quarta-feira, 18 de maio de 2011

Casa da Teologia (1)



Veja o primeiro vídeo sobre o nosso Livro "Casa da Teologia", em entrevista no programa Religare, da TV Horizonte. Trata-se de uma obra de Introdução a Teologia, em perspectiva ecumênica e pastoral, escrita com Paulo Roberto Gomes (teólogo e pastoralista católico) e Susie Ribeiro (teóloga batista).

terça-feira, 3 de maio de 2011

Congresso da ANPTECRE

Nos dias 2 a 4 de maio acontece o III Congresso da ANPTECRE, Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Teologia e Ciências da Religião. Somos aproximadamente 350 professores e pós-graduandos de vários centros acadêmicos do Brasil, no campus da Universidade Mackensie, em São Paulo. Tema: Teologia e ciências da religião. Interfaces.
Na noite inicial, após uma bela apresentação do Coral da Mackensie, o teólogo espanhol José Maria Castillo discorreu sobre o tema central, a partir da teologia. Mostrou que tanto a teologia quanto a ciência da religião não falam de Deus, o inefável, mas somente das representações sociais de Deus. Ele mesmo somente se mostra em Jesus Cristo, que assumiu a carnalidade humana, seus limites e vissicitudes. A partir de Jesus, o acesso a Deus não se faz no âmbito religioso, mas sim ético. É neste horizonte da ética e da humanização é que se põe a possibilidade de interface entre teologia e ciências da religião.

Na primeira manhã, Pedro Ribeiro de Oliveira apresentou um breve histórico da relação entre teologia e ciências da religião a partir de sua experiência de atuação na sociologia da religião, a serviço de processos pastorais na Igreja católica, no horizonte da teologia da Libertação.

Além dos temas centrais, que serão apresentados durante as  manhãs, ganha destaque na ANPTREC a formação de 19 Grupos de Trabalho, que oportunizam comunicações e discussão sobre diferentes temas relacionados à teologia e às ciências da religião. Eu coordeno o GT 5, intitulado “Religião e Ecologia”, com 10 apresentações de distintas instituições de ensino superior. http://www.anptecre.org.br/3anptecre/gts/gt05.html

Veja mais informações e textos do evento em: http://www.anptecre.org.br/3anptecre/congresso/apresentacao.html

domingo, 1 de maio de 2011

Frágil lenho

Partilho com você o texto lúcido do colunista da Folha de São Paulo Carlos Heitor Cony, veiculado hoje no jornal. 

Frágil lenho

A palavra "navegar" é a mais perfeita comparação que se possa aplicar ao universo da informática, em especial, ao oceano sem fim da internet. Nem fica bem citar o Pompeu ("navegar é preciso"), que muita gente nem sabe quem foi, achando que a frase é de Fernando Pessoa ou de Caetano Veloso.

Mas navegar é uma das fronteiras do homem e, quando se dá o caso, a sua necessidade mais urgente. Se não houvesse o instinto, a inexorabilidade do navegar, ainda estaríamos na caverna, comendo carne de javali crua e puxando nossas mulheres pelos cabelos.

Camões foi quem melhor revelou o espírito (de porco) daqueles que condenam o navegar. O velho do Restelo, diante da armada de Vasco da Gama que partia para descobrir novos rumos para a humanidade, ficou pelo cais amaldiçoando aqueles que "colocavam uma vela sobre frágil lenho". Frágil lenho seria uma boa definição para um navio da era das navegações.

Pensando bem, a internet é um lenho ainda frágil. Depende de velas e ventos, encerra um mistério que abrirá caminhos -não necessariamente bons. Mas novos e surpreendentes.

Pertenço à parcela da humanidade que se formou antes do universo eletrônico. Poderia ficar pelo cais, murmurando imprecações contra os que partem. Nem sempre gostaria de partir, mas também não gosto da monotonia do cais, desprezando a problemática segurança da terra firme.

É o preço que pago por pertencer a uma geração que, em tão pouco tempo, viu a bomba atômica explodir e, logo em seguida, viu explodir a potencialidade da comunicação humana. Cada vez que abro o computador, tenho a impressão de que vou detonar uma bomba atômica que pode ser inofensiva, que nada ou muito destrói. Mas me introduz num mar desconhecido e muitas vezes macabro.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Homens e Deuses

Nesta semana santa, assisti o filme “Homens e Deuses”. Seguindo a recomendação da amiga e teóloga Maria Clara L. Bingemer e seu marido, fui ao cinema com o coração aberto, para ver o que Jesus me diria com este filme. Voltei extasiado e pensativo. A película, baseada em fatos reais, narra o fato de uma comunidade monástica de franceses que vivia como missionária na Argélia, numa pequena comunidade mulçumana. O perigo eminente de perseguição e assassinato, devido à corrupção do governo e a pressão de grupos fundamentalistas islâmicos leva a comunidade de 8 monges e se perguntar sobre o sentido de sua vida e de sua missão. E a reafirmar, com novo vigor, o compromisso assumido.

O filme testemunha algo que experimentamos também aqui na América Latina: o compromisso de vida de cristãos com a causa do Reino de Deus, a ponto de colocar em jogo a possibilidade da continuidade da existência. Na experiência de vida destes monges franceses ecoa o mesmo Espírito que mobilizou Dom Oscar Romero, Irmã Dorothy e tantos outros(as) testemunhas e mártires.

A cena que mais me tocou foi a ceia dos monges. Comem e bebem um pouco de vinho com alegria, contentamento e certa apreensão. Nela se pressentia a última ceia de Jesus, a festa que prepara o desenlace da vida entregue. Nestes homens concretos apresentados no filme, com fisionomias de medo e coragem, imbuídos do desejo de serem fiéis a Jesus, encarnando-se no meio dos pequenos, celebrei nesta semana santa o gesto de entrega de tantos homens e mulheres que vivem intensamente o seguimento de Jesus.

Mais do que um filme belo, “Homens e Deuses” é uma reflexão sobre a radicalidade da vida cristã hoje. Um estímulo para viver o mistério pascal. Recomendo que você veja o filme e comente com seus amigos(as).
Partilho aqui trechos da análise feita por Maria Clara sobre “Homens e Deuses”.

“Premiado em Cannes, o filme já alcançou uma bilheteria de três milhões, fato raríssimo no cinema europeu. Os jovens lotam as salas de exibição, fascinados pela história profunda e comovente daquela comunidade que há quinze anos, discerniu e decidiu ficar em Thibirine correndo risco de vida para não abandonar o povo do lugar, na sua grande maioria muçulmano, com quem havia feito uma aliança de vida e morte.
Cinematograficamente, estamos diante de uma obra de arte. A direção impecável de Xavier Beauvois vai conduzindo o espectador suave e firmemente ao longo da trajetória espiritual daquela comunidade que, em meio a seu cotidiano feito de oração, trabalho manual e vida cenobítica, é chamada a tornar concreta a entrega radical da vida já realizada ao pronunciar os votos religiosos.
A fragilidade de homens que têm medo e querem viver, tentados a ir embora dali e salvar sensatamente suas vidas vai sendo revertida pelo chamado de Deus e do povo argelino. Os frágeis homens então se agigantam, banhados pela luz da inspiração divina e pela paz da adesão à vontade d’Aquele que é o Senhor de suas vidas.

Ao longo de todo o filme, destaca-se a figura do prior – em grande interpretação de Lambert Wilson – que exercendo seu ministério de Abba-pai daquela comunidade, conversa com cada um, escuta, reza, ouve, sofre. (Ele) reforça em cada um de seus irmãos a coragem necessária para o sacrifício e o testemunho definitivos que virão. Na vida real, esse grande homem, Christian de Chergé, escreveu seu testamento espiritual sentindo a morte que se aproximava e deixou um legado de fé e estatura espiritual ao qual hoje o filme de Xavier Beauvois faz justiça. Alavancado pelo filme, seu diário encontra-se esgotado em várias livrarias francesas.
Homens ou deuses? Homens, certamente, mas que permitem que a graça divina os configure segundo a grandeza do próprio Cristo. Que a memória ardente destas testemunhas possa converter-nos. E encher nossa vida com um pouco mais de beleza e grandeza”.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

José Comblin: tributo ao teólogo-profeta

Inicialmente, conheci José Comblin através de seus escritos. Quando eu tinha 17 anos, chegou-me às mãos um pequeno livro, intitulado “O enviado do Pai”. Era uma reflexão sobre o Evangelho de João: profunda, instigante e acessível. Da mesma forma, li também outro livrinho sobre Jesus no Evangelho de Marcos. Fiquei fascinado com ambos. E me perguntava quem era aquele autor.
Quando comecei a participar das CEBs e das pastorais populares, ouvi falar do Padre Comblin. Dizia-se que ele era um grande teólogo (embora de baixa estatura), que havia organizado um processo de formação teológica original para a realidade rural, denominada “teologia da enxada”. No correr dos anos de atuação pastoral e formação teológica, li outras obras de Comblin. Dentre elas, destaco “Tempo do Espírito” e “História da Teologia Católica”. Passei a admirar este homem, que demonstrava ampla cultura geral e grande capacidade de articulação de informação. Seu jeito de escrever tinha também uma crítica apurada e por vezes irônica.

Finalmente, depois de tantos anos, conheci Comblin pessoalmente num Encontro Intereclesial de Comunidades Eclesiais de Base. E me encontrei com ele outras vezes em Assembléias da SOTER (Sociedade de Teologia e Ciências da religião). Durante o Forum de Teologia e Libertação em Porto Alegre, ficamos hospedados no mesmo espaço, e então conversamos sobre muitas coisas. Uma delas, que me recordo bem, era a ênfase sobre a necessidade de formar bem o laicato cristão, como forma de ajudar a superar o centralismo e o clericalismo.
Uno-me a tantos teólogos(as) do Brasil, no momento de sua morte, prestando tributo a este grande pensador. Que seu espírito de profecia se difunda na nova geração de homens e mulheres que pensam sobre a fé cristã. Amém!

quinta-feira, 17 de março de 2011

sexta-feira, 11 de março de 2011

Vida Religiosa e laicato

A parceria entre religiosos(as) e leigos(as) é uma realidade cada vez mais evidente e acontece em vários âmbitos. Recordemos alguns: a colaboração voluntária de ambos nas pastorais da Igreja, o envolvimento profissional de leigos em iniciativas formais dos Institutos Religiosos (obras), a participação de leigos e consagrados na espiritualidade herdada dos fundadores(as), a adesão explícita a um projeto de vida através dos votos ou de “novas formas de pertença”. Este fato suscita um temor e uma suspeita: a proximidade dos leigos poderia levar a uma perda de identidade, a um abandono das características próprias dos consagrados(as)? Então, é necessário refletir sobre o que temos em comum, quais nossas diferenças, e em que aspectos nos ajudamos como irmãos e irmãs no caminho do seguimento de Jesus. Estabelecer um diálogo implica reconhecer nossas raízes, o que nos distingue e o que podemos aprender uns dos outros.

Identidades em confusão?
Os teóricos que estudam o cenário atual dizem que vivemos num tempo de indefinição, perda de consistência, liquidez, confusão de identidades e diluição de contornos fixos. Isso é verdade também no que diz respeito às características diferenciadoras entre o leigo(a) e o consagrado(a).
Existe uma tendência visível nos leigos de “novos movimentos” e de associações laicais de assumirem diversos elementos que até então pareciam típicos da Vida Religiosa. Eles gostam de certo “perfil conventual”, semelhante ao modelo de vida consagrada anterior ao Vaticano II. Há uma forte identidade institucional. Os membros prestam obediência cega à autoridade e submissão à alta hierarquia da Igreja. Cultivam várias devoções e dedicam longo tempo à oração comunitária e à adoração ao Santíssimo Sacramento. Alguns rezam o ofício das horas de forma regrada, quase como uma obrigação. Predomina uma visão ambígua a respeito do corpo e da sexualidade. Algumas destas comunidades repetem o velho estilo de isolar-se para se consolidar. Dedicam-se à ação evangelizadora dentro dos espaços eclesiais. Em momentos de festas, preferem promover os “bailes cristãos”, onde se toca somente música religiosa. Fortalece-se a distinção entre “sagrado” e “profano”, a ponto de criar um perigoso dualismo. Estranhamente, de quem se espera uma presença mais forte “dentro do mundo”, para daí anunciar o evangelho, vem uma postura de “fuga do mundo” (fuga mundi!).

As “novas comunidades” se baseiam em muitos elementos da Vida Religiosa e a aplicam aos leigos. Assim, há “casais consagrados” e pessoas que fazem “profissão pública de consagração”. Formam-se ainda “comunidades de vida” de leigos celibatários, com estrutura de vida fraterna semelhante à de Institutos religiosos, com oração em comum, projeto comunitário e missão compartilhada. Em alguns casos, há até compromisso voluntário de partilha de bens, semelhante ao voto de pobreza.
Com a Vida Religiosa, acontece um deslocamento noutra direção. Vários consagrados e suas congregações assumiram algumas características do perfil laical, como expressão de encarnação do Evangelho no mundo atual. Há um amplo leque de manifestações desta opção: adoção de vestimentas e outras características externas mais adequadas ao nosso tempo, investimento na profissionalização, estilo de vida que valoriza as individualidades, ritmo cotidiano centrado nas exigências da missão e não na rotina conventual, participação efetiva em movimentos populares e monitoramento das políticas públicas, etc. Tudo isso é muito positivo, quando traduz um desejo legítimo de viver a consagração e a missão de forma inculturada.

No entanto, há outro fenômeno preocupante: a perda de mística nos consagrados e seus institutos. É bom deixar claro que esta diminuição do entusiasmo espiritual não se deve ao fato de os consagrados e suas instituições terem se modernizado e estabelecerem o diálogo com o mundo contemporâneo. Sair dos muros e ir em direção aos que necessitam da Boa Nova, especialmente os pobres, está na raiz do carisma fundacional de muitas congregações. Ir ao mundo é exigência do evangelho. O problema é quando o lado sombrio do mundo, que chamaríamos aqui de “mundano” entra imperceptivelmente na Vida Consagrada.
Seria necessário estudar melhor o que está acontecendo. Por hora, limitamo-nos a duas constatações. Acontece simultaneamente um laicismo, que atinge parte da Vida consagrada, e um formalismo religioso conservador e vazio, que atinge outro segmento. Em alguns casos, há uma clara secularização. As pessoas assumem acriticamente tantas características da vida moderna, a ponto de provocar um desgaste na sua identidade de religiosos. Consumismo, adoção de vida cômoda e burguesa, individualismo, perda de ritmo e de intensidade na oração comunitária, abandono da meditação, supervalorização da realização pessoal e do sucesso, descentramento da afetividade e da sexualidade... Tudo isso somado conduz a uma crise sem par da identidade religiosa.
Em outros institutos, especialmente os masculinos e clericais, existe também a perda do encanto com o seguimento de Jesus, mas ele está escondido por detrás do formalismo religioso. É um laicismo travestido. As pessoas parecem muito religiosas, mas são vazias. Retomam tradições do passado, mas essas não lhes proporcionam um processo de crescimento espiritual. Refugiam-se no ritualismo, nas vestes litúrgicas, nas pompas, mas o coração está vazio de Deus.

Quando falamos de um diálogo profícuo de identidades culturais entre religiosos(as) e leigos(as), não estamos pensando em confusão ou troca de papéis. E sim, numa colaboração que levará a uma melhor vivência de cada uma. Neste sentido, há muitos leigos(as) que estão próximos aos religiosos e são seus interlocutores privilegiados. Trata-se de agentes de pastoral e lideranças que atuam em comunidades populares e paróquias, voluntários, profissionais que trabalham nas instituições coordenadas por consagrados e associados a fraternidades leigas segundo os diversos carismas. Esta proximidade é enriquecedora para ambos. Vejamos alguns elementos que marcam a aprendizagem recíproca dos interlocutores, com suas respectivas estruturas de significação.

A raiz comum: seguir Jesus, como membro do Povo de Deus
Religiosos(as) e leigos(as) partilham da mesma vocação fundamental, pois todos são chamados a seguir Jesus. Enquanto peregrinos neste mundo de luta entre o Reinado de Deus e o anti-reino, são pessoas imperfeitas e pecadoras, mas também homens e mulheres tocados e transformados pela graça libertadora de Deus.

A sociedade contemporânea apresenta enormes oportunidades para crescer em santidade, como também terríveis possibilidades de vida medíocre, egoísta e auto-suficiente. A vida cristã se assemelha a um barco frágil, navegando no meio de um rio caudaloso. A correnteza pode ajudar a descer o rio em vista de seu destino, ou levar o navegante a se perder no meio das águas turbulentas. A grande maioria dos cristãos se contenta em ficar na margem, olhando o rio, sem se aventurar a entrar nele. Uma minoria destemida assume o risco de enfrentar a correnteza e seus redemoinhos, a fim de alcançar o outro lado. Religiosos e leigos, independentemente de seu estado de vida, podem ser corajosos e ousados remadores, medíocres expectadores ou então sucumbir à correnteza. Na verdade, cada um carrega em si, em diferente intensidade, o remador ousado, o expectador passivo e o náufrago desolado. Toda pessoa configura seu perfil predominante, a orientação fundamental, à medida que faz e refaz suas grandes opções no correr da existência.
No percurso da vida de fé, o cristão e a cristã sentem que Jesus chama: “Venham para o outro lado da margem”. Ele está conosco no barco, mesmo quando dá a impressão que adormeceu, e o medo toma conta de coração de seus discípulos. Nesta travessia, a presença de Jesus nos dá paz e alegria. Navegamos assim por águas tranqüilas. Outras vezes, a água está revolta. Assim é a vida cristã.

Ao estar no barco de Jesus, remando com Ele, o cristão cresce na fé, na esperança e na caridade. A luz de Deus ilumina sua existência com luz nova, a ponto de potencializar as qualidades, expandir as virtudes e integrar lentamente os aspectos sombrios e tenebrosos de sua psiquê. Neste sentido, a trilogia proposta pelos tradicionais votos religiosos vale para qualquer cristão, em sentido amplo. No processo de crescimento humano e espiritual, o seguidor(a) de Jesus é chamado a integrar a sexualidade com a afetividade, a lidar com o poder e a liberdade, a aprender a utilizar das coisas deste mundo sem se deixar dominar por elas. A santidade não é algo estranho ao humano, mas a plenificação das realidades terrestres, a partir de Jesus e do Reinado de Deus.

A fé cristã compreende aspectos pessoais (adesão a Jesus), comunitários (participar da comunidade de seus seguidores) e sócio-ambientais (colaborar para um mundo justo, solidário e ecologicamente sustentável). Também isso é comum a todos. E exatamente deste núcleo comum partem diferentes expressões, estados de vida e formas de ser cristão.
Na Igreja católica se configurou, no correr dos séculos, a clássica distinção dos três estados de vida, correspondentes à identidade de leigos(as), religiosos(as) e presbíteros. Ao consolidar a eclesiologia piramidal e clericalista, tratou-se de mostrar a superioridade do estado sacerdotal, pelo fato do presbítero (chamado então de “sacerdote”), ser o “dispensador da graça” pelos sacramentos. À vida consagrada se dedicou o título de “estado de perfeição”, demonstrando-se nos tratados de ascética e mística sua superioridade em relação aos leigos e leigos. Interessante observar como tal terminologia soa como estranha às outras Igrejas cristãs, advindas da Reforma Protestante. Ora, com a eclesiologia do Vaticano II, expressa sobretudo na Lumen Gentium recobrou-se a raiz comum da vocação cristã: todos somos membros do Povo de Deus!Todo batizado goza de igual dignidade!

Em sentido originante, o termo grego “laós”, donde provém a palavra “leigo”, indica que todos os cristãos são membros do Povo de Deus. E enquanto este povo vive no mundo, sendo sinal de Deus na história, isso também comporta uma dimensão de cidadania e de ecologia. Ou seja, todo membro do Povo de Deus é também cidadão de um país e do nosso planeta. Enquanto membro da Pólis (como diziam os gregos) e filho da Terra é chamado(a) a colaborar para a organização da sociedade humana e a sustentabilidade da teia da vida. E nenhum estado de vida anula estes compromissos vitais. Pode configurar diferentes formas de realizá-los, com maior ou menor ênfase. Mas é temerário ignorá-los, como se a adesão ao Sagrado lhe poupasse o fato de ser humano!

A resposta sobre a questão daquilo que é específico nos leigos(as) e nos consagrados(as) deve ser elaborada com cuidado e humildade, pois na sua caracterização se misturam fatores históricos, culturais, teológicos e espirituais. Alguns estão fortemente condicionados por uma eclesiologia hoje questionável. Portanto, não se trata de uma distinção rígida, mas antes de uma aproximação. E esta deve partir da raiz comum, que é ser membro do Povo de Deus e cidadão planetário.

Alguns traços da vocação leiga atual
Como já dissemos, a vocação leiga é, em primeiro lugar, a vocação de todo cristão: seguir Jesus, ser um sinal da luz de Deus neste mundo e fazer da vida uma peregrinação rumo à Trindade.
Como cristãos no mundo, leigos e leigas são chamados a viver o seguimento e a santidade em todas as instâncias da sociedade civil: o âmbito profissional, os espaços de construção da cidadania, a elaboração e difusão do conhecimento, o empenho pela sustentabilidade social e ecológica... Aqui reside a beleza e o desafio da vocação laical: colaborar efetivamente para que o “espírito de Jesus e do Reino” penetre na sociedade e nas suas estruturas, gerando vida “e vida em abundância”, sobretudo para os mais pobres. De forma breve, o traço predominante do leigo é viver o seguimento de Jesus na sociedade humana, no mundo.

Em segundo lugar, caracteriza a vocação leiga a missão de colaborar na edificação da comunidade cristã. Cresce em todas as partes o número de leigos que se engajam na evangelização como agentes de pastoral, catequistas, animadores de grupos bíblicos, membros de equipes de liturgia e de cantos, líderes de pastorais sociais da Igreja, evangelizadores na mídia, animadores de grupo de oração, coordenadores de pastorais e movimentos. Também é notória a presença crescente de leigos nos cursos de teologia, como alunos e professores. Ampliam-se as listas de “ministérios” e “serviços” desempenhados por leigos.
Os(as) leigos são a maioria absoluta da Igreja. Infelizmente, devido a séculos de clericalismo e concentração de poder, não exercem ainda o protagonismo que lhes compete, como batizados e membros plenos da comunidade eclesial. A conquista do protagonismo dos leigos na Igreja-comunidade exige a formação teórica (teologia), prática (pastoral), espiritual (acompanhamento) e a consolidação de estruturas participativas.

Do ponto de vista da vida afetiva, a vocação laical comporta uma série de opções. Equivocadamente, durante muito tempo se associou “leigo” a “matrimônio”, mas os termos não são sinônimos. É fato que a grande parte dos leigos escolhe constituir um projeto de vida numa relação estável e duradoura com um companheiro(a), ter filhos e educá-los. Trata-se de opção bela e exigente. Construir relações afetivo-sexuais de qualidade, na fidelidade, é um grande desafio para o nosso tempo. Os casais cristãos testemunham que o amor humano, vivido na sua carnalidade e reciprocidade, é caminho legítimo de santificação. E educar filhos numa sociedade plural e descentrada se torna tarefa cada vez mais complexa e exigente, além de exigir muitos anos. Para muitos leigos (e não todos) um elemento diferenciador é a relação familiar e os vínculos de consangüinidade.
Outros cristãos, por opção própria ou por condições adversas, não escolheram o matrimônio. Há ainda aqueles que não puderam permanecer numa relação duradoura, devido a dificuldades relacionais. E alguns não têm filhos. É preciso afirmar, com serenidade, que também eles vivem a vocação leiga no mundo.

Neste momento de crises de valores e de pluralidade religiosa, sustentar a fé e viver valores elevados não é algo tranqüilo nem fácil. As pessoas percebem que precisam estar juntas, para que seu barquinho não seja levado pela correnteza. Então, muitos cristãos leigos se associam em grupos, para reforçar a fé, nutrir a esperança e exercitar o amor fraterno-sororal. Isso acontece em comunidades eclesiais de base, em movimentos laicais com identidade específica, em associação de leigos, nas novas comunidades de vida e aliança, e nos movimentos criados e apoiados pelos religiosos. Embora seja um traço do nosso tempo, a adesão a determinado grupo com carisma e espiritualidade própria não é uma característica essencial do laicato, como o é para os consagrados. Trata-se de uma necessidade do momento, mas não constitui o cerne da vocação laical.
Partilhar a fé em comunidade se tornou uma necessidade crescente para leigos(as) engajados. Mas isso não implica viver sob o mesmo teto. O conceito de “comunidade” é mais amplo. Significa identificar-se com um grupo que partilha ideais semelhantes e cultivar o senso de pertença nele.

Algumas características dos consagrados(as)
A vida consagrada se caracteriza como vocação específica, resposta ao apelo de Deus configurada em determinada forma de vida, que é reconhecida pela comunidade eclesial como. Ser consagrado(a) significa se empenhar no seguimento de Jesus, de forma mais radical. Isso se traduziu, desde a caracterização dos três conselhos evangélicos no século XI, pelo compromisso de ser cristão na vivência da pobreza, da castidade e da obediência. Hoje se reconhece que a radicalidade ao seguimento de Jesus não necessariamente se traduz em votos ou profissão pública, nem é marca exclusiva dos consagrados. Os religiosos(as) professam publicamente esta orientação de vida e querem orientar sua existência para serem um sinal da prioridade do seguimento de Jesus.

Os consagrados, pelo fato de renunciarem à sua família biológica, tecem laços primários e mantêm vínculos afetivos com seus coirmãos e coirmãs. Eles são a sua nova família, à qual pertencem e da qual fazem parte. Assim se constituem relações fraternas e sororais, para além da consanguinidade. A vida religiosa quer realizar a proposta de nova família de Jesus: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que acolhem a palavra e a realizam”. Esta pertença à nova família não acontece inicialmente por uma opção de natureza afetiva, mas sim “carismática-fundacional”. As pessoas escolhem ser consagradas em determinado Instituto, que apresenta carisma, espiritualidade e missão próprias, configuradas a partir de seus fundadores.
Consagração, carisma e missão constituem assim uma tríade inseparável. Cada consagrado(a) vive o seguimento a Jesus, conforme o carisma de seu Instituto, a serviço da missão evangelizadora da Igreja. Com o tempo, o carisma do instituto à qual pertence molda os hábitos e influencia sua personalidade. O carisma impregna o jeito de ser, a espiritualidade e o fazer do religioso(a), sem anular suas características pessoais.

Um elemento tangível da Vida Religiosa é o ambiente comunitário e institucional que visa favorecer o crescimento da vida espiritual de seus membros. Várias práticas e procedimentos estão impregnados no cotidiano e chegam a fazer parte da rotina dos consagrados(as). Basta lembrar: a oração comunitária a cada dia, a eucaristia, a meditação pessoal da Palavra de Deus, as reuniões comunitárias de reflexão e partilha, os retiros anuais, a orientação espiritual, o projeto pessoal de vida, o exame diário ao final da jornada, a oração mariana. Isso os diferencia notadamente dos leigos, que têm um ritmo cotidiano centrado na dinâmica pessoal, familiar e profissional.
Em virtude da prioridade da consagração, os religiosos(as) mantêm em relação à sociedade civil uma postura de presença qualitativa e de distanciamento crítico. Embora situações excepcionais levem alguns a se destacarem como profissionais, políticos, líderes sociais e cientistas, não é isto que os caracteriza enquanto consagrados(as).

A sociedade moderna tem exigido o desenvolvimento da dimensão profissional em duplo sentido: capacitação para o exercício de determinada atividade e realização com qualidade e eficácia, superando o amadorismo. É importante que a Vida Consagrada assimile esta realidade. No entanto, tenha-se a consciência de que aí não está seu coração e nem o seu tesouro. Muitas vezes, os consagrados, quer individualmente, quer institucionalmente, assumem várias tarefas na sociedade civil, de natureza profissional, educativa, política, social, de negócios, de geração de conhecimento, de organização popular, etc. Tudo isso traduz e encarna a consagração e a missão. Mas não pode tomar o seu lugar. A prioridade reside no seguimento a Jesus, em ser sinal do Reinado de Deus. E isso deve ser realizado com humildade e espírito de serviço, para não dar lugar a qualquer forma de espírito de superioridade.

Um diálogo profícuo
O que os leigos oferecem aos consagrados? Em primeiro lugar, o testemunho da vivência do evangelho no cotidiano. Algumas lideranças leigas mostram que têm vida cristã mais radical do que muitos consagrados. Há casais que testemunham fidelidade e perseverança no amor de maneira extraordinária, estimulando as pessoas (leigas ou consagradas) a viverem estes valores na sua existência. Amadurecem no amor, resistem a grandes crises, enfrentam doenças e crises financeiras, negam-se a ceder aos assédios e às experiências superficiais. Nem sempre recebem dos filhos a gratidão e o reconhecimento que merecem. A fidelidade e perseverança no amor humano é sinal evangélico!

E o que dizer dos leigos(as) que trabalham profissionalmente durante a semana, administram sua casa, cuidam dos filhos e, nos finais de semana, destinam longas horas de dedicação voluntária à pastoral? São exemplos de vida para os consagrados no que diz respeito ao zelo apostólico.
Em relação aos consagrados, os leigos têm menos oportunidades de receber formação teológica e acompanhamento espiritual. Raramente podem dedicar uma semana ao ano para fazer um retiro. Surpreendentemente, sabem valorizar e multiplicar o pouco que recebem. Isso é uma enorme lição de vida para os consagrados.

No mundo do trabalho, os leigos são chamados a viver uma difícil tensão entre valores e resultados, ética e sucesso, espiritualidade e profissionalismo. Como estão mergulhados nas contradições deste mundo, devem amadurecer uma fé em diálogo constante com outras instâncias da complexa realidade humana. Quando dão conta de fazer isso, moldam modelos originais de santidade no mundo, integram realidades díspares, fazem o fermento do evangelho penetrar onde não havia chegado ainda.
Os consagrados(as) têm muito o que oferecer aos leigos, a partir da sua identidade. Continuam sendo um sinal evangélico de seguimento a Jesus, de forma radical. Esta radicalidade não deve ser entendida de forma exclusiva (como se não fosse possível aos leigos), nem como privilégio que os fazem melhores e mais santos do que os outros. A Vida Religiosa mantém algo de original, de belo, de atraente. Um consagrado(a) que assume seu projeto de vida com intensidade é uma referência cristã para o leigo(a) que busca viver intensamente sua fé.

Os institutos de consagrados constituem um “grupo diferenciado” que assume um estado de vida distinta da maioria da população. Essa diferença deve efetivamente significar “qualidade espiritual”, “prioridade para os valores do Reino”, “companhia na peregrinação na fé” para os leigos. A qualidade do sinal evangélico da Vida Consagrada não reside nas coisas externas, mas no seu significado, naquilo que simboliza e comunica, fala e deixa falar.
Os institutos religiosos, isoladamente ou em conjunto, têm uma sabedoria espiritual acumulada, que é rica e diversificada. Ela é necessária no atual momento de crise civilizatória, onde coexiste a indiferença religiosa dos afastados com a intolerância religiosa dos fundamentalistas. Basta pensar na mistagogia proposta pelos grandes fundadores(as) e reformadores, como Francisco e Clara, Bento e Escolástica, João da Cruz e Terezinha, Domingos, Inácio de Loyola e Charles de Foucault. A espiritualidade dos grandes fundadores(as) foi desenvolvida, adaptada e ampliada por outros tantos fundadores e fundadoras. Os consagrados devem partilhar esta riqueza com as lideranças leigas, que estão em processo de iniciação ou de aprofundamento da fé cristã.

Além disso, os religiosos recebem, no correr da vida, uma formação religiosa e teológica única. É momento de oferecer isso aos leigos, criando processos de formação conjunta. Precisamos multiplicar os multiplicadores.
Os diferentes carismas congregacionais sinalizam formas fascinantes de viver aspectos próprios do evangelho. Os religiosos(as) testemunham o carisma pelas suas atitudes, posturas de vida, jeito de trabalhar e de orar. Os leigos se identificam espontaneamente com determinados carismas e encontram neles algumas respostas às suas buscas existenciais e religiosas. Assim, os carismas congregacionais, testemunhados pelos consagrados, são um estímulo à prática da vida cristã, na sua diversidade.

Conclusão aberta
A crescente aproximação dos leigos às comunidades e aos Institutos religiosos se tornou uma oportunidade de consolidar identidades e estreitar a colaboração recíproca. Riscos existem e devem ser levados em conta. Mas não podem bloquear um caminho que descortina novos horizontes para a Vida Consagrada e também para o laicato.
Como vimos, leigos e consagrados têm muito que ensinar e aprender, uns dos outros. Só farão isso de forma adequada se assumirem a postura de aprendizes de Jesus (discípulos, seguidores) e companheiros de peregrinação na fé. Somos membros do Povo de Deus, cidadãos e filhos(as) da Terra. Nossas identidades estão em relação. Não temos certezas tão duradouras, como antes. No entanto, como o Povo de Deus no deserto, reconhecemos que o Senhor nos alimenta com o maná. Ele está ao nosso lado e à nossa frente. E cada dia, no provisório-definitivo, vamos consolidando nossas identidades.
Afonso Murad

Para refletir em comunidade:
Sugiro que este texto seja refletido com um grupo escolhido de leigos(as) que partilham a missão e a espiritualidade com consagrados(as).

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Manifesto de teólogos alemães pela mudança na Igreja

No início de fevereiro, um grupo de mais de 140 teólogos(as) alemães, suíços e austríacos lançou a público um documento, manifestando a necessidade de mudanças na Igreja católica. Apresento abaixo o núcleo deste texto, para sua reflexão e posicionamento.

(..) Como professores e professoras de teologia sentimos a responsabilidade de contribuir para um autêntico novo início: 2011 deve tornar-se um ano de virada e reconversão para a Igreja. Os desafios concretos com que a Igreja deve confrontar-se não são, de fato, novos. E, no entanto, não são visíveis as reformas que considerem o futuro. É necessário levar em frente um diálogo aberto nos seguintes âmbitos:

1.- Estruturas de participação: em todos os campos da vida eclesial a participação dos fiéis é a pedra de toque para a credibilidade do anúncio de liberdade do Evangelho. Conforme o antigo princípio jurídico: “O que diz respeito a todos, deve ser decidido por todos” são indispensáveis mais estruturas sinodais em todos os níveis da Igreja. Os fiéis devem ser tornados participantes na escolha de importantes “representantes oficiais” (bispos, párocos). O que pode ser decidido localmente deve ali ser decidido, e as decisões devem ser transparentes.

2.- Comunidades: as comunidades cristãs devem ser lugares nos quais as pessoas compartilhem bens espirituais e materiais. Mas, atualmente a vida comunitária está em declínio. Sob a pressão da falta de padres são construídas unidades administrativas sempre maiores – “paróquias extra-amplas” -, nas quais quase não podem ser vivenciadas a vizinhança e a pertença. É posto fim a identidades históricas e a redes sociais particularmente significativas. Os padres são “queimados” [pelo excesso de tarefas] e acabam se exaurindo. Os fiéis permanecem distantes se não lhes for dada a confiança de assumirem corresponsabilidade e de sentirem-se partícipes em estruturas democráticas na direção de suas comunidades. O ministério eclesial deve servir à vida de suas comunidades – e não o contrário. A Igreja também necessita de padres casados e de mulheres em serviço eclesial.

3.- Cultura do direito: o reconhecimento de dignidade e liberdade de todo ser humano mostra-se precisamente quando os conflitos são enfrentados de modo equânime e com respeito recíproco. O direito eclesial só merece este nome se os fiéis puderem fazer valer efetivamente os seus direitos. A defesa do direito e a cultura do direito na Igreja devem ser urgentemente melhoradas; e um primeiro passo nesta direção é a criação de uma jurisdição administrativa eclesial.

4.- Liberdade de consciência. Respeito pela consciência individual significa confiar na capacidade de decisão e de responsabilidade das pessoas. Favorecer e desenvolver esta capacidade é também tarefa da Igreja – mas, não deve transformar-se em personalismo. Reconhecer seriamente a liberdade de consciência é algo que tem a ver com o âmbito das decisões pessoais sobre a vida e o das formas de vida individual. A alta consideração da Igreja pelo matrimônio e pela forma de vida sem matrimônio está fora de discussão. Mas, ela não impõe que se excluam as pessoas que vivem responsavelmente o amor, a fidelidade e o cuidado recíproco numa união homossexual, ou como divorciados redesposados.

5.- Reconciliação: a solidariedade com os pecadores pressupõe que se leve a sério o pecado no próprio interior. Um pretensioso rigorismo moral não é adequado à Igreja. A Igreja não pode pregar reconciliação com Deus sem procurar ela própria no seu agir os pressupostos para a reconciliação com aqueles em relação aos quais se tornou culpada por violência, por violação do direito, pela inversão do anúncio bíblico de liberdade, numa moral rigorosa privada de misericórdia.

6.- Celebração: a liturgia viva da participação ativa de todos os fiéis. Nela devem encontrar espaço as experiências e as formas atuais de expressão. A celebração não deve enrijecer-se num tradicionalismo. A multiplicidade cultural enriquece a vida litúrgica e não pode conciliar-se com as tendências por uma unificação centralista. Somente quando a celebração da fé acolher situações concretas de vida o anúncio da Igreja atingirá as pessoas.

O processo de diálogo eclesial iniciado só pode conduzir à libertação e à mudança se todas as partes envolvidas estiveram prontas para enfrentar os problemas impulsores. Trata-se de procurar, numa livre e equânime mudança de argumentações, as soluções que conduzam a Igreja para fora de sua paralisante auto-referencialidade.
O medo jamais foi bom conselheiro em tempos de crise. Cristãos e cristãs, sejamos exortados pelo Evangelho a olhar com coragem para o futuro e – movidos pela palavra de Jesus – a caminhar como Pedro sobre as águas: “Por que tendes medo? É tão pequena a vossa fé?”

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Curso de Ecumenismo

Estou trabalhando com um curso intensivo para os alunos da graduação em teologia do ISTA (Instituto Santo Tomás de Aquino), em Belo Horizonte sobre ECUMENISMO.
Para mim, trata-se de uma grande oportunidade de ler sobre o assunto, pesquisar em livros, revistas e na Internet, discutir, abrir horizontes, questionar minhas próprias posturas.
Como professor, socializar meus conhecimentos e suscitar nos estudantes de teologia um olhar mais amplo, que consegue perceber o cristianismo para além das estreitas lentes da confessionalidade. E, sobretudo, estimular as pessoas a promover o diálogo ecumênico onde estiverem e atuarem.

Deixo espaço para que os estudantes de teologia se pronunciem: quais foram suas descobertas neste curso?