando
um retrato muito bem acabado dos políticos contemporâneos.
O que Francisco disse dos clérigos
serve à perfeição para os políticos: "O povo de Deus necessita de pastores
e não funcionários, clérigos de escritório". O povo de qualquer Deus e
também o povo sem Deus necessita de políticos que sejam guias de verdade e não
se escondam, como fazem os políticos de hoje em dia, em seus gabinetes
hiperprotegidos. "Os ministros do Evangelho", continuou o papa,
"devem ser pessoas capazes de aquecer o coração das pessoas, de caminhar
com elas pela noite, de saber dialogar e inclusive descer à noite de cada um, à
sua escuridão, sem se perder".
Vale para os ministros do Evangelho
como vale também para os ministros de qualquer governo da face da Terra, para
os governantes em geral, para parlamentares, para qualquer dirigente político
que queira ser digno desse nome. Existem hoje políticos que aqueçam corações?
Não os vejo em parte alguma. Basta pensar na política que é o grande sucesso
eleitoral, a alemã Angela Merkel. Foi re-reeleita, é verdade, mas quer dizer
com isso que aquece corações? Não, testemunha a revista "Der
Spiegel": "Ela tem sido sempre mais uma mediadora qualificada do que
uma líder", analisou a revista, mesmo após o espetacular resultado
eleitoral da chanceler (..).
O bom pastor - e o bom político- não
precisa apenas aquecer corações, mas, sempre segundo o papa, deve ser parte de
uma igreja que "encontre caminhos novos, capaz de sair de si mesma e ir ao
encontro do que não a frequenta, daquele que se foi". Quem, no mundo, está
propondo caminhos novos de verdade? Reina tamanha mesmice! (..)
Desconfio que há muito mais fiéis
que se afastaram da política do que da igreja. Pena que, na política, não haja
um sumo sacerdote capaz de dizer que os reis estão nus.
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