O papa Francisco afirmou que a
Igreja Católica se tornou "obcecada" com a pregação contra o aborto,
o casamento gay e a contracepção. Ele escolheu deliberadamente não falar sobre
esses assuntos por entender que a Igreja deve ser uma "casa para
todos", e não uma "pequena capela" focada na doutrina, na
ortodoxia e em uma agenda limitada de ensinamentos morais. As declarações foram
dadas em uma entrevista concedida ao jornal jesuíta "La Civiltà
Cattolica". "Não podemos insistir apenas em assuntos relacionados ao
aborto, ao casamento gay e ao uso de métodos contraceptivos. Isso não é
possível", disse o papa.
Francisco admitiu que sofre
críticas por evitar tratar desses temas: "Eu não falei muito sobre essas
coisas, e fui repreendido por isso. Mas, quando tratamos sobre essas questões,
temos situá-las em um contexto. O ensinamento da igreja quanto a isso é claro,
e eu sou um filho da igreja. Mas não é necessário falar sobre esses assuntos o
tempo inteiro", acrescentou.
O papa disse ainda que "os
ensinamentos dogmáticos e morais da igreja não são todos equivalentes" e
que o ministério pastoral não deve ser "obcecado" com a transmissão
de "doutrinas desarticuladas que se tenta impor de forma insistente".
"Precisamos encontrar um novo equilíbrio, senão até mesmo o edifício moral
da igreja corre o risco de cair como um castelo de cartas, perdendo o frescor e
a fragrância do Evangelho", disse. "A proposta do Evangelho tem que
ser simples, profunda, radiante. É dessa proposta que as consequências morais
então fluem".
Francisco afirmou ainda que a
igreja deve ajudar a curar "todo o tipo de doença ou ferida". Ele
contou que, quando ainda estava em Buenos Aires, costumava receber cartas de
homossexuais que estavam "feridos socialmente" e que diziam sentir
que a igreja sempre os condenava. "Mas a igreja não quer isso. Durante meu
voo de volta do Rio de Janeiro [após a Jornada Mundial da Juventude, em julho
deste ano], eu disse que, se um homossexual tem boa vontade e está em busca de
Deus, eu não estou em posição de julgá-lo. A religião tem o direito de
expressar sua opinião a serviço das pessoas, mas, na criação, Deus nos fez
livres. Não é possível interferir espiritualmente na vida de uma pessoa".
Resumido de: Folha on-line, 19 setembro 2013
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